quinta-feira, janeiro 28, 2010

5 Momentos Memoráveis

#8: 'FEMMES FATALES' PARA O SÉC. XXI



Uma foto promocional de Rita Hayworth (na minha opinião pessoal, o arquétipo definitivo da femme fatale) relativa ao filme GILDA (1946, Charles Vidor), ilustra este post dedicado a uma das personagens-tipo femininas mais icónicas na história do Cinema. Com fugazes aparições desde os primórdios da Sétima Arte (Theda Bara, Pola Negri, Lilian Gish, entre outras), a sua imagem floresceu no film noir dos anos 40 e 50, como a personificação dos receios masculinos após a Segunda Guerra Mundial relativamente à fidelidade das esposas e namoradas dos soldados norte-americanos durante a sua ausência. A definição de femme fatale é extensa: sedutora, manipuladora, inflexível em alcançar fins sem olhar aos meios. E quem fica a perder é, quase sempre, o protagonista masculino que se deixa enredar na teia destas implacáveis mulheres.

Actualmente, tudo parece indicar que a sua presença encontra-se em declínio — e não estou só nesta declaração. Encontramos os últimos resquícios da absoluta femme fatale com Sharon Stone em INSTINTO FATAL (1992, Paul Verhoeven) ou Linda Fiorentino em A ÚLTIMA SEDUÇÃO (1994, John Dahl).

Na primeira década do Século XXI, detectar exemplos desta mítica figura feminina representa uma árdua tarefa, reflectida na complexidade com que me deparei para formular este oitavo capítulo da rubrica «Momentos Memoráveis». Provável sinal dos tempos modernos, as seis referências que se seguem não invocam, à primeira vista, o perfil clássico da femme fatale na Sétima Arte, mas preservam o típico e quase indescritível fascínio que lhe está associado...

MENÇÃO HONROSA: Vesper Lynd, em CASINO ROYALE (2006), de Martin Campbell



Interpretada por Eva Green, Vesper Lynd é a homenagem recente mais bem conseguida à longa lista de femmes fatales que povoaram a saga James Bond desde os anos 60.

De uma beleza simultaneamente clássica e invulgar, Eva Green delineia uma das poucas 'Bond Girls' com profundidade psicológica, exalando uma personagem imprevisível e vulnerável em doses equitativas, transformando-a num "osso duro de roer" para o Agente 007. A atmosfera parece mudar sempre que Vesper Lynd "anuncia" a sua presença...



5. Geum-ja Lee, em SYMPATHY FOR LADY VENGEANCE — VINGANÇA PLANEADA (2005), de Chan-wook Park



Interpretada por Yeong-ae Lee, constitui a prova cinematográfica que femme fatale rima com "vingança", pois a protagonista Geum-ja Lee vive, durante todo o filme, controlada por esse louco ímpeto de desforra após sujeitar-se a treze anos e meio de encarceramento por um crime que não cometeu, de modo a garantir a sobrevivência da própria filha.

A angélica face de Geum-ja é puro fogo de vista: a sua libertação constitui o móbil para a deflagração, isso sim, de um "anjo vingador" forjado durante a quase década e meia que passou atrás das barras.



4. Maria, em CALL GIRL (2007), de António-Pedro Vasconcelos



Interpretada por Soraia Chaves — actriz que, no presente panorama nacional, é o exemplo acabado de uma femme fatale lusitana —, Maria é a peça central no suborno financeiro e sexual de um autarca, com o propósito de obter deste o aval necessário para a construção de um empreendimento turístico de contornos pouco lícitos.

De mero peão até ser rainha num "xadrez" de corrupção, esta call girl de luxo possui todos os recursos para lucrar com o esquema, iludindo criminosos e agentes da Judiciária com a mesma "arma" que qualquer femme fatale maneja inatamente: a eloquente sexualidade.



3. Julie, em SWIMMING POOL (2003), de François Ozon



Interpretada por Ludivine Sagnier, a inquietude e beleza emanada por Julie consegue perturbar tanto os egos masculinos (que "caem" facilmente na sua aura de sensualidade) como os femininos (nomeadamente, o da escritora representada por Charlotte Rampling que encontra escape para o seu bloqueio criativo no voluptuoso mas frágil carácter da jovem francesa).

No panorama europeu da última década, a figura de Julie sobressai como a perfeita miscelânea entre a femme fatale clássica e moderna: exibe o seu desprendimento romântico sob a forma de promiscuidade sexual; a sua sensualidade não é sugerida mas totalmente exibida; e o confronto verbal não se cinge apenas à guerra dos sexos, extravasando-o para a tensão inerente a divergências geracionais.



2. Laure Ash / Lily Watts, em MULHER FATAL (2002), de Brian De Palma



Interpretada por Rebecca Romijn, é, acima de tudo, a encarnação de uma amálgama das homenagens cinematográficas que perfilham a carreira de Brian De Palma. Desde a dupla identidade assumida pela protagonista (A MULHER QUE VIVEU DUAS VEZES, Alfred Hithcock) até à sequência inicial que retrata um assalto filmado quase sem diálogos (DU RIFIFI CHEZ LES HOMMES, Jules Dassin), essas referências conseguem ser tão interessantes quanto a femme fatale do título.

Do presente top, Laure Ash é o exemplo contemporâneo mais clássico deste género de personagens, constatação acrescida pela forma como transforma o simplório paparazzo Antonio Banderas na vítima mais impotente perante os planos de uma mulher em tempos recentes.



1. Nola Rice, em MATCH POINT (2005), de Woody Allen



Interpretada por Scarlett Johansson, é a típica "arrasadora" de felizes e prósperos lares burgueses. A vítima é o inglês Chris Wilton que, apesar do seu noivado assegurar-lhe estabilidade financeira e estatuto social vitalícios, cede aos encantos da norte-americana Nola Rice. Como em qualquer film noir que envolva paixões extra-conjugais, o final de MATCH POINT é azedo, mas contrabalançado pela imprevisibilidade de Woody Allen no tratamento da sua mais notória femme fatale.

Nola Rice arrecada o primeiro lugar desta lista não apenas pelas características físicas e psicológicas ostentadas, mas também por ser Scarlett Johansson a encarná-la, actriz que representa, sem dúvida, um dos principais sex symbols gerados nos "anos zero" do Século XXI.



6 comentários:

Maria Brandão disse...

previsível nº 1. essa scarlet mexe ctg :D

Sam disse...

:)

Maninha, é assim tão evidente? :)

Agora a sério, o top está elaborado com a máxima imparcialidade possível, e a Scarlett ocupa o n.º 1 tanto pelo seu papel em MATCH POINT como pelo estatuto que detém actualmente.

Obrigado pela tua visita.

Maria Brandão disse...

é, mas mesmo assim acredito na tua imparcialidade :)

Anónimo disse...

Por coincidência estão algumas aqui :
http://uma-por-dia-2010.blogspot.com/
Mas a melhor de todas as nomeadas pelo SAM é sem dúvida a Eva Green
visite-a em www.uma-por-dia-2010.blogspot.com
JL

The Advertiser disse...

Caro Samuel...

Um filme/documentário que ainda não vi mas sei que vou gostar muito de ver e, certamente, você também:

http://www.youtube.com/watch?v=hLfvmiB4edI

Os meus cumprimentos,
The Advertiser

Anónimo disse...

Спасибо понравилось !

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