Breve resumo dos principais filmes visualizados esta semana:
. TAKE SHELTER
. MISS BALA
. O MUNDO NO ARAME
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. TAKE SHELTER (2011), de Jeff Nichols
Acossado por uma série de visões apocalípticas, Curtis (Michael Shannon) teme pela segurança da sua família e decide construir um bunker para protege-los de um futuro cataclismo... ou dele próprio.
De Sundance a Toronto, causou sensação em todos os festivais por onde passou, e esta tremenda metáfora ao espírito dos nossos tempos não merece outra avaliação que não seja a de magnífica obra de cinema. Mais do que o retrato da provável degeneração mental de um indivíduo, TAKE SHELTER coloca o protagonista como epíteto da Humanidade contemporânea: amedrontada, paranóica e confusa face às agressivas "manifestações" que a rodeia — e, no horizonte, tudo prenuncia a chegada de inimagináveis tempestades. Logo, não será por acaso que o próprio título do filme (numa tradução livre, significa "Procurem Abrigo") possua contornos de advertência...
Depois da sua auspiciosa estreia em HISTÓRIAS DE CAÇADEIRA (2007), Jeff Nichols volta a provar que é um dos nomes, a curto prazo, de menção obrigatória no que toca a complexas e poderosas narrativas sobre a condição humana. E aqui, conta novamente com um poderoso aliado chamado Michael Shannon (sempre extraordinário), numa composição que balança, admiravelmente, a pura contenção e o violento clamor. Na conjugação de um argumento que nunca se desmorona mesmo na iminência de enveredar por rumos emocionalmente arriscados, do seu pessimismo fundamentado e no uso de inteligentes efeitos visuais, TAKE SHELTER tem todos os factores para ser uma das principais obras a estrear, este ano, no nosso país. Obrigatório.
. MISS BALA (2011), de Gerardo Naranjo
Laura (Stephanie Sigman), jovem rapariga oriunda de um bairro de lata, sonha em ganhar um concurso de beleza e representar, a nível nacional, a sua região. Inesperadamente, vê-se envolvida na guerra implacável do crime organizado do México.
Comprovando que o actual cinema mexicano não "vive" apenas de Iñarritu, Cuarón, Del Toro ou Reygadas, Gerardo Naranjo imprime a sua marca num retrato visceral e confiante dos problemas que o seu país enfrenta pela permanente luta entre cartéis de droga, com o twist de colocar moda e beleza no centro desta análise sócio-económica cinematográfica. Tecnicamente brilhante — realce para uma sequência de tiroteio, que não só é determinante para o argumento como exibe a proficiência dos planos-sequência de OS FILHOS DO HOMEM (2006, Alfonso Cuarón) —, a sua mise-en-scène equilibra momentos de intensa violência com outros de calma instável, concebendo uma atmosfera omnipresente de que o pior (e os piores) pode manifestar-se a qualquer momento.
MISS BALA é notável na abordagem que faz a um tema quase tabu para as sociedades centro e sul-americanas, construindo cinema de cariz mainstream focado em assuntos de intenso relevo social e traçando um lúcido paralelismo entre aquilo que uma pretendente a top model tem de ceder para singrar na indústria e os níveis de corrupção existentes no seio de quem deve aplicar as leis de combate ao tráfico de droga. Thriller explosivo descomprometido, com destaque para Stephanie Sigman (por cuja personagem é impossível não nutrir simpatia) num retumbante início de carreira.
. O MUNDO NO ARAME (1973), de Rainer Werner Fassbinder
Num futuro próximo, um projecto informático, denominado de Simulacron, é capaz de simular a realidade. Quando o líder da invenção falece subitamente, o seu sucessor Fred Stiller (Klaus Löwitsch) começa a experienciar estranhos fenómenos sensoriais.
Originalmente concebido para exibição televisiva, agora com versão restaurada e disponível em home cinema por intermédio da Criterion, revela-se um épico produto de ficção-científica (e esta "catalogação" poderá ser enganadora) do seu tempo e da sua circunstância geográfica, ecoando a agitação política e social da RFA dos anos 70. E mesmo que não se insira no ambiente de drama histórico (como em O CASAMENTO DE MARIA BRAUN, 1979) ou da sensibilidade passional (AS LÁGRIMAS DE PETRA VON KANT, 1972) de Fassbinder, os seus temas de alienação e hostilidade humanas são aqui imediatamente reconhecíveis.
O MUNDO NO ARAME deixa muito por explicar, e até poder-se-ia falar num exagero de "meditações filosóficas" que sacrifica o desenrolar do argumento. Todavia, o seu ritmo sereno fornece ao espectador saborear a virtuosidade e audácia da câmara de Fassbinder, a opulência intemporal dos cenários e uma alma sci-fi que antecipa, em vários anos, aquilo que muitos espectadores só encontrariam, anos depois, em títulos como BLADE RUNNER — PERIGO IMINENTE (1982, Ridley Scott), MATRIX (1999, Wachowski) ou eXistenZ (1999, David Cronenberg). Obra visionária, em todos sentidos, à qual se recomenda urgente e firme descoberta.
domingo, fevereiro 05, 2012
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1 comentário:
Ainda não vi nenhum dos três filmes que aqui apresentas. Fiquei curiosa, especialmente acerca do primeiro.
Cumprimentos cinéfilos,
Inês
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