quinta-feira, dezembro 20, 2012

HOLY MOTORS (2012), de Leos Carax



24 horas na vida de Monsieur Oscar (Denis Lavant), um ente que se desloca de ser vivo para ser vivo, como um assassino solitário se desloca de vítima para vítima. Cada vida que possui tem uma identidade distinta: assassino, pedinte, presidente de uma grande empresa, criatura monstruosa, trabalhador, homem de família...

Torna-se claro que Monsieur Oscar representa e que se atira de cabeça para cada novo papel. Mas onde estão as câmaras, a equipa de filmagem, o realizador?
— filmspot.pt



Enigmático, bizarro, visualmente cativante e inconformado são adjectivos que poderão caracterizar HOLY MOTORS. Todavia, nada aqui se revelará inteiramente satisfatório nem cumprido, apenas sugerido em toda a parafernália referencial (sobretudo, pretende-se a reflexão ao estado actual do Cinema) com que Leos Carax preenche o estranho quotidiano do protagonista Monsieur Oscar. E o poder da sugestão (ou da auto-sugestão, no caso do espectador) pode ser um instrumento perigoso.

É-me impossível negar a afirmação de que HOLY MOTORS representa um dos títulos do ano. E não o nego por todas as altruístas e metafóricas intenções a que, aparentemente, se propõe: o olhar desencantado sobre uma arte corrompida por "monstros", dominada pelo digital e por uma "realidade virtual" que atrai mas não contenta, por «câmeras de filmar mais pequenas que as nossas cabeças», pela incapacidade de distinguir o belo do grotesco e pelo product placement que não poupa, sequer, campas mortuárias.

O problema? Não sustenta nem alimenta, no filme ou no observador, nenhum desses interessantes conceitos.







HOLY MOTORS resulta, portanto, no tipo de filme que, na forma, esconde o seu pretensiosismo através do experimentalismo e, no conteúdo, encantará estudantes de cinema e críticos enlevados (ou ainda indignados por ter sido tão veementemente sonegado pelo juri do último Festival de Cannes...) pela suposta genialidade que é aqui formulada.

Labiríntico pelo simples desejo de ser labiríntico, HOLY MOTORS nunca parece natural ou pouco esforçado nos seus misteriosos preceitos. Aliás, o único elemento que aqui se "move" bem é Denis Lavant: numa interpretação merecedora de reconhecimento público, é calma e fúria, alegria e tristeza, elegância e obscenidade de uma assentada só.

Exemplo máximo de auto-ambição desmedida, que destrói qualquer sentido. Inclusivamente, a ausência de sentido.

3 comentários:

Inês Moreira Santos disse...

A nossa opinião acerca deste filme é idêntica, com a diferença de eu me ter sentido mais desiludida que tu.

Excelente texto, como sempre, Sam.

Cumprimentos cinéfilos :*

Sam disse...

Sim, Inês, o nosso grau de descontentamento só dista uma estrela :P

Obrigado pelas palavras.

Cumps cinéfilos :*

Anónimo disse...

Pois é, também não achei aquelas coisas. De fato visualmente ele se destaca, mas de genialidade não vi nada!

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