domingo, julho 31, 2011

As Férias do Sr. Soze



Por motivos pessoais (alguns também relacionados com veraneio), o Keyzer Soze interromperá a sua actividade regular durante o mês de Agosto.

Voltará com novas ideias, novas iniciativas e um espírito cinéfilo reanimado.

Bom Verão e bons filmes!

sexta-feira, julho 29, 2011

Hollywood Buzz #134

O que se diz lá fora sobre COWBOYS & ALIENS, de Jon Favreau:



«COWBOYS & ALIENS has without any doubt the most cockamamie plot I've witnessed in many a moon.»
Roger Ebert, Chicago Sun-Times.

«Favreau wavers uncertainly between goofy pastiche and seriousness in a movie that wastes its title and misses the opportunity to play with, you know, ideas about the western and science-fiction horror.»
Manohla Dargis, New York Times.

«While COWBOYS & ALIENS offers little in the way of sociological insight (except perhaps giving the white man a taste of his own resource-stealing medicine), it's still a ripping good ride.»
Peter Debruge, Variety.

«COWBOYS & ALIENS has fun moments, but it's a plodding entertainment because it mostly tastes like leftovers.»
Owen Gleiberman, Entertainment Weekly.

«The key to its success lies in the determination by everyone involved to play the damn thing straight. Even the slightest goofiness, the tiniest touch of camp, and the whole thing would blow sky high. But it doesn't.»
Kirk Honeycutt, The Hollywood Reporter.

quinta-feira, julho 28, 2011

Jukebox #23

(«Jukebox»: boa música e os videoclips mais criativos do ponto de vista cinematográfico).

. OK Go + Pilobolus , «All Is Not Lost»



Tal como Scarlett Johansson está para a rubrica Photo deste blog, os OK Go já reservaram lugar cativo na Jukebox do Keyzer Soze's Place.

Mais um single extraído do álbum "Of the Blue Colour of the Sky", mais um fabuloso videoclip que reúne música, caleidoscopia, dança moderna e, sobretudo, interactividade — qualquer utilizador, acedendo ao site oficial da banda, poderá observar uma mensagem sua formada pelos dançarinos.

Da minha parte, a experiência já foi feita e o resultado final não poderia ser mais satisfatório (leva algum tempo a carregar, mas garanto-vos que vale a pena).



quarta-feira, julho 27, 2011

#19



... segundo o João Bastos, do blog Revolta da Pipoca:

Estes tops são sempre polémicos. Há quem goste e há quem não goste! E ainda bem que assim é. Para mim o cinema pode ser 3 coisas:
1ª - pura e simplesmente ARTE;
2ª - pura e simplesmente ENTRETENIMENTO;
3ª - a junção de ARTE + ENTRETENIMENTO.

Para mim os grandes filmes, os melhores, serão aqueles que consigam de alguma forma aliar o conceito artístico ao entretenimento. Como nasci no ano de 1982, cresci a ver essencialmente filmes dessa década em diante, daí os meus filmes preferidos e aqueles que me marcaram serem na sua maioria filmes dos anos 80 e 90. São aqueles filmes que hoje, conseguimos estar conscientes de todos os defeitos, mas que ainda assim adoramos e continuamos a ver vezes sem conta! Considero-me um cinéfilo (amante de cinema) e mais ou menos entendido no assunto, mas não tenho problemas em admitir que as minhas preferências poderão ser
blockbusters, ou filmes que muitos poderão considerar fraquíssimos! Hoje, com 28 anos, a minha visão é outra, aprecio cinema, independentemente do seu ano de produção, género, país, etc... Só não me ponham o Twilight à frente que posso partir a televisão. Bem e sem mais delongas e sem ordem específica cá vai a minha lista:

. PULP FICTION
(1994, Pulp Fiction, Quentin Tarantino)



A primeira vez que o vi, confesso que não gostei. Não foi de fácil digestão. Hoje é o meu filme favorito com o meu actor favorito (Travolta), a minha banda sonora favorita.

. SAGA GUERRA DAS ESTRELAS
(1977, Star Wars: Episode IV - A New Hope, 1980, Star Wars: Episode V - The Empire Strikes Back, 1983, Star Wars: Episode VI - Return of the Jedi, 1999, Star Wars: Episode I - The Phantom Menace, 2002, Star Wars: Episode II - Attack of the Clones, 2005, Star Wars: Episode III - Revenge of the Sith, George Lucas, Irvin Kershner, Richard Marquand)



Pouco há a dizer aqui!

