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sábado, setembro 17, 2011

#22



... segundo O Projeccionista, do blog A Última Sessão:

. METROPOLIS
(1927, Metropolis, Fritz Lang)



Ao contrário do que possa parecer, o período mudo não era tão limitado quanto isso. Filmes como este provam exactamente o contrário. Que bastava querer para fazer algo grandioso. E Fritz Lang fê-lo como poucos. Este filme, que continua a influenciar muita gente, é um dos meus filmes de ficção científica favoritos.

. CREPÚSCULO DOS DEUSES
(1950, Sunset Blvd., Billy Wilder)



Um fantástico filme sobre Hollywood durante a transição do mudo para o sonoro, com interpretações assombrosas de velhas glórias daquela época, que 'sofreram' na pele a chegada do som. A Norma Desmond de Gloria Swanson é uma personagem bigger than life.

. OS INÚTEIS
(1953, I vitelloni, Federico Fellini)



Fellini tem inúmeros grandes filmes, mas para mim, dos que vi, este é o melhor. Simples e uma bela homenagem às suas origens.

. O SÉTIMO SELO
(1957, Det sjunde inseglet, Ingmar Bergman)



Tal como referi com Fellini, Bergman tem também uma grande variedade de grandes obras no currículo. O confronto entre o Homem e a Morte, num célebre jogo de xadrez, é uma das maiores histórias do Cinema.

. OS QUATROCENTOS GOLPES
(1959, Les Quatre Cents Coups, François Truffaut)



Um grande filme sobre a infância, que me deu a conhecer uma das minhas personagens preferidas: Antoine Doinel.

. PSICO
(1960, Psycho, Alfred Hitchcock)



Escolher um filme de Hitchcock é tarefa ingrata, pois são poucos os filmes que o mestre do suspense realizou que não tenham deixado marcas em quem os viu. Psico é o meu preferido e é para mim um dos melhores filmes de terror de sempre.

. ACONTECEU NO OESTE
(1968, C'era Una Volta Il West, Sergio Leone)



Westerns há muitos, mas poucos souberam levar o género para fora das fronteiras dos EUA como Leone. Este filme é qualquer coisa. Lembro-me de ter ficado completamente fascinado logo na primeira vez que o vi com aquela fantástica cena de abertura na estação de comboios.

. LARANJA MECÂNICA
(1971, A Clockwork Orange, Stanley Kubrick)



É difícil explicar porque gosto deste filme. É daqueles filmes que já vi mais vezes e de cada vez que o vejo, parece que gosto mais dele.

. TRILOGIA INDIANA JONES
(1981, 1984, 1989, Raiders of the Lost Ark, Indiana Jones and the Temple of Doom, Indiana Jones and the Last Crusade, Steven Spielberg)



Se há herói que me marcou no cinema foi Indiana Jones. Parece parvo dizer isto, mas estes filmes fizeram-me sonhar com aventuras em busca de tesouros perdidos. E durante muitos anos pensei ser arqueólogo à conta do Indy. Não entra o quarto, pois considero-o um dos piores filmes que vi e não o incluo na saga.

. OS TENENBAUMS — UMA COMÉDIA GENIAL
(2001, The Royal Tenenbaums, Wes Anderson)



De todos os filmes aqui apresentados, este é talvez a carta mais fora do baralho. Mas tinha de aqui estar por ser mesmo um dos meus filmes preferidos e o primeiro que me levou mais do que uma vez ao cinema para ver o mesmo filme. E revejo-o vezes sem conta, gostando cada vez mais a cada visionamento. Tem uma excelente história, personagens bastante originais (o Royal de Gene Hackman, um dos maiores filhos da mãe dos últimos anos, é genial), até o Ben Stiller e o Owen Wilson ficam bem na fotografia de família. E claro, foi realizado por Wes Anderson, que considero ser um dos cineastas mais originais que apareceu nos últimos anos nos EUA. Só tenho pena do título em português ser tão idiota.

