segunda-feira, junho 20, 2011

Críticas da Semana

Breve resumo dos principais filmes visualizados esta semana.

O BORDEL DO LAGO (2000), de Kim Ki-Duk



Uma rapariga muda (Jung Suh) vive isolada num lago transformado em resort piscatório, onde trabalha a vender isco, comida e, ocasionalmente, o próprio corpo aos turistas. A chegada à ilha de um pescador (Yoosuk Kim), fugitivo à polícia e com desejo de se suicidar, altera-lhe a rotina e, em breve, torna-se sua amante.

Guiado pela poderosa interpretação de Jung Suh, cuja personagem manter-se-à anónima e silenciosa até ao fim, O BORDEL DO LAGO é mais um exame de Kim Ki-Duk às relações humanas em contextos que têm tanto de idílico — a fotografia parece extraída de uma fábula romântica — como de horrendo surrealismo. O ritmo vagaroso funciona perfeitamente para a história, a qual ainda permite, ao espectador, segundas acepções. Excelente.

JOANA A SALVADORA (2005), de Kornél Mundruczó



Joana (Orsi Tóth), uma jovem toxicodependente, entra em coma depois de um grave acidente. Os médicos do hospital de Budapeste salvam-na miraculosamente e, no momento em que esteve entre dois mundos, Joana adquiriu um poder divino, sendo capaz de curar doentes oferecendo o seu corpo. Mas quando ela rejeita as propostas amorosas do director do hospital (Zsolt Trill), este move-lhe uma perseguição sem tréguas.

Interpretação cinematográfica e musical da narração da paixão de Joana d'Arc, o seu impressionante trabalho visual, composto por planos-sequência e de cromagem saturada — a influência do produtor Béla Tárr nestas opções estéticas é por demais evidente —, não o salva de ser um filme apenas para quem aprecia o género musical (não é o caso por estas "paragens"), aqui levado a um extremo operático: a seriedade com que diálogos como «Vamos para a urologia!» são clamados não favorecem, pelo espectador, uma correspondência emocional idêntica.

RUÍNAS (2009), de Manuel Mozos



Lugares que deixaram de fazer sentido, de serem necessários, de estar na moda. Lugares esquecidos, obsoletos, inóspitos, vazios. Não interessa aqui explicar porque foram criados e existiram, nem as razões porque se abandonaram ou foram transformados. Apenas se promove uma ideia, talvez poética, sobre algo que foi e é parte da(s) história(s) do nosso país.

Um olhar poético, saudosista e fragmentado sobre locais que já conheceram melhores dias — casas abandonadas, sanatórios, hotéis, até o Parque Mayer —, RUÍNAS dá-nos uma perspectiva diferente sobre o passado de Portugal, diferenciando-se de documentários semelhantes pela original narração que, através da leitura de correspondências, relatórios médicos ou receitas gastronómicas, invoca vivências, relações e costumes há muito perdidos. "Peca" por ter apenas sessenta minutos de duração.

RANGO (2011), de Gore Verbinski



Rango (Johnny Depp) é um camaleão de estimação que, acidentalmente, vai parar a uma arenosa cidade no meio do deserto, habitada por extravagantes criaturas e onde a lei não existe. Recebido como a última esperança para a sobrevivência daquela cidade, é escolhido para xerife e forçado a descobrir os responsáveis pela crescente escassez de água.

Não existe propriamente nada de novo ou verdadeiramente original em RANGO (descontando o facto de tratar-se de um "western animado"), mas também é-se incapaz de esconder o gozo que as suas referências culturais — desde O BOM, O MAU E O VILÃO até Hunter S. Thompson — proporciona. Mas, numa análise geral, e com 2011 a assumir-se para a animação repleta de sequelas e spin-offs, este bem se pode revelar como um dos títulos mais interessantes do ano para o género.

HADEWIJCH (2009), de Bruno Dumont



A força da fé de Céline (Julie Sokolowski) é posta à prova ao sair do convento, onde vive intensamente as suas convicções religiosas. Quando a jovem rapariga, filha de uma abastada e respeitada família, trava amizade com Yassine (Yassine Salime), um muçulmano fundamentalista, embarcará num percurso devoto incerto.

Caminhando por terrenos próprios de Carl Theodor Dreyer ou Robert Bresson, o estilo e temas são Dumont inconfundível. Contudo, o cineasta francês já se revelou mais perspicaz e incisivo na sua explanação, sobretudo pela ausência de convicção na mudança de "atitude religiosa" por parte da protagonista e da qual o sucesso do argumento está dependente, afectando um desenlace que alguns poderão, facilmente, qualificar de pretensioso. Realce para a frágil e aviltada Julie Sokolowski, assombrosa num desempenho de árdua profundidade emocional.

2 comentários:

Álvaro Martins disse...

Do Mundruczó adorei o Delta, este ainda não vi, mas já estou a tratar disso :)

Sam disse...

Álvaro, este foi o meu primeiro contacto com Mundruczó e não foi dos melhores. É um musical e, pessoalmente, não sou grande fã do género... :)

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