Barnabas Collins (Johnny Depp), o mestre da mansão Collinwood, é rico, poderoso e um playboy inveterado. Até que comete o grave erro de partir o coração a Angelique Bouchard (Eva Green), uma bruxa que amaldiçoa-o com um destino pior que a morte: torna-o num vampiro e enterra-o vivo. Dois séculos depois, Barnabas é inadvertidamente libertado do seu túmulo e emerge num mundo muito diferente do seu, no ano 1972.
Quando Tim Burton opta pela aproximação estrita e totalmente comercial, o resultado final é, quase sempre, algo de genial em teoria mas "agridoce" na prática.
SOMBRAS DA ESCURIDÃO, adaptação de uma série televisiva norte-americana dos anos 60, demonstra-o na perfeição, alicerçando o argumento em humor ligeiro, mecanismos de slapstick e numa abordagem da sexualidade das personagens arriscada mas sempre inofensiva (em particular, gargalhadas à custa de sexo oral e uma sequência de paixão literalmente arrasadora entre Johnny Depp e Eva Green).
Se a sua fisionomia narrativa não consegue elevar o filme da mediania (espera-se que SOMBRAS DA ESCURIDÃO tenha constituído, para Burton, o "aquecimento" ideal com vista a FRANKENWEENIE), visualmente é impossível apontar-lhe defeito, muito embora os motivos predilectos do realizador sejam, desta feita, substituídos por intermináveis referências culturais modernas — até Alice Cooper tem direito a um hilariante cameo...
E, cada vez mais, se compreende a importância de Johnny Depp colaborar tão regularmente nos projectos de Burton. A sua composição é tão cinematográfica (alguém andou a estudar afincadamente o NOSFERATU de Murnau...) quanto pessoal: Barnabas Collins tem lugar cativo e imediato no rol de inadaptados encarnado pelo actor, dentro ou fora do universo burtonesco.
Os fãs de Tim Burton poderão ficar animados e/ou desiludidos. Para os restantes, trata-se de uma proposta recomendada mas não obrigatória.
A propósito da estreia, esta semana em Portugal, de SOMBRAS DA ESCURIDÃO, o Keyzer Soze arrisca o exercício de desconstrução da carreira de Tim Burton em cinco sequências, acompanhadas da sempre obrigatória menção honrosa, para exemplificar a natureza do cinema de um dos autores que, centrado em mundos fantásticos, personagens excêntricas e na vincada dicotomia mundano versus irreal, perfilou uma das obras mais icónicas das últimas três décadas.
Ao adaptar um conto de Washington Irving, um dos mais conhecidos e estudados na cultura anglo-saxónica, Burton desenvolveu aquele que terá sido o seu maior pico de forma narrativa e visual, revelando-se este filme como obrigatório para fãs do universo do realizador.
A narração minuciosa das origens e destino do cavaleiro mencionado no título transporta-nos ao passado através da curiosa analogia visual entre as labaredas de uma lareira e o fogo que consome a floresta da batalha, de onde emerge, apropriadamente demoníaco, Christopher Walken num dos papéis mais radicais da sua carreira.
É quase impossível enumerar todas as influências (film noir, estética gótica, humor negro, expressionismo alemão, a própria banda desenhada criada por Bob Kane) que Burton emprestou à sua visão do vingador solitário de Gotham City. Mas mais impressionante que a escolha de Michael Keaton para encarnar Batman, foi observar Jack Nicholson na pele do Joker.
Mais cartoonesco do que se poderia imaginar para um filme em imagem real, mas absolutamente plausível no seio de um universo oriundo de banda desenhada, Nicholson alia a maquilhagem do palhaço, o "charme" do gangster, uma gargalhada cavernosa e algumas partidas de mau gosto para conceber este tenebroso e hilariante resultado final.
O romance no cinema de Tim Burton foge, completamente e pelos seus atributos estéticos, aos padrões de Hollywood. EDUARDO MÃOS-DE-TESOURA (1990) demonstrou-o bem — a história de um ser humano fabricado e, pela morte do seu criador, incompleto mas capaz de encontrar amor genuíno.
No seio desse desígnio, estão as constantes fantasia e ironia burtonescas, que infundem quotidianos reconhecíveis de elementos surpreendentemente oníricos. E, a julgar por esta surpreendente e peculiar definição de "amor à primeira vista", o mesmo se adapta aos mais puros sentimentos românticos.