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Obrigado, O Projeccionista, pela tua participação!

quinta-feira, julho 21, 2011

#18



... segundo o Filipe Coutinho, do blog Cinema is my Life:

Nestas andanças costuma-se dizer que a lista que escolhemos é "a lista de hoje", ou seja, se a escolhessemos noutro dia, os nomes que figuram nela seriam distintos. Embora isso seja verdade, e por muito que custe fazer as escolhas, apresento aqui os dez filmes da minha vida. Não são os melhores da história, e provavelmente nem são os meus favoritos, mas são aqueles, que num dado período da minha vida, me fizeram acreditar no cinema, que me marcaram de uma determinada forma. E nesse particular, também é um dos meus critérios. Vários filmes marcaram-me ao mesmo nível mas pretendo, com esta selecção e trabalho de introspecção, indicar os filmes que me marcaram a níveis diferentes. Obviamente, muitos e bons filmes estão por ver e, como tal, daqui a uns anos os filmes que marcaram serão outros, mas hoje, aqui e agora, estes são os 10 filmes da minha vida:

1. CLUBE DE COMBATE
(1999, Fight Club, David Fincher)



Life changing Fight Club. Não são poucos os indivíduos a afirmá-lo. A subversiva obra de Fincher marcou-me profundamente numa altura em que a minha mentalidade estava a ser moldada. Para o bem ou para o mal, a mensagem pegou, mas mais do que isso, Fight Club fez-me olhar para o cinema com outros olhos, fez-me ver para além do entretenimento, do sexo e da violência. Fight Club mostrou-me o cinema como um media, o mais poderoso deles todos. Se hoje estudo, vivo e respiro cinema, tenho Fight Club a agradecer por isso, a Fincher, a Pitt, a Norton, a Uhls e a Palahniuk e a todos os que tornaram esta fita possível, já que sem ela, eu não seria o mesmo, sem ela, a pessoa em que me tornei nunca existiria. Fight Club não é o meu filme favorito mas é, sem qualquer margem para dúvidas, o filme da minha vida por excelência.

. CINEMA PARAÍSO
(1988, Nuovo Cinema Paradiso, Giuseppe Tornatore)



Muito provavelmente a experiência mais emocionalmente avassaladora que tive. Nunca um filme me tocou tanto. Não sei se é pela homenagem que faz ao cinema e à sua história, se é pela bela fábula que cria ou pela nostalgia que emana. Provavelmente são todas essas razões juntas e mais algumas. Certo é que apenas o vi uma vez. E não pretendo voltar a rever, pelo menos não num futuro próximo. Talvez seja o medo de não corresponder à experiência anterior ou mesmo a incapacidade de a repetir, mas as memórias de que dela guardo são muito vívidas e reais, e é tudo o que necessito para manter o filme vivo na minha mente. Afinal, Nuovo Cinema Paradiso não é bem um filme, é uma experiência, uma ode ao amor, seja ela pelo que for, uma ode ao ser humano e pela crença na bondade. E, como cereja no topo do bolo, tem, na minha opinião, o melhor término de fita de todos os tempos, aquele que em menos de três minutos resume uma história de mais de 100 anos.

. BOOGIE NIGHTS — JOGOS DE PRAZER
(1997, Boogie Nights, Paul Thomas Anderson)



Paul Thomas Anderson, o melhor contador de histórias do panorama do cinema americano actual. E que bela história é Boogie Nights: provocadora, honesta, épica e global e brilhantemente contada. São muitas e de grande qualidade as cenas memoráveis, seja aquele fabuloso plano-sequência de abertura ou um Alfred Molina drogado a cantar Jessie’s Girl de Rick Springfield (o argumento apontava para REO Speedwagon); e não menos bom é o diálogo e a estrtura narrativa. Mas o que torna Boogie Nights num dos filmes da minha vida é a capacidade de PTA em interligar as vidas de personagens tão distintas de forma tão genial à medida que usa música para contar a sua trama. Sim, porque sou um acérrimo defensor de que o cinema é mais do que uma imagem, é a conjugação de sons e imagens, e sons não incluem apenas reverbações diegéticas ou composições sonoras. Sons também significam músicas. E se Tarantino ficou famoso pela sua banda sonora, creio ser PTA o verdadeiro entededor na conjugação de música e imagem. E mais do que There Will Be Blood ou Magnolia é, para mim, Boogie Nights o seu melhor filme, o filme que me mostrou a força que a música dá uma imagem, o filme que consegue roçar a barreira do politicamente incorrecto sem nunca a ultrapassar ou cair no mau gosto. Não é uma obra fetichista. É uma obra de um cineasta maduro que sabe contar uma história. E o que é o cinema se não um agregado de histórias?

