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segunda-feira, julho 01, 2013

O Cinema dos Anos 2000: Noite Escura, de João Canijo




Antes do sucesso marcante de SANGUE DO MEU SANGUE (2011), NOITE ESCURA foi o mais importante filme de João Canijo e um dos mais brutais retratos de um Portugal sujo, sórdido, retrógrado e, para a maior parte de nós, escondido. A vida nas casas de alterne, cujo realizador pesquisou abundantemente, participando no filme algumas das alternadeiras que Canijo conheceu no processo, é concomitante com o Portugal retratado nos média, mas parece aqui um outro mundo, de violência e morte, de sordidez e redenção, de uma sobrevivência terrível e incestuosa em tons de vermelho escuro. Inspirado na Efigénia em Aulis de Eurípides, toda a sua ambiência de pesadelo é sustentada pelo aspecto lúgubre da casa de alterne, pela coexistência visual e sonora de campo e contracampo, pelos relatos reais que perpassam as cenas, pela interacção entre os tons de vermelho e negro e por um final exímio nos processos de catarse e pathos típicos da tragédia grega.

Coadjuvado pelo seu leque de actores tradicionais (Rita Blanco, Fernando Luís, Clélia Almeida), o mais parecido que temos com um grupo de actores à Fassbinder ou à Almodòvar, marca também o zénite, até ao momento, da carreira cinematográfica dessa fabulosa actriz que é Beatriz Batarda, aqui responsável por uma transfiguração que raras vezes (nunca?) vimos no cinema português. NOITE ESCURA era suposto ser o primeiro de uma trilogia de filmes sobre o Portugal profundo inspirada por tragédias gregas. Se o segundo filme foi em frente e redundou em MAL NASCIDA (2007), o terceiro, ao que se sabe sobre a máfia nacional, ficou por fazer, alegadamente por motivos orçamentais. Sobrou-nos este grande filme, dos melhores que Portugal viu na década passada.

por Miguel Domingues (Café e Cigarros, À Pala de Walsh e Letra 1).

Elenco
. Beatriz Batarda (Carla Pinto), Fernando Luís (Nelson Pinto), Rita Blanco (Celeste Pinto), Cleia Almeida (Sónia Pinto), Natalya Simakova (Irka), José Raposo (Nicolau)


Palmarés
. Globos de Ouro Portugal: Melhor Filme, Melhor Actriz (Beatriz Batarda)


Sobre João Canijo

Um dos cineastas portugueses mais versáteis da actualidade, a sua obra tem sido dedicada à observação das contingências sociais e psicológicas nacionais — o ênfase nas heroínas de FILHA DA MÃE (1990) e SANGUE DO MEU SANGUE (2011) —, com um olhar profundo sobre o passado — no documentário FANTASIA LUSITANA (2010) — e as vivências dos portugueses na diáspora — GANHAR A VIDA (2001).



segunda-feira, fevereiro 20, 2012

Agenda Cinematográfica

:: 9500 CINECLUBE DE PONTA DELGADA ::

TRABALHO DE ACTRIZ, TRABALHO DE ACTOR (2011), de João Canijo



Ao longo de um ano de trabalho, um grupo de dez actores e um realizador de cinema vão trabalhar em conjunto na criação das personagens e da estrutura do argumento do que virá a ser um novo filme. Em longas sessões de discussão, e depois de ensaios e sucessivas repetições, as cenas mais importantes dessa narrativa vão sendo desenvolvidas, até chegarem à sua forma definitiva, no filme que resultará deste trabalho.



Hoje, pelas 21h30, no Cine Solmar.

segunda-feira, novembro 07, 2011

Agenda Cinematográfica

:: 9500 CINECLUBE DE PONTA DELGADA ::

. FANTASIA LUSITANA (2010), de João Canijo



FANTASIA LUSITANA é um documentário que explora a relação do povo português com os estrangeiros refugiados da II Guerra Mundial, a forma como a sua estadia no nosso país influenciou (ou não) o nosso olhar sobre a guerra, e uma procura pela herança cultural deixada (ou não) pela sua passagem.