No seu filme menos "fantasioso", Burton também aposta no ocasional momento de imaginário. Neste que é o único biopic da sua carreira, nostalgicamente rodado a preto e branco, reclama-se uma série de ideais cinematográficos (paixão, inocência, o cinema pelo cinema) difíceis de descobrir nos nossos dias.
Esses méritos são personificados pela encenação do encontro fortuito (do qual não existem quaisquer registos de que alguma vez tenha ocorrido) entre Orson Welles e Ed Wood — respectivamente, e segundo os historiadores, o melhor e o pior cineasta de todos os tempos. Se a qualidade do cinema produzido por ambos era completamente díspar, esta sequência almeja sugerir uma partilha de aspirações artísticas. E em vez de Welles ou Wood, essa vontade poderia muito bem ser expressa pelo próprio Burton, um autor que também sofreu constrangimentos impostos pelos "moneymen"...
Mistletoe can be deadly if you eat it, but a kiss can be even deadlier if you mean it. Sem dúvida! Com Tim Burton, uma obra artística direccionada para públicos juvenis (as personagens criadas por Bob Kane é exemplo máximo disso) pode assumir, como aqui se demonstra, contornos de violência física, ambiguidade verbal e eminentemente eróticos.
A desconstrução de imagéticas populares é motivo recorrente na obra de Burton — basta lembrar as presenças constantes do Natal ou do Halloween nos seus filmes —, mas tal, em nenhum outro momento, foi tão longe como este rendez-vous entre Batman e Catwoman. Memorável para o espectador, problemático junto da Motion Picture Association of America. O filme ressentiu-se crítica e financeiramente, mas tal não nos omitiu esta cena fabulosa.
Não é preguiça nem ausência de imaginação que me faz reiterar este título na presente lista. Tal acontece por causa deste momento memorável, um portento visual único, capaz de englobar todas as características do realizador: o sobrenatural como motor da acção, a paleta de cores nocturna e inundada de sombrios contrastes, o design gótico do cenário, a presença de um olhar infantil amedrontado, a banda sonora de Danny Elfman (colaborador regular de Burton) plenamente realçada, o Halloween e outras criaturas míticas recriadas por um brinquedo de criança... Material inconfundivelmente burtoniano.
Esta sequência possui um pequeno spoiler, mas está longe de ser prejudicial para quem não conhece o filme. Contudo, merece ser revista vezes sem conta. Se não for pelo ritmo viciante da mesma, que seja pela detecção de inúmeras nuances recorrentes na filmografia de Tim Burton.
Com INIMIGOS PÚBLICOS, Michael Mann retoma o seu estatuto de cineasta maior (a par de Scorsese) na concepção de gangster movies, género cinematográfico intrinsecamente norte-americano e cujos mecanismos primários estão profundamente enraizados no imaginário de todas as faixas etárias de espectadores.
Mas Michael Mann, por sua vez, detém estilos de filmagem e narrativos muito próprios, numa carreira que nunca se ancorou a um género específico. Mann abordou o thriller (MANHUNTER, 1986), o histórico (O ÚLTIMO DOS MOICANOS, 1992), o semi-documentário de intervenção (O INFORMADOR, 1999), o biopic (ALI, 2001) e, com proeminência, o noir moderno (HEAT — CIDADE SOB PRESSÃO, 1995 e COLATERAL, 2004) — e em INIMIGOS PÚBLICOS, o cineasta reúne, pela primeira vez, todas as temáticas que marcaram o seu percurso de quase 30 anos, ao mesmo tempo que nitidamente homenageia obras seminais da Sétima Arte que representaram o confronto entre criminosos gerados pela Depressão e a Lei Seca e os G-men dos primórdios do FBI.
Os elementos das origens deste período tenebroso e fascinante da História dos Estados Unidos da América são fabulosamente expostos em INIMIGOS PÚBLICOS, sem dúvida um título atípico para esta altura do ano (afinal, Agosto não é o mês do 'filme-pipoca'?), pois "obriga-nos" a reflectir acerca de motivações dos personagens, a unir linhas narrativas paralelas, a recordar o papel de figuras que surgem esporadicamente durante 140 minutos de película e a ultrapassar a introdução, neste género cinematográfico, do elemento revolucionário mas "distractivo" que é o uso das câmaras digitais de alta definição — mas sobre este pormenor falarei mais adiante...