. HEAT — CIDADE SOB PRESSÃO
(1995, Heat, Michael Mann)



Não há ninguém que filme a cidade como Michael Mann nesta obra-prima! O filme que junta a maior dupla do cinema de todos os tempos. A mítica cena do café de poucos minutos com Pacino e De Niro vale mais que muitos e muitos filmes actuais! Um clássico!

. PARQUE JURÁSSICO
(1993, Jurassic Park, Steven Spielberg)



Sejam sinceros: quem não delirou com as fabulosas imagens deste filme na altura que saiu... Ainda hoje (quase 20 anos depois) tem efeitos credibilíssimos. Os dinossauros ganharam vida, e se me perguntarem alguma fala, eu sei... Depois tem os melhores vilões (para mim) do cinema-espectáculo (os Velociraptors)... Ainda hoje me passo com a cena da cozinha!

. TRILOGIA REGRESSO AO FUTURO
(1985, 1989, 1990, Back to the Future, Robert Zemeckis)



Outro filme (ou melhor 3 filmes) que sei de trás para a frente! Michael J. Fox é enorme! As histórias são loucamente boas! Um marco na minha vida!

. O MEU PRIMEIRO BEIJO
(1991, My Girl, Howard Zieff)



O único filme em que chorei baba e ranho depois da morte do personagem de Macalay Culkin. Um filme que me fez apaixonar na altura pelo desempenho de Anna Chlumsky (o que é feito de ti miúda?)

. CHAMADA PARA A MORTE
(1954, Dial M for Murder, Alfred Hitchcock)



O primeiro filme que vi de Hitchcock. Foi a partir deste filme que comecei a fazer a minha colecção Hitchcock (livros, DVD, etc). Ah, e tem Grace Kelly!

. O GRANDE COMBATE
(1978, Se ying diu sau, Woo-ping Yuen)



Sim, é um filme do Jackie Chan. Um clássico intemporal que não me farto de ver! Esta época foi de ouro para o actor.

. O EXORCISTA
(1973, The Exorcist, William Friedkin)



Não é o meu filme de terror favorito, mas é dos mais perfeitos. Uma atmosfera criada numa divisão (o quarto) do melhor que já se fez no género. E depois, a primeira vez que vi este filme, era catraio, estava sozinho em casa, duas da manhã e tempestade lá fora. O ambiente perfeito para ver o filme. E isto marca qualquer puto.

. DIA DA INDEPENDÊNCIA
(1996, Independence Day, Roland Emmerich)



Um daqueles que só visto numa sala enorme. Ainda hoje me lembro de quando o vi numa sessão da tarde na Suiça! Will Smith que emana estilo! Patriótico até dizer chega (mas o filme é americano e chama-se "Dia da Independência", por isso queriam o quê?)... Mais um que é capaz de dar cabo dos ouvidos, como só Emmerich sabe, mas digam lá se não sabe bem ver a Casa Branca ser reduzida a cinzas num segundo??

--//--

Obrigado, João, pela tua participação!

domingo, julho 24, 2011

Críticas da Semana

Breve resumo dos principais filmes visualizados esta semana.

MIDLOTHIA (2007), de Bill Sebastian



No seu último dia enquanto residente da pequena cidade de Midlothia, Fred (Bill Sebastian) e os seus melhores amigos descobrirão segredos que ameaçarão as fundações daquela amizade.

O realizador/actor Bill Sebastian concebe uma história de rednecks capaz de fugir à típica caracterização inerente a este tipo de personagens, no entanto permanece a sensação de ser uma amálgama de filmes independentes norte-americanos: o ritmo é decalcado de HARD EIGHT (1996), o cenário recorda OS RAPAZES NÃO CHORAM (1999) e o QI das personagens directamente saído de NAPOLEON DYNAMITE (2004). Felizmente, o argumento (de extrema simplicidade) ainda consegue proporcionar humor, imprevisibilidade e profundidade psicológica para tornar a visualização de MIDLOTHIA minimamente sofrível.

SOUTHLAND TALES (2006), de Richard Kelly



Numa Los Angeles alternativa, à beira do colapso social, económico e ambiental, Boxer Santoros (Dwayne Johnson) é uma estrela de cinema acossado por uma inexplicável amnésia. Enquanto luta para recuperar a memória, o seu percurso cruza com os de Krysta Now (Sarah Michelle Gellar), uma actriz pornográfica com o seu próprio reality show, e de Roland Taverner (Seann William Scott), um polícia cuja identidade dividiu-se em duas.