. O TOURO ENRAIVECIDO
(1980, Raging Bull, Martin Scorsese)



Sempre fui um apaixonado pela fotografia a preto e branco e desde o término dos anos 60 não jamais vi um uso tão apropriado e distinto da mesma. Raging Bull é extraordinariamente fotografado e, inegavelmente, aquele preto e branco não é meramente uma questão estética mas, em instância última, enaltece a história de um protagonista condenado desde os seus primórdios. Raging Bull é também o meu biopic favorito. Sempre detive um especial apreço pela possibilidade de ver grande histórias no grande ecrã. E sejamos sinceros, que histórias são melhores do que aquelas baseadas em eventos reais e indivíduos de carne e osso? Mas nem todos os realizadores e argumentistas têm a sensabilidade suficiente para contar uma história em pouco mais de duas horas. Mas Scorsese e Schrader tiveram, e o resultado foi uma das películas mais perfeitas da história do cinema dotada também de uma das suas melhores interpretações, o grande De Niro que se sacrificou pelo papel de uma vida. As características do filme não o fazem uma das fitas da minha vida. Mas a experiência que tive quando o vi fazem. "You didn’t get me down Ray. You didn’t get me down!" diz LaMotta no célebre combate ante Sugar Ray Robinson. E eu tremi nessa cena: a honra, a dignidade, o espírito de sacrifício, a luta interna e externa... É só uma cena mas há muitas, demasiadas para descrever, demasiadas para explorar os arrepios que senti quando vi este poderosíssimo retrato.

. A DOCE VIDA
(1960, La dolce vita, Federico Fellini)



Ouço a música de Nino Rota enquanto escrevo estas palavras. Fellini, quem mais, para conceber este imaginário, para criar uma obra divida em tantos e tão bons actos (7 para ser mais preciso), para dar origem a uma legião de fãs, para mudar o rumo do jornalismo internacional, para criar algo tão trágico, sedutor e ousado? La Dolce Vita detém tantas camadas e tão distintas que, por vezes, o tom leviano que as acompanham pode ser muito enganador. Ainda assim, é brilhante a todos os níveis, um verdadeiro feito no âmbito da sátira à classe ociosa num período complicado da história Italiana. Um pouco à semelhança de Amarcord, La Dolce Vita é o retarto de um tempo, de um tempo agridoce, irónico e sarcástico. O boémio e o embuste andam de mãos dadas, o que é particularmente bem resumido na fabulosa sequência final, também denominada como "orgia na praia". Por quê um filme da minha vida? Porque me disse muito sobre a sociedade e porque me fez descobrir o cinema italiano, um dos meus favoritos.

. A PERSONAL JOURNEY WITH MARTIN SCORSESE THROUGH AMERICAN MOVIES
(1995, A Personal Journey with Martin Scorsese Through American Movies, Martin Scorsese e Michael Henry Wilson)



São quase quatro horas que passam a voar. É uma experiência tremenda ouvir um realizador e historiador falar sobre um cinema que tanto admiro. Embora tenha caído na paródia, e muitos vezes interrogo-me se o ódio vem da indústria ou do país em si, o cinema de Hollywood sempre foi o grande agitador do panorama mundial. E, se é verdade que a indústria já conheceu melhores dias, também não é menos erróneo afirmar que existe muito bom cinema a sair de lá e o preconceito é, muitas vezes, injustamente irritante. Martin Scorsese analisa o cinema de outros tempos. E que belo cinema o era. E que bem estrturado é este documentário, que delícia é ouvir Scorsese sobre os seus filmes favoritos, sobre os filmes que mudaram a indústria, sobre as pessoas que nela trabalharam. E em instância última, Scorsese fez-me descobrir novo cinema, cinema que não conhecia e pelo qual me apaixonei. Como é que este documentário pode ser algo menos do que um filme da minha vida?

. L.A CONFIDENCIAL
(1997, L.A. Confidential, Curtis Hanson)



Paul Schrader e Martin Scorsese defendem que o film noir é só um estilo, um sub-género do crime/thriller; outros críticos vêm-no como um género propriamente dito, dada a sua influência e o período de mais de 15 anos onde foi fértil e vasto. Seja como for, é o estilo/género da minha vida. Dificilmente outro tipo de filme exemplifica de forma tão interessante a verdadeira natureza do ser humano. LA Confidential, baseado na homónima obra do polémico James Ellroy, é um épico do noir, uma história que em pouco mais de duas horas consegue conciliar três tramas distintas, desenrolar uma conspiração e, ao mesmo tempo, entreter enquanto cria sequências memoráveis, subversivas e surpreendentes. Curiosamente, esta lista
dos filmes da minha vida não inclui um
noir "verdadeiro". Double Indemnity, The Killers, The Big Heat, Out of the Past, Murder, My Sweet, The Night of the Hunter, This Gun for Hire, poderiam perfeitamente figurar na lista e seria apenas natural que isso se sucedesse dada a influência que tiveram no meu crescimento cinematográfico. Mas na verdade escolhi LA Confidential porque mee mostrou que o noir não está morto, o género/estilo em que mais acredito ainda tem uma palavra a dizer e pode ser levado a sério nos dias de hoje. O noir que é tantas vezes injustamente parodiado vê os seus subversivos contornos ridicularizados em obras infantis que falham em perceber a sua essência. Mas não L.A. Confidential, não o filme que me fez voltar a acreditar no noir contemporâneo.