Baseado no livro «Public Enemies: America's Greatest Crime Wave and the Birth of the FBI, 1933–34», por Bryan Burrough, INIMIGOS PÚBLICOS centra-se na lenda de John Dillinger, um dos criminosos mais famosos dos anos 30, que se dedicou aos assaltos a bancos e fugas de penitenciárias (algumas caracteristicamente mirabolantes) durante uma década até à sua execução pelo FBI à saída de um cinema de Chicago. Exibindo a mesma irrepreensibilidade quando encarna um ser mecânico inacabado (EDUARDO MÃOS-DE-TESOURA, 1990) ou um barbeiro sanguinário (SWEENEY TODD, 2007), Johnny Depp está impecável num exercício de contenção e encanto para representar o mediático Dillinger que os jornalistas da época descreveram e o herói de uma época de desespero que o tempo se encarregou de fabulizar.
Do outro lado da barricada, o espectro da lei denomina-se Melvin Purvis, um oficial em rápida ascensão no FBI e que cedo é nomeado por um jovem e ambicioso J. Edgar Hoover (Billy Crudup, o Dr. Manhattan em WATCHMEN — OS GUARDIÕES, consegue inegável protagonismo num papel de esporádica presença) para deter Dillinger e o seu bando. Christian Bale está seguro na unidimensionalidade que lhe é exigida, visto Melvin Purvis surgir como o oficial de justiça rigoroso e emocionalmente impassível desde a sua primeira aparição — em que diligentemente abate «Pretty Boy» Floyd — até ao sair de cena, desaparecendo, anónimo e com aquele semblante próprio de dever cumprido, entre a multidão sequiosa de ver o cadáver de John Dillinger.
Também é conferido espaço à vida pessoal e romântica de Dillinger, o qual apaixona-se por Billie Frechette e esta, "arrastada" pelo seu charme incisivo, deixa-se levar pela "viagem" que o gangster lhe oferece. Marion Cotillard demonstra eficácia numa interpretação corajosa que poderá não ser imediatamente reconhecida, já que Frechette é uma mulher que prevê o destino trágico de Dillinger mas permanece sempre a seu lado, mesmo que tal resolução custe a perda da sua dignidade humana e liberdade.
Numa análise final, INIMIGOS PÚBLICOS sobressai por tratar-se de uma nova experiência visual do gangster movie proporcionada pelas câmaras de alta definição que Michael Mann tem adoptado desde COLATERAL — uma decisão que revela as potencialidades deste instrumento para o Cinema actual e futuro. Graças à alta definição, a textura de sequências como a do ofegante tiroteio nocturno nos meandros de um bosque (talvez a melhor do seu tipo desde o clímax de L.A. CONFIDENCIAL) entre os aliados de Dillinger e os homens de Purvis nunca teria sido alcançada em película, assim como a profundidade de campo para os enquadramentos baseados em composições arquitectónicas, tão queridos de Mann, nunca ganharia a relevância aqui exibida.
Seria fácil utilizar o substantivo "virtuoso" para qualificar INIMIGOS PÚBLICOS, mas sou da opinião que não é esse o caso presente. Bem pelo contrário, Mann reinventa o género sem abdicar dos seus mecanismos clássicos, estabelecendo padrões que, aposto, iremos ver referenciados em próximos filmes.
Mas, no meio de tanta técnica, temos o (cada vez mais) infalível Johnny Depp. Alguma crítica referiu "ausência de química" entre o seu Dillinger e Marion Cotillard. Até pode ser verdade, todavia Depp é um actor com quem outros performers ficam sempre bem. E eis a prova de que o Cinema é, sem dúvida, uma arte visual, mas potenciada por seres de carne e osso.
«Here is a film that shrugs off the way we depend on myth to sentimentalize our outlaws.» Roger Ebert, Chicago Sun-Times.
«It's movie dynamite.» Peter Travers, Rolling Stone.
«Overall impact is muted. Oddly, too, the film is somewhat shortchanged by its great star, Johnny Depp, who disappointingly has chosen to play Dillinger as self-consciously cool rather than earthy and gregarious.» Todd McCarthy, Variety.
«Michael Mann’s PUBLIC ENEMIES is a grave and beautiful work of art.» Manohla Dargis, New York Times.
«Ultimately an odd blend of frustrating and satisfying.» Stephanie Zacharek, Salon.com.
Tim Burton dedicou vários anos à preparação do seu remake de 'Alice no País das Maravilhas', que conhecerá estreia mundial em Março de 2010. Pela mão da USA Today, o mundo cinéfilo (e não só...) pode espreitar fotos de produção e, tal como é plenamente visível, são absolutamente fabulosas — um afastamento total do visual obscuro que o cineasta nos habituou.
