A exigência cinéfila micaelense de finais dos anos 20, exposta neste artigo de opinião — digno de primeira página! — de impressionante actualidade, sobretudo se tivermos em conta a presente oferta cinematográfica em Ponta Delgada: um multiplex de centro comercial, um cineclube e ocasionais sessões promovidas por diversas entidades.
A grafia é própria de outras épocas, mas o conteúdo não anda muito distante da realidade dos nossos dias...:
«A cinéfilia em Sam Miguel é ainda por emquanto uma função puramente sentimental. Os frequentadores do cinema são ainda somente aqueles que no cine encontram qualquer coisa que os comove ou que os diverte, que os faz rir ou faz chorar, que lhes afaga o coração ou lhes desopila o figado. Mera função sentimental ou orgânica. Frequentadores que busquem no cinema um significado artistico, capaz de sentir o que seja a "sinergia do movimento" como expressão plástica do Belo, são por emquanto raros em Sam Miguel: duas duzias, quando muito. E chego a esta conclusão porque observo, que são principalmente as classes pensantes e eruditas aquelas que menos se interessam entre nós pelo cinema. As classes populares são na verdade mais fiéis á frequencia dos cinematografos.
O cinema, com efeito, é essencialmente entre nós um passa-tempo... dominical. Vae-se ao cinema não pela "fita" ou pelo artista que a ilustra: vae-se ao cinema simplesmente... porque é domingo. Ao domingo qualquer palhaçada de Biscotin ou qualquer americanada de aventuras policiaes pode levar duas mil pessoas ao Coliseu; á quinta feira o trabalho assombroso de Mosjoukine ou de Jannings não leva mais do que cem pessoas ao Micaelense.»
Agnello Casimiro in O Açoriano Oriental, 26 de Janeiro de 1929, n.º4862, p.1
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