Há filmes estranhos e filmes estranhos. E depois há SOUTHLAND TALES, uma das experiências cinematográficas vindas de Hollywood mais enigmáticas e, simultaneamente, irresistíveis com que já me deparei. Autêntico magnum opus de excesso surrealista, quase impossível de catalogar (ficção científica? drama apocalíptico? thriller?) , tanto pode ser o resultado de uma concessão total de liberdade criativa como de constrangimentos de produção que lhe furtou a lógica e estabilidade narrativa. Mas com aquele improvável elenco, original conceito visual e despreocupada ausência dos supostos "limites" de coerência cinematográfica, é impossível não gostar disto. E de não o querer rever em breve.

PREZÍT SVUJ ZIVOT (SURVIVING LIFE) (2010), de Jan Svankmajer



Evzen (Vaclav Helsus) sonha constantemente acerca de uma jovem mulher (Klara Issova) e, quando acorda, apenas deseja reentrar naquele sonho. A conselho do seu médico de família, Evzen consulta uma psicanalista. Durante a terapia, Evzen recorda eventos traumáticos da sua infância e o seu sonho recorrente transformar-se-à em pesadelo.

Este «imperfeito substituto para um filme de imagem real» (tal como o narrador afirma no início) é mais uma loucura visual de Svankmajer, que exibe tudo o que é esperado do cineasta checo, juntamente com o profundamente inusitado, ou seja, uma obra sua que quase pode ser considerada comercial. Os seus "recortes" continuam a ser grotescos, provocadores e surreais no tom, mas o espírito desses adjectivos estão longe do que representaram em NECO Z ALENKY (ALICE) (1988) ou SILENÍ (LUNACY) (2005). Saúda-se a vontade de um contínuo ensaio em torno do surrealismo filmado — estética que parece estar cada vez mais ausente do cinema moderno — e um sentido de humor irrepreensível. Muito recomendado.

sexta-feira, julho 22, 2011

Hollywood Buzz #133

O que se diz lá fora sobre ANOTHER EARTH, de Mike Cahill:



«A coming-of-adulthood story that improbably blends a plaintive drama with romantic longing and far-out science fiction.»
Manohla Dargis, New York Times.

«Out there, to say the least, but rescued from risibility by its well-matched lead performances and crazy low-budget ambition.»
Justin Chang, Variety.

«It's one of those stultifying aftermath-of-
a-car-crash movies.»
Owen Gleiberman, Entertainment Weekly.

«The best science fiction tells stories about people in extraordinary environments or situations that serve to open up the vast, still largely unexplored terrain of the human heart. Mike Cahill's ANOTHER EARTH is science fiction at its best.»
Kirk Honeycutt, The Hollywood Reporter.

«Another Earth offers imagination and provocation to spare.»
Peter Travers, Rolling Stone.

quinta-feira, julho 21, 2011

#18



... segundo o Filipe Coutinho, do blog Cinema is my Life:

Nestas andanças costuma-se dizer que a lista que escolhemos é "a lista de hoje", ou seja, se a escolhessemos noutro dia, os nomes que figuram nela seriam distintos. Embora isso seja verdade, e por muito que custe fazer as escolhas, apresento aqui os dez filmes da minha vida. Não são os melhores da história, e provavelmente nem são os meus favoritos, mas são aqueles, que num dado período da minha vida, me fizeram acreditar no cinema, que me marcaram de uma determinada forma. E nesse particular, também é um dos meus critérios. Vários filmes marcaram-me ao mesmo nível mas pretendo, com esta selecção e trabalho de introspecção, indicar os filmes que me marcaram a níveis diferentes. Obviamente, muitos e bons filmes estão por ver e, como tal, daqui a uns anos os filmes que marcaram serão outros, mas hoje, aqui e agora, estes são os 10 filmes da minha vida:

1. CLUBE DE COMBATE
(1999, Fight Club, David Fincher)



Life changing Fight Club. Não são poucos os indivíduos a afirmá-lo. A subversiva obra de Fincher marcou-me profundamente numa altura em que a minha mentalidade estava a ser moldada. Para o bem ou para o mal, a mensagem pegou, mas mais do que isso, Fight Club fez-me olhar para o cinema com outros olhos, fez-me ver para além do entretenimento, do sexo e da violência. Fight Club mostrou-me o cinema como um media, o mais poderoso deles todos. Se hoje estudo, vivo e respiro cinema, tenho Fight Club a agradecer por isso, a Fincher, a Pitt, a Norton, a Uhls e a Palahniuk e a todos os que tornaram esta fita possível, já que sem ela, eu não seria o mesmo, sem ela, a pessoa em que me tornei nunca existiria. Fight Club não é o meu filme favorito mas é, sem qualquer margem para dúvidas, o filme da minha vida por excelência.