Neste momento, o filme encontra-se em pós-produção *, nomeadamente a integração das sequências de imagem real com as personagens criadas através de motion-capture e, depois, convertido para 3-D.
Na foto acima, podemos observar os aspectos de Johnny Depp como Chapeleiro Louco, Helena Bonham Carter como A Rainha de Copas e Anne Hathaway como Rainha Branca.
E eis uma cena em que Alice, interpretada pela semi-estreante Mia Wasikowska, caminha por um jardim de rosas faladoras, à entrada de uma floresta recheada de cogumelos gigantes...:
... o primeiro encontro entre Alice e O Coelho Branco, interpretado por Michael Sheen:
Mickey Rourke não resistiu à tentação de amplificar a sua "monstruosa" criação de Randy «The Ram» Robinson, em O WRESTLER, e competiu contra o entertainer Chris Jericho no último certame do wrestling norte-americano, o Wrestlemania 25. Chegou, viu e venceu!
Wolverine arrasa antes da sua estreia:
A versão pirata de X-MEN ORIGINS: WOLVERINE assinala o maior frenesim mediático desde as primeiras distribuições ilegais, registadas em 1999, de GUERRA DAS ESTRELAS: A AMEAÇA FANTASMA. Para além do facto de tratar-se duma versão incompleta (notória a ausência de aperfeiçoamento dos efeitos visuais), a rapidez com que a mesma chegou à Internet espantou a própria 20th Century Fox, que já colocou o FBI a investigar a "fuga". E julgo que, nesta altura, já não é notícia para ninguém os efeitos devastadores que a visualização desta cópia pirata, por parte de algumas personalidades ligadas à indústria, causou...
O próximo filme de Michael Mann é, desde já, um dos títulos pelo qual mais anseio ver em 2009. Embora pouco tenha sido "revelado" das filmagens, eis que somos prendados com um extenso repertório (com mais de 400 imagens!) da fotógrafa Michelle Martin. Publico acima uma amostra do que pode ser visto na sua página web. A visita é recompensadora.
Tudo parece indicar que sim, visto a imagem acima publicada ter surgido primeiro no site Johnny-Depp.org e é descrita como a autêntica imagem que o actor irá envergar na adaptação, por Tim Burton, de ALICE NO PAÍS DAS MARAVILHAS.
«SWEENEY TODD is as much a horror film as a musical. It is also something close to a masterpiece.» A.O. Scott, New York Times.
«The bloodiest musical in stage history, it now becomes the bloodiest in film history, and it isn't a jolly romp, either, but a dark revenge tragedy with heartbreak, mayhem and bloody good meat pies.» Roger Ebert, Chicago Sun Times.
«This represents one happy instance of a film made by a director without stage experience that genuinely serves the intentions of the original piece.» Todd McCarthy, Variety.
«Burton has an affinity for the mayhem's Grand Guignol setting, of course. But more valuably, he has a unique collaborative relationship with his longtime leading man.» Lisa Schwarzbaum, Entertainment Weekly.
«SWEENEY TODD is a thriller-diller from start to finish: scary, monstrously funny and melodically thrilling. And Depp is simply stupendous.» Peter Travers, Rolling Stone.
Com estreia prevista para Janeiro de 2008, SWEENEY TODD: THE DEMON BARBER OF FLEET STREET é o novo veículo da imaginação infinita de Tim Burton. Inspirado numa lenda urbana que remonta ao século XIX, assinala também a estreia de Burton no campo do musical cinematográfico — é verdade, vamos ter a oportunidade de ver Johnny Depp a cantar!
Para além do poster acima colocado, as imagens disponibilizadas pela produção não escondem que nos encontramos em pleno «ambiente Burton», uma história decorada a chiaroescuro sobre um vingativo barbeiro tornado assassino em série (Depp) pelo homícidio da sua família às mãos do nefasto Juiz Turpin (Alan Rickman).
O filme conta ainda com as presenças de Helena Bonham Carter (a actual companheira de Burton) e de Sacha Baron Cohen. Promete.
Keyzer Soze é um personagem do filme de 1995, OS SUSPEITOS DO COSTUME.
Soze era o líder de uma secreta organização criminosa; a sua impiedosa personalidade e obscura influência granjeou-lhe um estatuto quase mítico entre agentes da lei e gangsters.
O seu papel no supreendente twist final do filme tornou-se num dos ícones da cultura popular dos anos 90.