O BORDEL DO LAGO (2000), de Kim Ki-Duk
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Uma rapariga muda (Jung Suh) vive isolada num lago transformado em resort piscatório, onde trabalha a vender isco, comida e, ocasionalmente, o próprio corpo aos turistas. A chegada à ilha de um pescador (Yoosuk Kim), fugitivo à polícia e com desejo de se suicidar, altera-lhe a rotina e, em breve, torna-se sua amante.
Guiado pela poderosa interpretação de Jung Suh, cuja personagem manter-se-à anónima e silenciosa até ao fim, O BORDEL DO LAGO é mais um exame de Kim Ki-Duk às relações humanas em contextos que têm tanto de idílico — a fotografia parece extraída de uma fábula romântica — como de horrendo surrealismo. O ritmo vagaroso funciona perfeitamente para a história, a qual ainda permite, ao espectador, segundas acepções. Excelente.
JOANA A SALVADORA (2005), de Kornél Mundruczó
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Joana (Orsi Tóth), uma jovem toxicodependente, entra em coma depois de um grave acidente. Os médicos do hospital de Budapeste salvam-na miraculosamente e, no momento em que esteve entre dois mundos, Joana adquiriu um poder divino, sendo capaz de curar doentes oferecendo o seu corpo. Mas quando ela rejeita as propostas amorosas do director do hospital (Zsolt Trill), este move-lhe uma perseguição sem tréguas.
Interpretação cinematográfica e musical da narração da paixão de Joana d'Arc, o seu impressionante trabalho visual, composto por planos-sequência e de cromagem saturada — a influência do produtor Béla Tárr nestas opções estéticas é por demais evidente —, não o salva de ser um filme apenas para quem aprecia o género musical (não é o caso por estas "paragens"), aqui levado a um extremo operático: a seriedade com que diálogos como «Vamos para a urologia!» são clamados não favorecem, pelo espectador, uma correspondência emocional idêntica.
RUÍNAS (2009), de Manuel Mozos
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Lugares que deixaram de fazer sentido, de serem necessários, de estar na moda. Lugares esquecidos, obsoletos, inóspitos, vazios. Não interessa aqui explicar porque foram criados e existiram, nem as razões porque se abandonaram ou foram transformados. Apenas se promove uma ideia, talvez poética, sobre algo que foi e é parte da(s) história(s) do nosso país.
Um olhar poético, saudosista e fragmentado sobre locais que já conheceram melhores dias — casas abandonadas, sanatórios, hotéis, até o Parque Mayer —, RUÍNAS dá-nos uma perspectiva diferente sobre o passado de Portugal, diferenciando-se de documentários semelhantes pela original narração que, através da leitura de correspondências, relatórios médicos ou receitas gastronómicas, invoca vivências, relações e costumes há muito perdidos. "Peca" por ter apenas sessenta minutos de duração.
RANGO (2011), de Gore Verbinski
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Rango (Johnny Depp) é um camaleão de estimação que, acidentalmente, vai parar a uma arenosa cidade no meio do deserto, habitada por extravagantes criaturas e onde a lei não existe. Recebido como a última esperança para a sobrevivência daquela cidade, é escolhido para xerife e forçado a descobrir os responsáveis pela crescente escassez de água.
Não existe propriamente nada de novo ou verdadeiramente original em RANGO (descontando o facto de tratar-se de um "western animado"), mas também é-se incapaz de esconder o gozo que as suas referências culturais — desde O BOM, O MAU E O VILÃO até Hunter S. Thompson — proporciona. Mas, numa análise geral, e com 2011 a assumir-se para a animação repleta de sequelas e spin-offs, este bem se pode revelar como um dos títulos mais interessantes do ano para o género.
HADEWIJCH (2009), de Bruno Dumont
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A força da fé de Céline (Julie Sokolowski) é posta à prova ao sair do convento, onde vive intensamente as suas convicções religiosas. Quando a jovem rapariga, filha de uma abastada e respeitada família, trava amizade com Yassine (Yassine Salime), um muçulmano fundamentalista, embarcará num percurso devoto incerto.
Caminhando por terrenos próprios de Carl Theodor Dreyer ou Robert Bresson, o estilo e temas são Dumont inconfundível. Contudo, o cineasta francês já se revelou mais perspicaz e incisivo na sua explanação, sobretudo pela ausência de convicção na mudança de "atitude religiosa" por parte da protagonista e da qual o sucesso do argumento está dependente, afectando um desenlace que alguns poderão, facilmente, qualificar de pretensioso. Realce para a frágil e aviltada Julie Sokolowski, assombrosa num desempenho de árdua profundidade emocional.
2 comentários:
Do Mundruczó adorei o Delta, este ainda não vi, mas já estou a tratar disso :)
Álvaro, este foi o meu primeiro contacto com Mundruczó e não foi dos melhores. É um musical e, pessoalmente, não sou grande fã do género... :)
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