. CINEMA PARAÍSO
(1988, Nuovo Cinema Paradiso, Giuseppe Tornatore)



Muito provavelmente a experiência mais emocionalmente avassaladora que tive. Nunca um filme me tocou tanto. Não sei se é pela homenagem que faz ao cinema e à sua história, se é pela bela fábula que cria ou pela nostalgia que emana. Provavelmente são todas essas razões juntas e mais algumas. Certo é que apenas o vi uma vez. E não pretendo voltar a rever, pelo menos não num futuro próximo. Talvez seja o medo de não corresponder à experiência anterior ou mesmo a incapacidade de a repetir, mas as memórias de que dela guardo são muito vívidas e reais, e é tudo o que necessito para manter o filme vivo na minha mente. Afinal, Nuovo Cinema Paradiso não é bem um filme, é uma experiência, uma ode ao amor, seja ela pelo que for, uma ode ao ser humano e pela crença na bondade. E, como cereja no topo do bolo, tem, na minha opinião, o melhor término de fita de todos os tempos, aquele que em menos de três minutos resume uma história de mais de 100 anos.

. BOOGIE NIGHTS — JOGOS DE PRAZER
(1997, Boogie Nights, Paul Thomas Anderson)



Paul Thomas Anderson, o melhor contador de histórias do panorama do cinema americano actual. E que bela história é Boogie Nights: provocadora, honesta, épica e global e brilhantemente contada. São muitas e de grande qualidade as cenas memoráveis, seja aquele fabuloso plano-sequência de abertura ou um Alfred Molina drogado a cantar Jessie’s Girl de Rick Springfield (o argumento apontava para REO Speedwagon); e não menos bom é o diálogo e a estrtura narrativa. Mas o que torna Boogie Nights num dos filmes da minha vida é a capacidade de PTA em interligar as vidas de personagens tão distintas de forma tão genial à medida que usa música para contar a sua trama. Sim, porque sou um acérrimo defensor de que o cinema é mais do que uma imagem, é a conjugação de sons e imagens, e sons não incluem apenas reverbações diegéticas ou composições sonoras. Sons também significam músicas. E se Tarantino ficou famoso pela sua banda sonora, creio ser PTA o verdadeiro entededor na conjugação de música e imagem. E mais do que There Will Be Blood ou Magnolia é, para mim, Boogie Nights o seu melhor filme, o filme que me mostrou a força que a música dá uma imagem, o filme que consegue roçar a barreira do politicamente incorrecto sem nunca a ultrapassar ou cair no mau gosto. Não é uma obra fetichista. É uma obra de um cineasta maduro que sabe contar uma história. E o que é o cinema se não um agregado de histórias?

. O TOURO ENRAIVECIDO
(1980, Raging Bull, Martin Scorsese)



Sempre fui um apaixonado pela fotografia a preto e branco e desde o término dos anos 60 não jamais vi um uso tão apropriado e distinto da mesma. Raging Bull é extraordinariamente fotografado e, inegavelmente, aquele preto e branco não é meramente uma questão estética mas, em instância última, enaltece a história de um protagonista condenado desde os seus primórdios. Raging Bull é também o meu biopic favorito. Sempre detive um especial apreço pela possibilidade de ver grande histórias no grande ecrã. E sejamos sinceros, que histórias são melhores do que aquelas baseadas em eventos reais e indivíduos de carne e osso? Mas nem todos os realizadores e argumentistas têm a sensabilidade suficiente para contar uma história em pouco mais de duas horas. Mas Scorsese e Schrader tiveram, e o resultado foi uma das películas mais perfeitas da história do cinema dotada também de uma das suas melhores interpretações, o grande De Niro que se sacrificou pelo papel de uma vida. As características do filme não o fazem uma das fitas da minha vida. Mas a experiência que tive quando o vi fazem. "You didn’t get me down Ray. You didn’t get me down!" diz LaMotta no célebre combate ante Sugar Ray Robinson. E eu tremi nessa cena: a honra, a dignidade, o espírito de sacrifício, a luta interna e externa... É só uma cena mas há muitas, demasiadas para descrever, demasiadas para explorar os arrepios que senti quando vi este poderosíssimo retrato.

