sexta-feira, setembro 09, 2011
O 11 de Setembro visto pelo Cinema
Há dez anos, o mundo assistia, incrédulo, ao desenrolar dos atentados terroristas do 11 de Setembro, acontecimento pivotal que influenciou radicalmente o nosso quotidiano e uma constante lembrança do explosivo ambiente geopolítico contemporâneo.
Uma década depois, vários cineastas responderam de forma diversa - do "profético" até à descrição biográfica - ao 11 de Setembro. Nomes consagrados [Oliver Stone com WORLD TRADE CENTER, 2006) e Robert Redford com PEÕES EM JOGO (2007)], documentários incisivos [FAHRENHEIT 9/11 (2004, Michael Moore)] e visões ansiosas acerca do poder dos media perante uma tragédia [NADA A ESCONDER (2005, Michael Haneke)] perpeturaram e extrapolaram a memória dos acontecimentos daquele dia.
Seguem-se os cinco filmes, acompanhados de menção honrosa, que o Keyzer Soze's Place considera serem os melhores dedicados ao 11 de Setembro. E fica expressa a vontade de nunca deixar de ver o tema abordado pela Sétima Arte.
MENÇÃO HONROSA: THE SIEGE - ESTADO DE SÍTIO (1998), de Edward Zwick
É verdade que foi produzido três anos antes dos eventos do 11 de Setembro de 2001, mas THE SIEGE - ESTADO DE SÍTIO revelou-se, com o tempo e como poucos, um filme impressionantemente premonitório sobre o ambiente político e social dos EUA após os atentados e, por isso, merecedor de destaque em qualquer lista deste género.
Encenando devastadoras acções terroristas em plena Nova Iorque, abuso de poder militar, paranóia popular, sentimentos anti-Islão e perda de liberdades cívicas, proporciona, agora, uma perspicaz e muito inesperada reflexão sobre como a arte imita a vida... por vezes, mesmo antes de certos acontecimentos se concretizarem.
5. TERRA DA ABUNDÂNCIA (2004), de Wim Wenders
Um magnífico "postal" da América pós-11 de Setembro visto pela perspectiva de personagens: Paul (John Diehl), veterano da Guerra do Vietname cujo stress pós-traumático é reavivado pelos ataques terroristas, desenvolve as suas próprias teorias de conspiração acerca da comunidade islâmica a residir nos EUA; e Lana (Michelle Williams), sobrinha de Paul, que regressa ao seu país natal após uma longa estadia ausente em trabalho de missionária.
A insegurança e a paranóia têm feito parte do dia-a-dia dos norte-americanos durante os últimos dez anos, e TERRA DA ABUNDÂNCIA capta, na perfeição, essa realidade. Lana observa, abismada, as alterações no comportamento de uma população que ela julgava lhe ser familiar - e o final trágico do filme reforça os perigos acarretados pelo medo quase irracional.
4. UNITED 93 (2006), de Paul Greengrass
O realizador Paul Greengrass, através das mesmas técnicas que emprega para os seus filmes de acção, almeja imprimir suspense a uma série de acontecimentos cujo desfecho é de todos nós conhecido. Mas os seus protagonistas mais íntimos - ou seja, perpretadores, vítimas e profissionais obrigados a lidar com o 11 de Setembro - nem por isso.
O elenco recheado de virtuais desconhecidos para o grande público e a dinâmica teatralidade da reconstituição forçam o espectador a "desligar" a memória e observar o destino fatídico dos passageiros do United 93, neste que é um dos filmes definitivos para a compreensão do cinema norte-americano da última década.
3. ÀS CINCO DA TARDE (2003), de Samira Makhmalbaf
Situado no Afeganistão após a invasão do exército norte-americano, ÀS CINCO DA TARDE centra-se nas aspirações das mulheres afegãs perante a aparente restituição, no país, dos seus direitos cívicos. Nogreh (Agheleh Rezaie) ambiciona tornar-se na primeira presidente do Afeganistão; contudo, o cepticismo daqueles que a rodeiam e um futuro que se apresenta marcado pela força das armas ameaça o sonho da jovem protagonista.
Samira Makhmalbaf assina um filme extremamente ambíguo nas suas intenções, dividido entre o positivismo da queda do regime que apoiou os ataques do 11 de Setembro e a incerteza de um Afeganistão realmente livre e próspero. Sem dúvida, um óptimo objecto de reflexão acerca da visão ocidental pós-2001 em relação ao mundo árabe.
2. ESTADO DE GUERRA (2008), de Kathryn Bigelow
A Guerra do Iraque revelou-se como uma das consequências mais polémicas saídas do 11 de Setembro. E, rapidamente, a condição dos militares norte-americanos converteu-se no principal "rosto" daquilo que não ficou bem esclarecido acerca deste conflito.
ESTADO DE GUERRA assume-se como obra mainstream, exibe todos os mecanismos técnicos e narrativos de um filme de acção, mas é tremendamente preciso na descrição do inimigo combatido por milhares de soldados sob pretextos nunca devidamente justificados: invisível, que investe através de engenhos explosivos e letalmente eficaz. Temática e visualmente poderoso.
1. A ÚLTIMA HORA (2002), de Spike Lee
Embora o seu argumento não seja dedicado ao 11 de Setembro, as suas sequelas são experienciadas durante todo este complexo e inesquecível filme.
Filmado pouco tempo depois dos atentados, os efeitos da tragédia são evidenciados pela revolta da personagem de Edward Norton (que aqui apresenta uma das suas melhores interpretações) e, sobretudo, pela visão dos destroços do World Trade Center, dos cartazes de pessoas desaparecidas e dos inúmeros memoriais em tributo às vítimas - o sentimento de pesar no espírito dos intervenientes de A ÚLTIMA HORA é quase palpável.
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