. A MULHER QUE VIVEU DUAS VEZES + A BELA DE DIA
(1958, Vertigo, Alfred Hitchcock) + (1967, Belle de Jour, Luis Buñuel)





Dois filmes tão diferentes ligados por um elo comum: a obsessão. Separados por nove anos, as obras de Hitchcok e Buñuel foram-me muito marcantes pela forma como exploram a sexualidade, os mais íntimos e escondidos desejos animalescos e a poder da irracionalidade ante a racionalidade. Hitchcock, por um lado, é sempre mais reservado mas invariavelmente acutilante e venonoso. O seu humor negro faz deste Vertigo uma obra-prima, possivelmente o seu melhor e mais complexo filme. O trabalho de Buñuel é mais explícito, mas nem por isso menos complexo. E se Vertigo e Belle de Jour são ambos filmes da minha vida, são-nos dado o contexto e os claramente distintos períodos em que foram vistos o que, de certo modo, me levaram a retirar conclusões que ainda hoje observo, dia após dia, e justificam o cinema como a arte da vida em movimento, independentemente de quanto este é romanceado. Gostei de ver Hitchcock ser agressivo em 58 e gostei ainda mais da audácia de Buñuel em 67 ao explorar os desejos de uma mulher à mercê da sua insatisfação sexual. Por um lado, a obsessão pela figura, por outro, a obsessão pelo que nos é inerente e incontrolável. Hitchock e Buñuel, dois visionários, dois surrealistas à sua própria maneira, dois capazes de fazer um filme, um dos filmes da minha vida.

CAMINHO PARA DOIS
(1967, Two for the Road, Stanley Donen)



Vi-o numa altura muito peculiar da minha vida. Além de ser um dos mais cruéis e fiéis retratos da vida marital, mostrou-me uma outra Audrey Hepburn (paixão antiga) e o seu poder que vai muito além das suas afáveis e encantadoras personagens em Breakfast at Tiffany’s e Roman Holiday. A fita de Stanley Donen andou perdida no tempo. O homem responsável por Singin’ in the Rain ou Charade revelou uma enorme versatilidade e um excelente director de actores, nomeadamente, de Hepburn. Arriscaria a dizer que ela tem a sua melhor performance neste filme, não a mais carismática, mas a mais complexa e marcante. E todas as circustâncias que envolvem a relação entre Hepburn e Finney são tão reais quanto a sua própria natureza. Houvesse uma dose de humor mais elevada e um tom mais suave e estaríamos perante uma obra-prima de Woody Allen. No entanto não é Allen que toma as rédeas. É Donen e com ele o sarcasmo atinge limites ousados mas que resultam em prol de um fita que me fez pensar, e muito, sobre a felicidade, sobre relações e sobre o que significa passar uma vida com alguém ao nosso braço. Ainda hoje observo o que se passa à minha volta e vejo imagens de Two for the Road a querer marcar o teste do tempo, a mostrar que as relações, não obstante as restrições inerentes ao tempo em que são vividas, são intemporais. E intemporal é também a forma como estas são vividas.

< — A ORGIA DO PODER + OS HOMENS DO PRESIDENTE
(1969, Z, Costa-Gavras) + (1976, All the President's Men, Alan J. Pakula)





São dois filmes fundamentalmente diferentes é certo, mas são unidos pela qualidade do argumento, das interpretações, da realização, e claro está, do tema em comum: a corrupção nos corredores do poder. Ambos são longas-metragens de investigação, mas o que se revela verdadeiramente interesssante é o espectro em que ambas as películas foram concebidas e a, digamos, "aura" que as envolve. Por um lado, All the President’s Man (Alan J. Pakula) não me parece uma obra de Hollywood e, por outro, Z (Costa-Gravas) não me parece a típica obra Europeia. Ambos estão numa zona neutra, uma zona que não cede a pressões externas e mesmo assim critica, rasga e acusa. Foram filmes que me marcaram pelo seu realismo. Não sei se serão docu-dramas ou meros dramas, mas fascina-me a forma como se desenvolve a descoberta de uma conspiração. E não é fácil fazê-lo. Muitos foram os que tentaram e falharam (um das minhas maiores desilusões é The Parallax View, curiosamente do mesmo Pakula). Mas estas duas películas epitomizam o género de filme que um dia gostaria de fazer, marcaram-me pelo engenho do argumento (e quão difícil é escrever algo assim), pela simplicidade dos processos e pela mordaz crítica social, ainda que objectiva mas tantas vezes em subtexto.