. A DOCE VIDA
(1960, La dolce vita, Federico Fellini)



Ouço a música de Nino Rota enquanto escrevo estas palavras. Fellini, quem mais, para conceber este imaginário, para criar uma obra divida em tantos e tão bons actos (7 para ser mais preciso), para dar origem a uma legião de fãs, para mudar o rumo do jornalismo internacional, para criar algo tão trágico, sedutor e ousado? La Dolce Vita detém tantas camadas e tão distintas que, por vezes, o tom leviano que as acompanham pode ser muito enganador. Ainda assim, é brilhante a todos os níveis, um verdadeiro feito no âmbito da sátira à classe ociosa num período complicado da história Italiana. Um pouco à semelhança de Amarcord, La Dolce Vita é o retarto de um tempo, de um tempo agridoce, irónico e sarcástico. O boémio e o embuste andam de mãos dadas, o que é particularmente bem resumido na fabulosa sequência final, também denominada como "orgia na praia". Por quê um filme da minha vida? Porque me disse muito sobre a sociedade e porque me fez descobrir o cinema italiano, um dos meus favoritos.

. A PERSONAL JOURNEY WITH MARTIN SCORSESE THROUGH AMERICAN MOVIES
(1995, A Personal Journey with Martin Scorsese Through American Movies, Martin Scorsese e Michael Henry Wilson)



São quase quatro horas que passam a voar. É uma experiência tremenda ouvir um realizador e historiador falar sobre um cinema que tanto admiro. Embora tenha caído na paródia, e muitos vezes interrogo-me se o ódio vem da indústria ou do país em si, o cinema de Hollywood sempre foi o grande agitador do panorama mundial. E, se é verdade que a indústria já conheceu melhores dias, também não é menos erróneo afirmar que existe muito bom cinema a sair de lá e o preconceito é, muitas vezes, injustamente irritante. Martin Scorsese analisa o cinema de outros tempos. E que belo cinema o era. E que bem estrturado é este documentário, que delícia é ouvir Scorsese sobre os seus filmes favoritos, sobre os filmes que mudaram a indústria, sobre as pessoas que nela trabalharam. E em instância última, Scorsese fez-me descobrir novo cinema, cinema que não conhecia e pelo qual me apaixonei. Como é que este documentário pode ser algo menos do que um filme da minha vida?

. L.A CONFIDENCIAL
(1997, L.A. Confidential, Curtis Hanson)



Paul Schrader e Martin Scorsese defendem que o film noir é só um estilo, um sub-género do crime/thriller; outros críticos vêm-no como um género propriamente dito, dada a sua influência e o período de mais de 15 anos onde foi fértil e vasto. Seja como for, é o estilo/género da minha vida. Dificilmente outro tipo de filme exemplifica de forma tão interessante a verdadeira natureza do ser humano. LA Confidential, baseado na homónima obra do polémico James Ellroy, é um épico do noir, uma história que em pouco mais de duas horas consegue conciliar três tramas distintas, desenrolar uma conspiração e, ao mesmo tempo, entreter enquanto cria sequências memoráveis, subversivas e surpreendentes. Curiosamente, esta lista
dos filmes da minha vida não inclui um
noir "verdadeiro". Double Indemnity, The Killers, The Big Heat, Out of the Past, Murder, My Sweet, The Night of the Hunter, This Gun for Hire, poderiam perfeitamente figurar na lista e seria apenas natural que isso se sucedesse dada a influência que tiveram no meu crescimento cinematográfico. Mas na verdade escolhi LA Confidential porque mee mostrou que o noir não está morto, o género/estilo em que mais acredito ainda tem uma palavra a dizer e pode ser levado a sério nos dias de hoje. O noir que é tantas vezes injustamente parodiado vê os seus subversivos contornos ridicularizados em obras infantis que falham em perceber a sua essência. Mas não L.A. Confidential, não o filme que me fez voltar a acreditar no noir contemporâneo.

. A MULHER QUE VIVEU DUAS VEZES + A BELA DE DIA
(1958, Vertigo, Alfred Hitchcock) + (1967, Belle de Jour, Luis Buñuel)





Dois filmes tão diferentes ligados por um elo comum: a obsessão. Separados por nove anos, as obras de Hitchcok e Buñuel foram-me muito marcantes pela forma como exploram a sexualidade, os mais íntimos e escondidos desejos animalescos e a poder da irracionalidade ante a racionalidade. Hitchcock, por um lado, é sempre mais reservado mas invariavelmente acutilante e venonoso. O seu humor negro faz deste Vertigo uma obra-prima, possivelmente o seu melhor e mais complexo filme. O trabalho de Buñuel é mais explícito, mas nem por isso menos complexo. E se Vertigo e Belle de Jour são ambos filmes da minha vida, são-nos dado o contexto e os claramente distintos períodos em que foram vistos o que, de certo modo, me levaram a retirar conclusões que ainda hoje observo, dia após dia, e justificam o cinema como a arte da vida em movimento, independentemente de quanto este é romanceado. Gostei de ver Hitchcock ser agressivo em 58 e gostei ainda mais da audácia de Buñuel em 67 ao explorar os desejos de uma mulher à mercê da sua insatisfação sexual. Por um lado, a obsessão pela figura, por outro, a obsessão pelo que nos é inerente e incontrolável. Hitchock e Buñuel, dois visionários, dois surrealistas à sua própria maneira, dois capazes de fazer um filme, um dos filmes da minha vida.