Uma leitura interpelante da história portuguesa do século XX construída inteiramente a partir de imagens de arquivo e da leitura de testemunhos desses refugiados nas vozes de Hanna Schygulla, Rudiger Vogler e Christian Patey.



Hoje, pelas 21h30, no Cine Solmar.

segunda-feira, outubro 31, 2011

A "Polémica" do Mês #5

Como a blogosfera cinéfila nacional divergiu, este mês, sobre SANGUE DO MEU SANGUE, de João Canijo.





«Uma obra-prima, o melhor filme de João Canijo, um dos grandes filmes portugueses de sempre.»
Tiago Ramos, Split Screen.



«Não saí da sala de cinema rendido. Saí satisfeito, contente pelo investimento num bilhete de cinema (cada vez mais caro!) para um filme português, mas não saí fascinado e extasiado como a grande maioria dos críticos de cinema em Portugal.»
João Samuel Neves, Dial P For Popcorn.



«Nota-se tanto o esforço interpretativo que chega a irritar esse perfeccionismo num filme sobre o amor incondicional, cenas de humilhação e violência.»
Daniel Curval, Num Filme de Godard.

domingo, outubro 16, 2011

Críticas da Semana

Breve resumo dos principais filmes visualizados esta semana:

. SANGUE DO MEU SANGUE
. MEIA-NOITE EM PARIS
. WHORES' GLORY
. É NA TERRA NÃO É NA LUA

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. SANGUE DO MEU SANGUE (2011), de João Canijo

Uma família de classe média, residente no Bairro Padre Cruz em Lisboa, vê a serenidade do seu quotidiano abalada, obrigando ao amor incondicional, sacrifício e redenção entre mãe (Rita Blanco), irmã (Anabela Moreira) e filha (Cleia Almeida).



Sem expor um argumento inteiramente original (há aqui muito de, por exemplo, Pedro Almodóvar ou Mike Leigh) nem desejando formular qualquer tipo de denúncia económico-social, Canijo consolida o seu estatuto de formidável inovador na observação de hábitos e costumes lusos. Apostando no realismo de cenários e personagens, a artificialidade encontra-se nos minuciosos planos-sequência do filme e num espantoso trabalho de sonoplastia que, muitas vezes, apresenta ao espectador três situações — naquilo que não resisto em apelidar de "tridimensionalidade de som" — a decorrer, em simultâneo, na mesma meia dúzia de metros quadrados.

SANGUE DO MEU SANGUE pertence, brilhante e irremediavelmente, às suas actrizes: impecáveis Rita Blanco (numa versão emancipada da sua Margarida Lopes na série televisiva CONTA-ME COMO FOI), Anabela Moreira e Cleia Almeida, sem temor do reconhecimento de culpa nem da humilhação perante um elenco masculino muito eficaz na composição de homens com "h" pequeno...

É o melhor filme português de 2011 — e pelo contexto temporal, dificilmente será destronado desse título.

. MEIA-NOITE EM PARIS (2011), de Woody Allen

Um casal (Owen Wilson e Rachel McAdams), prestes a casar, viaja para Paris e encontrará um conjunto de experiências que lhes muda a vida: ela reencontra um antigo professor (Michael Sheen); ele descobrirá a magia da capital francesa quando soa a meia-noite.



É o filme do "regresso" para Woody Allen. Não à sua nativa e querida Nova Iorque, mas ao brilhantismo na concepção de situações e diálogos como há muito não o víamos fazer. Desde a acutilante observação histórica de BALAS SOBRE A BROADWAY (1994), passando pelo surrealismo quase imperceptível de AS FACES DE HARRY (1998), até aos constantes dilemas da criação artística, expostos num argumento simples e sem pretensões de não ser mais do que uma comédia romântica.

O seu maior atractivo reside, sem dúvida, nos episódicos encontros do protagonista com figuras históricas que povoaram Paris durante os anos 20 — Hemingway, Dali, Fitzgerald —, os quais elevam o filme da mediania e tornam-no absolutamente inesquecível. Para rever.

. WHORES' GLORY (2011), de Michael Glawogger

Um tríptico cinematográfico sobre prostituição: três países (Tailândia, Bangladesh, México), três idiomas, três religiões, três realidades díspares onde o acto humano mais íntimo se transformou num objecto comercial... sujeito a negociação.



