segunda-feira, junho 03, 2013

O Cinema dos Anos 2000: Os Sonhadores, de Bernardo Bertolucci




Paris, Primavera de 1968. Após o escalar dos eventos na Universidade de Nanterre, que culminou em confrontos com a administração e a polícia, greves irrompem em várias universidades e escolas de ensino secundário. Pouco depois, onze milhões de franceses instigavam mudança.

É através deste furor revolucionário que Isabelle, Theo e o recém-chegado Americano, Matthew, observam, da janela do seu luxuoso apartamento, um espontâneo país num troar libertino. Bernanrdo Bertolucci usa aquele que muitos historiadores e filósofos consideram o acontecimento revolucionário mais importante do século XX para oferecer um retrato elíptico sobre a evolução de um ideal de sociedade. E fá-lo subliminarmente, através de intelectualismo, retórica e cinema. Em instância última, esta carta de amor à génese da sétima arte, discute abertamente a contribuição literal e utópica do cinema para autoavaliação. Todavia, a narrativa evolve controversamente para um término de mensagem incerta, envolta num cinismo que indica a necessidade absoluta de evolução e maturidade individual antes da possibilidade de evolução colectiva. Existe, portanto, uma dicotomia na relação simbiótica entre cinema e sociedade, que se suportam mutuamente no pesar da consciência grupal. À imagem de uma sociedade instigadora de mudança, OS SONHADORES é, precisamente, essa história de uma juventude em autodescoberta, que Bertolucci explora, através das vicissitudes da vivência e da experimentação, a transição para a vida adulta. Pautado pelas notáveis interpretações de Eva Green, Louis Garrel e Michael Pitt, a procaz visão do cineasta italiano ganha uma força poética assente num urbanismo hedonista afim de uma reinterpretação da "verdade" no ecossistema de cada indivíduo.

OS SONHADORES, erroneamente divulgado pelo conteúdo sexual, é não só uma das mais importantes análises sociológicas gravadas em película, mas sobretudo um brilhante e complexo exercício de cinema como o olho do século.

por Filipe Coutinho (Cinema is my Life).

Elenco
. Michael Pitt (Matthew), Eva Green (Isabelle), Louis Garrel (Théo), Anna Chancellor (Mãe), Robin Renucci (Pai), Jean-Pierre Kalfon (O próprio), Jean-Pierre Leaud (O próprio)


Sobre Bernardo Bertolucci

Marxista convicto e, portanto, cineasta abertamente político, a sua obra — que se prolonga por mais de cinco décadas — é caracterizada pela constante observação da História do Século XX e, simultaneamente, influenciada pela sua própria experiência de vida. Da filmografia de Bertolucci, destacam-se ANTES DA REVOLUÇÃO (1964), O CONFORMISTA (1970), O ÚLTIMO TANGO EM PARIS (1972), 1900 (1976) e O ÚLTIMO IMPERADOR (1987, Oscar para Melhor Filme e Realizador).



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