CAMINHO PARA DOIS
(1967, Two for the Road, Stanley Donen)



Vi-o numa altura muito peculiar da minha vida. Além de ser um dos mais cruéis e fiéis retratos da vida marital, mostrou-me uma outra Audrey Hepburn (paixão antiga) e o seu poder que vai muito além das suas afáveis e encantadoras personagens em Breakfast at Tiffany’s e Roman Holiday. A fita de Stanley Donen andou perdida no tempo. O homem responsável por Singin’ in the Rain ou Charade revelou uma enorme versatilidade e um excelente director de actores, nomeadamente, de Hepburn. Arriscaria a dizer que ela tem a sua melhor performance neste filme, não a mais carismática, mas a mais complexa e marcante. E todas as circustâncias que envolvem a relação entre Hepburn e Finney são tão reais quanto a sua própria natureza. Houvesse uma dose de humor mais elevada e um tom mais suave e estaríamos perante uma obra-prima de Woody Allen. No entanto não é Allen que toma as rédeas. É Donen e com ele o sarcasmo atinge limites ousados mas que resultam em prol de um fita que me fez pensar, e muito, sobre a felicidade, sobre relações e sobre o que significa passar uma vida com alguém ao nosso braço. Ainda hoje observo o que se passa à minha volta e vejo imagens de Two for the Road a querer marcar o teste do tempo, a mostrar que as relações, não obstante as restrições inerentes ao tempo em que são vividas, são intemporais. E intemporal é também a forma como estas são vividas.

< — A ORGIA DO PODER + OS HOMENS DO PRESIDENTE
(1969, Z, Costa-Gavras) + (1976, All the President's Men, Alan J. Pakula)





São dois filmes fundamentalmente diferentes é certo, mas são unidos pela qualidade do argumento, das interpretações, da realização, e claro está, do tema em comum: a corrupção nos corredores do poder. Ambos são longas-metragens de investigação, mas o que se revela verdadeiramente interesssante é o espectro em que ambas as películas foram concebidas e a, digamos, "aura" que as envolve. Por um lado, All the President’s Man (Alan J. Pakula) não me parece uma obra de Hollywood e, por outro, Z (Costa-Gravas) não me parece a típica obra Europeia. Ambos estão numa zona neutra, uma zona que não cede a pressões externas e mesmo assim critica, rasga e acusa. Foram filmes que me marcaram pelo seu realismo. Não sei se serão docu-dramas ou meros dramas, mas fascina-me a forma como se desenvolve a descoberta de uma conspiração. E não é fácil fazê-lo. Muitos foram os que tentaram e falharam (um das minhas maiores desilusões é The Parallax View, curiosamente do mesmo Pakula). Mas estas duas películas epitomizam o género de filme que um dia gostaria de fazer, marcaram-me pelo engenho do argumento (e quão difícil é escrever algo assim), pela simplicidade dos processos e pela mordaz crítica social, ainda que objectiva mas tantas vezes em subtexto.

Menção Honrosa: THE WIRE
(2002, The Wire, David Simon)



Muito simplesmente porque cada episódio é um filme de uma hora, melhor interpretado, escrito, dirigido e fotografado do que a maior parte do cinema contemporâneo. Divido em cinco temporadas, cada uma explorando uma problemática distinta na cidade de Baltimore mas unidas por um elo comum, The Wire é um épico do crime, uma obra incrivelmente realista e sensata. Mas tudo isto não é apenas sobre Baltimore. Essa cidade podia ser qualquer uma outra em qualquer país do mundo. É uma série que se desenvolve com um calculismo e uma frieza avassaladores, e as raízes da corrupção vão lentamente, episódio após episódio, temporada após temporada, sendo desnudadas. Não são os bravos quem ganham a guerra, porque não há bravos. E também não são os vilões, porque na verdade não há vilões. Há pessoas e dificilmente alguma série mostrou de forma mais explícita o que significa ser, em toda a sua latitude, uma "pessoa". É The Wire uma série ou uma longa, longa-metragem? Pode ser ambas diria. The Wire marcou-me profundamente como um analista da sociedade e fez-me olhar para o espectro televisivo como uma extensão da sétima arte, algo que nunca um produto televisivo havia feito antes.

