quarta-feira, maio 29, 2013

O Cinema dos Anos 2000: The Fog of War: Eleven Lessons from the Life of Robert S. McNamara, de Errol Morris




As possibilidades de um homem como Robert McNamara ser fascinante objecto de estudo para um documentário poderiam afigurar-se mínimas. Nomeadamente por tratar-se de um tecnocrata assumido, um dos principais mentores do processo que levou aos indiscriminados bombardeamentos em massa sobre cidades japonesas durante a Segunda Guerra Mundial, Secretário da Defesa para os mandatos na Casa Branca de John F. Kennedy, Lyndon Johnson e Richard Nixon, e a quem foi dedicado o epíteto de "A Guerra de McNamara" para caracterizar o envolvimento militar norte-americano no Vietname. Contudo, THE FOG OF WAR: ELEVEN LESSONS FROM THE LIFE OF ROBERT S. MCNAMARA extravasa todos esses pressupostos.

Observar McNamara em pose de confissão, no indubitável estilo de Errol Morris de ter o seu "protagonista" olhos nos olhos do espectador, e a evocar as circunstâncias pivotais da sua longa carreira político-profissional, é um dos momentos de auto-revelação mais entusiasmantes e analíticos no Cinema dos Anos 2000. Figura pouco consensual entre a opinião pública norte-americana (devido, sobretudo, a algumas decisões militares por ele adoptadas), THE FOG OF WAR passa "a pente fino" o discurso íntimo (por vezes, demonstra-se um inusitado voz-off do filme) de McNamara com imagens de arquivo, documentos oficiais e gráficos explicativos, sem nunca parecer parcial ou acusador da personalidade que examina.

No fim, ficam revelações bombásticas de McNamara — como a sua opinião, a propósito da crise dos mísseis de Cuba, em 1962, de que o conflito nuclear foi evitado apenas por "pura sorte" — e a dicotomia Bem versus Mal nas suas memórias para a digestão do observador de THE FOG OF WAR. Assim como as onze lições referidas no título original, semelhantes a ditados extraídos de A Arte da Guerra, para a reflexão da História (seja ela revisionista ou não) e do veredicto das gerações futuras:

1. forme empatia com o inimigo;
2. a racionalidade não nos salvará;
3. existe sempre algo para além de nós mesmos;
4. maximize a eficiência;
5. a proporcionalidade deve ser uma directriz na guerra;
6. obtenha a informação;
7. acreditar e ver podem estar errados ao mesmo tempo;
8. esteja preparado para reexaminar o seu raciocínio;
9. para fazer o bem, por vezes há que fazer o mal.
10. nunca diga nunca.
11. não é possível mudar a natureza humana.

por Samuel Andrade.

Elenco (imagens de arquivo)
. Robert McNamara, Errol Morris, Fidel Castro, Barry Goldwater, Lyndon Johnson, John F. Kennedy, Nikita Khrushchev, Curtis LeMay


Palmarés
. Oscars da Academia: Melhor Documentário (Errol Morris)
. National Board of Review: Melhor Documentário (Errol Morris)
. Círculo de Críticos de Los Angeles: Melhor Filme Não-Ficção (Errol Morris)


Sobre Errol Morris

Cineasta incisivo e cativante nos temas (guerra, crime, direitos humanos) que aborda e inovador (criou o Interrotron, sistema tecnológico que revolucionou o processo de entrevista em filmes documentais) na abordagem técnica, os seus filmes permitem a observação contemporânea da História das sociedades urbanas através de pontos de vista que, a priori, poderiam assemelhar-se como meros fait-divers. Da sua filmografia, destacam-se THE THIN BLUE LINE (1988), A BRIEF HISTORY OF TIME (1991), FIRST PERSON (2000) e STANDARD OPERATING PROCEDURE (2008).





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