Poder-se-à falar de "documentário atmosférico"? Pois é essa a maior conclusão que se depreende de WHORES' GLORY. Não menosprezando os — corajosos e, portanto, impressionantes — testemunhos de quem exerce "a profissão mais velha do mundo", a realização de Glawogger concentra-se em demonstrar visualmente a complexidade e espírito de sacrifício inerentes à prostituição.

Filmado num estilo semelhante ao de um filme de ficção (nomeadamente, e na parte final, a completa e explícita interacção entre uma prostituta e o seu cliente que quase parece encenada), rejeitando qualquer tipo de solidariedade social e comparando, de modo pertinente, prostituição aos vícios da globalização, este revela-se como um dos documentários mais audaciosos, provocantes e verdadeiramente mind changing dos últimos anos. Muito recomendado.

. É NA TERRA NÃO É NA LUA (2011), de Gonçalo Tocha

Em 2007, um engenheiro de som e um cameraman chegam ao Corvo, a ilha mais pequena do arquipélago dos Açores. Gradualmente, são aceites pela população e descobrem 500 anos de civilização, cuja História é praticamente indecifrável e/ou inexistente.



Narrado a duas vozes, inefáveis em partilhar os momentos mais curiosos da sua rodagem, é uma obra singular e de constante descoberta, sem precipitar a revelação — os 180 minutos de duração comprovam-no... — das vidas e costumes dos 450 habitantes do Corvo, tão obscuros e distantes quanto a sua localização geográfica.

Apenas se lamenta que Gonçalo Tocha não tenha resistido em compor tantos postais turísticos da ilha do Corvo. Por mais bonitas que sejam, essas imagens revelam-se, a partir de certa altura, repetitivas e cansativas: e num filme com esta metragem, eis um pormenor deveras importante para a maioria dos espectadores. O interesse de É NA TERRA NÃO NA LUA encontra-se, isso sim, nos rostos, no português cerrado e na felicidade latente dos corvinos. Não poderia haver melhor pretexto para se querer visitar o Corvo.

segunda-feira, outubro 10, 2011

Agenda Cinematográfica

:: 9500 CINECLUBE DE PONTA DELGADA ::

. SANGUE DO MEU SANGUE (2011), de João Canijo



É um filme sobre o amor incondicional, o amor de uma mãe pela sua filha, o amor de uma tia pelo seu sobrinho. E de como elas estão dispostas a sacrificar tudo para os salvar...

Márcia é mãe solteira de dois filhos, trabalha como cozinheira e partilha a sua casa num bairro municipal com a irmã, Ivete, cabeleireira de centro comercial. Um dia, Cláudia, a filha, que estuda enfermagem e trabalha como caixa num supermercado, conta à mãe que se apaixonou por um homem mais velho e casado. Quando Márcia o conhece, percebe que uma ameaça gravíssima pesa sobre a sua família. Joca, o filho, é um pequeno traficante no bairro até que decide dar um golpe ao seu dealer, mas é apanhado e a sua tia Ivete terá que se sacrificar por ele para o salvar.



Hoje, pelas 21h30, no Cine Solmar.

domingo, dezembro 26, 2010

2010: Os Melhores

E chegamos à inevitável (e muito tramada!) época de balanço do ano que agora termina. Como já é tradição, deixo-vos com o Top 10 dos melhores filmes estreados em Portugal durante 2010, de acordo com o Keyzer Soze:

10º ex-aequo
UM HOMEM SINGULAR



A primeira experiência de Tom Ford como realizador é uma obra cinematográfica por excelência. A elaborada direcção artística funciona em prol do argumento, abundam os qualitativos pormenores de fotografia, montagem, guarda-roupa e maquilhagem a espelharem os estados de espírito das personagens e um Colin Firth assombroso na pele da personagem mais pesarosa que preencheu um grande ecrã este ano.



FANTASIA LUSITANA



Documentário que na análise da propaganda salazarista durante os anos da Segunda Guerra Mundial, mostrando a neutralidade de Portugal como um paraíso de paz no seio de uma Europa em devastador conflito, procura referências de comparação com o actual estado da Nação. No seu minimalismo de imagens e sons (o filme não tem narrador), João Canijo impele o espectador a tirar as suas próprias conclusões.