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Obrigado, Filipe, pela tua participação!

quarta-feira, julho 20, 2011

Jukebox #22

(«Jukebox»: boa música e os videoclips mais criativos do ponto de vista cinematográfico).

. Beastie Boys, «Don't Play No Game That I Can't Win»



Spike Jonze adquiriu gosto pela realização de videoclips em forma de curta-metragem. Depois da recente adaptação ao álbum The Suburbs dos Arcade Fire, o cineasta reencontra os Beastie Boys nesta curiosa e hilariante curta de 11 minutos que reúne Action Men, zombies, tubarões e até o Abominável Homem das Neves.



P.S.: juntamente com isto, já não sobram dúvidas de que este é um grande ano para os Beastie Boys...

segunda-feira, julho 18, 2011

Agenda Cinematográfica

::: 9500 CINECLUBE DE PONTA DELGADA :::

BANKSY — PINTA A PAREDE!, de Banksy



Um francês radicado em Los Angeles decide filmar o mundo secreto dos "vândalos" dos graffiti para um documentário. Ao longo de mais de oito anos acompanha diferentes artistas pelos Estados Unidos e Europa, até que conhece Banksy e o rumo do seu projecto é completamente alterado.

O resultado é um filme de Banksy sobre esta história e sobre a arte do graffiti e a street culture.

Banksy diz que "basicamente, é a história de como um homem se decidiu a filmar o 'infilmável', e falhou", mas o filme vai mais longe, ao reflectir sobre o próprio conceito de arte e a sua natureza, validade e limitações.



Hoje, pelas 21h30, no Cine Solmar.

Críticas da Semana

Breve resumo dos principais filmes visualizados esta semana.

O CÓDIGO BASE (2011), de Duncan Jones



Numa missão que para ele era totalmente desconhecida, o Capitão Colter Stevens (Jake Gyllenhaal) apercebe-se de que faz parte de um programa experimental do governo, chamado O Código Base, que lhe vai permitir viver no corpo de outro homem durante os últimos oito minutos da sua vida.

No que será, provavelmente, um dos maiores retrocessos qualitativos dos últimos anos entre primeiro e segundo filmes, Duncan Jones (que em 2009 estreou-se com o muito interessante MOON — O OUTRO LADO DA LUA) assina aqui um thriller de ficção-científica cuja intrigante premissa — o início é tremendamente eficaz no estabelecimento de suspense — acaba por ficar enredada num protagonista a quem Gyllenhaal não empresta total convicção, em sub-plots pouco favoráveis ao ritmo e num terceiro acto que desafia as próprias ideias que o filme, a princípio, "designou" como temas. Ou um caso exemplar de como alguma ficção-científica, para seu bem, não deveria levar-se tanto a sério.

POST MORTEM (2010), de Pablo Larraín



Em 1973, durante os últimos dias da presidência de Salvador Allende, Mario (Alfredo Castro), empregado de uma morgue, apaixona-se por Nancy (Antonia Zegers), artista de cabaré. Quando as tropas de Pinochet tomam controlo do Chile, Mario perde o contacto com a mulher que ama, assiste em primeira mão às atrocidades cometidas sobre os opositores do novo regime e é chamado para registar oficialmente a autópsia do estadista deposto.

Outra fabulosa proposta recente e proveniente da América do Sul, onde o sufocante trabalho visual de Larraín sobrepõe-se ao rigoroso, frio e emocional retrato do povo chileno face aos acontecimentos que servem de cenário a POST MORTEM. Desde o primeiro plano — um engenhoso "ponto de vista" da parte inferior de um tanque a transitar por uma rua onde apenas se observam detritos — até à sua aterradora conclusão, somos testemunhas do esvaziar de alma do metafórico protagonista, como raramente o cinema conseguiu tornar tão palpável. Destaque obrigatório para Alfredo Castro, actor que preenche um ecrã apenas com o olhar. Muito recomendado.

RAPT (2009), de Lucas Belvaux



Stanislas Graff (Yvan Attal), poderoso e abastado homem de negócios, é raptado. Enquanto sucumbe à privação e ao sofrimento que lhe é imposto durante a sua prisão, sequestradores, polícia e administração da empresa por ele gerida negoceiam um resgate no valor de cinquenta milhões de euros.

Sólido mas não inteiramente exemplar, Belvaux concebe um thriller político com argumento bem construído, fotografia e montagem reminiscentes de uma obra de Costa Gravas e interpretações de qualidade — sobretudo Attal, que nos faz simpatizar por uma personagem de dúbio carácter e pela enorme personificação dos efeitos físicos e psicológicos causados por um cativeiro forçado — mas nunca o eleva aos patamares multifacetados que nomes como Hitchcock ou Polanski atingiriam com este material. Merece, no entanto, visualização.