ANTICRISTO



A controvérsia gerada em Cannes — onde lhe foi atribuído um "anti-prémio" — era suficiente para se perceber que Lars von Trier não iria abandonar a sua infâmia muito própria. E, na verdade, o dinamarquês realizou um dos títulos mais poderosos do ano, uma obra-prima de grotesco cinematográfico. Willem Defoe e Charlotte Gainsbourg, sem medo da exposição ou do rídiculo gratuitos, mantêm o argumento (e o interesse de quem assiste) coeso de uma ponta à outra do filme.




O SÍTIO DAS COISAS SELVAGENS



O filme fantástico para todas as idades do ano — que me perdoem os fãs da ALICE de Tim Burton —, Spike Jonze desenvolve o conto infantil de Maurice Sendak e dá vida à sagaz imaginação de um rapaz de oito anos que se torna rei de uma ilha povoada por criaturas peludas (magníficas e realistas composições digitais) que demonstram idiossincrasias próprias dos adultos.




THIRST — ESTE É O MEU SANGUE...



Chan-wook Park prossegue a sua corajosa e original carreira com uma fresca abordagem ao (sempre em voga) mito do vampiro, mas sem abdicar dos motivos próprios do género, usando o tema — e um padre católico como protagonista — para dissertar acerca do que nos torna humanos. Capaz de se mostrar surreal, espirituoso, visceral e sensual numa única cena, foi dos filmes mais pujantes do ano.




TOY STORY 3



Não há uma única emoção que tenha ficado esquecida: da genuína alegria à honesta comoção e capaz de nos encantar pelo seu deslumbramento visual, nenhum espírito é suficientemente empedernido para deixar de se convencer da maturidade artística alcançada pela dupla Disney/Pixar. A trilogia que definiu a animação concebida por computador encerra com genial chave de ouro.




LÍBANO



Desde O RESGATE DO SOLDADO RYAN que nenhum filme colocava o espectador tão intimamente na linha de fogo dum conflito armado. Totalmente situado no interior de um blindado que acompanha quatro soldados israelitas durante a Guerra do Líbano, em 1982, esta é uma obra de criativa audácia, rigorosa seriedade moral e, acima de tudo, uma experiência cinematográfica inesquecível. Ou tudo aquilo que um war movie deve ser.




A ORIGEM



O padrão de como um blockbuster deve apresentar-se: visualmente atraente, narrativamente inteligente, profundamente envolvente e totalmente satisfatório. Na verdade, existem poucos adjectivos para louvar a dimensão aplicada a um argumento que assume diversos riscos — quer na sua coerência como na capacidade de gerar receitas de bilheteira — do princípio ao fim das suas duas horas e meia de duração.




UM HOMEM SÉRIO



Novo e curioso estudo dos irmãos Coen sobre o absurdo da condição humana, o seu sereno formalismo para explorar uma narrativa freneticamente surrealista torna-o numa das obras mais originais do ano. Impecavelmente filmado, arranca um fabuloso registo de contenção e desespero latente de Michael Stuhlbarg e o seu final ambíguo é susceptível de mais prazer que frustração cinéfila.




CANINO



Este foi, definitivamente, o principal "OVNI" cinematográfico a estrear no nosso país. Reconstituindo temas clássicos que vão desde a história de Adão e Eva até à Alegoria da Caverna (e estas são algumas das interpretações possíveis), a sua peculiar apresentação de condicionamento e livre arbítrio humano tanto pode ser visto como terror absurdo ou comédia atroz. Certo é ser dos filmes mais originais e exigentes do ano.




O ESCRITOR FANTASMA



Um thriller como já não se produz nos dias que correm, Roman Polanski colmata a ausência de explosões ou sustos construindo a sua ameaçante imagem de marca, apostando na contenção de personagens (um elenco formidável), ambiências hostis (nem a Natureza é apaziguadora) e uma economia narrativa (veja-se como um GPS "ajuda" ao desenrolar dos acontecimentos) que poucos alcançam. O cinema clássico puro está vivo!



Concordam? Discordam? Façam-se ouvir!

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