ATTENBERG (2010), de Athina Rachel Tsangari



Numa pequena cidade industrial do litoral, Marina (Ariane Labed) mantém uma relação próxima com o pai (Vangelis Mourikis), a padecer de um cancro em fase terminal. As suas únicas experiências sexuais foram adquiridas com a amiga Bella (Evangelia Randou) e encontra nos documentários de David Attenborough uma forma de compreender a vida.

Comparar ATTENBERG ao magnífico CANINO (2010) é tentador e, pela sua proximidade geográfica, formal e temática, quase obrigatório. Contudo, Rachel Tsangari destaca-se de qualquer outra semelhança ao título supracitado pela irresistível atmosfera criada, na forma como filma os cenários urbanos e naturais deste particular "microcosmos" e, acima de tudo, pelos contornos filosóficos — a dualidade sexo versus morte e os dilemas da condição humana predominam — inerentes a este conto de amadurecimento pessoal. Concluímos que se assiste a um fenomenal e excitante renascimento do Cinema Grego (afinal, não vive só de Theo Angelopoulos...) e é motivo de regozijo que a crise naquele país seja "apenas" financeira e não criativa.

sexta-feira, julho 15, 2011

Add To Cart #15





Hollywood Buzz #132

O que se diz lá fora sobre TABLOID, de Errol Morris:



«It is a spellbinding enigma, and one of the damnedest films Morris has ever made.»
Roger Ebert, Chicago Sun-Times.

«The sheer heterogeneity of human experience is one of his (Morris) enduring preoccupations, and he has found, once again, an impossible and perfect embodiment of just how curious our species can be.»
A.O. Scott, New York Times.

«Errol Morris' TABLOID is bonkers in all the best possible ways -- a welcome return to perverse portraiture after a lengthy sojourn in the realm of more serious-minded subjects.»
Peter Debruge, Variety.

«At 88 minutes, TABLOID is short and sweet (it's pure movie candy), but by the end we've forged an emotional connection to Joyce McKinney at the deep core of her unapologetic fearless/nutty valor. And that's what really makes a great tabloid story: It's a vortex that's also a mirror.»
Owen Gleiberman, Entertainment Weekly.

«Morris clearly invested so much time and energy in McKinney's story because he saw her as emblematic of our crazed times. Others might wonder whether the sad saga deserves quite this much attention, but there's no denying the film's morbid fascination.»
Stephen Farber, The Hollywood Reporter.

quarta-feira, julho 13, 2011

#17



... segundo o David Martins, do blog Cine31:

Desde a infância os meus temas favoritos sempre envolveram o reino do fantástico e da ficção cientifica (esses géneros tão subestimados), o que explica grande parte dos filmes que revejo ou sinto vontade de rever mais vezes:

O SENHOR DOS ANÉIS — A IRMANDADE DO ANEL
(2001, The Lord of the Rings: The Fellowship of the Ring, Peter Jackson)



Um épico fruto do amor pela obra escrita, renascido no grande ecrã.

MATRIX
(1999, The Matrix, Larry e Andy Wachowski)



A revolução no modo de encenar a acção cinematográfica.

CINEMA PARAÍSO
(1988, Nuovo Cinema Paradiso, Giuseppe Tornatore)



Uma visão romântica e cruel da devoção de vidas ao cinema.

DUNA
(1984, Dune, David Lynch)



Um filme de ficção atípico e subvalorizado.

A GUERRA DAS ESTRELAS
(1977, Star Wars: Episode IV — A New Hope, George Lucas)



Até ao momento, o filme que já vi mais vezes. Não me perguntem quantas, que já perdi a conta.

STAR TREK — O CAMINHO DAS ESTRELAS
(1979, Star Trek: The Motion Picture, Robert Wise)



Um filme lento, mas deslumbrante.

O TIGRE E O DRAGÃO
(2000, Wo hu cang long, Ang Lee)



Uma mistura única de poesia e artes marciais.

KILL BILL — A VINGANÇA
(2003, Kill Bill: Vol. 1, Quentin Tarantino)



Uma montanha de referências culturais que pariu um filme monumentalmente delicioso.

CONTACTO
(1997, Contact, Robert Zemeckis)



Uma inteligente hipótese sobre a próxima fronteira da espécie humana.

NAUSICAÄ OF THE VALLEY OF THE WIND
(1984, Kaze no tani no Naushika, Hayao Miyazaki)



Uma das primeiras obras-primas de Miyazaki.

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Obrigado, David, pela tua participação!

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