Menção Honrosa: THE WIRE
(2002, The Wire, David Simon)



Muito simplesmente porque cada episódio é um filme de uma hora, melhor interpretado, escrito, dirigido e fotografado do que a maior parte do cinema contemporâneo. Divido em cinco temporadas, cada uma explorando uma problemática distinta na cidade de Baltimore mas unidas por um elo comum, The Wire é um épico do crime, uma obra incrivelmente realista e sensata. Mas tudo isto não é apenas sobre Baltimore. Essa cidade podia ser qualquer uma outra em qualquer país do mundo. É uma série que se desenvolve com um calculismo e uma frieza avassaladores, e as raízes da corrupção vão lentamente, episódio após episódio, temporada após temporada, sendo desnudadas. Não são os bravos quem ganham a guerra, porque não há bravos. E também não são os vilões, porque na verdade não há vilões. Há pessoas e dificilmente alguma série mostrou de forma mais explícita o que significa ser, em toda a sua latitude, uma "pessoa". É The Wire uma série ou uma longa, longa-metragem? Pode ser ambas diria. The Wire marcou-me profundamente como um analista da sociedade e fez-me olhar para o espectro televisivo como uma extensão da sétima arte, algo que nunca um produto televisivo havia feito antes.

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Obrigado, Filipe, pela tua participação!

quinta-feira, julho 07, 2011

#16



... segundo o Jorge Rodrigues, do Dial P For Popcorn:

1. 2001: ODISSEIA NO ESPAÇO
(1968, 2001: A Space Odyssey, Stanley Kubrick)



O mais admirável e grandioso, para mim, da riquíssima filmografia de Kubrick, este filme é uma experiência sensorial fascinante, que junta, de forma maravilhosa, riqueza visual e portento sonoro. Uma ode a uma técnica prodigiosa, este é sem dúvida o filme que me mostrou a mim que nunca haverá um realizador tão dotado e visionário como este. Uma obra-prima imortal.

2. 8½
(1963, , Federico Fellini)



Contado da perspectiva do realizador (cuja personagem, subentende-se, é uma encarnação do próprio Fellini, supostamente perdido na sua carreira), este é o melhor filme que já vi sobre cinema. Relatando a história privilegiando imagem sobre conteúdo, baseando todo o filme no limbo entre a fantasia e a realidade, o processo de Fellini é irrepreensivelmente fascinante, quase mágico até – ele revela, ele desconstrói, ele só mostra o que nos quer deixar ver. Este é um filme para se deixar levar – e se maravilhar. Quando termina, faz-nos sentir como se tivéssemos chegado de uma viagem longa mas surreal.

3. EVA
(1950, All About Eve, Joseph L. Mankiewicz)



Rico em discussões, discórdias e confusões, cheio de inteligência, elegância, fluidez e muita personalidade, um argumento sagaz e muito perspicaz na forma como analisa os bastidores do teatro e da fama e celebridade e um confronto que faz a tela pegar fogo. Na teoria, este filme tinha tudo para dar certo. Mankiewicz e o elenco deram 100% de si mesmo para assegurar a universalidade e a pertinência deste filme para muitos séculos que hão-de vir.

4. ANDREI RUBLEV
(1966, Andrey Rublyov, Andrei Tarkovskiy)



Brilhante em termos técnicos, de ritmo deliberadamente lento, uma história fascinante na forma como retrata a Rússia do século XV, ANDREI RUBLEV o filme mais enigmático e complexo do genial Tarkovsky, é pura poesia cinematográfica, uma película surpreendente sobre a transcendência na arte, na fé, na vida.

5. CHINATOWN
(1974, Chinatown, Roman Polanski)



Um thriller noir nada convencional que vive muito da capacidade perceptiva e mestria do grande realizador Roman Polanski (em topo de forma aqui, naquele que é o seu maior trabalho) e da interpretação fabulosa tanto de Jack Nicholson como de Faye Dunaway. Nota-se na forma cuidada como cada frame está disposto (uma composição imaculada), na subtileza de vários detalhes e na forma como o filme nos prende do princípio ao fim, envolvendo-nos numa trama sem par.

6. O MUNDO A SEUS PÉS
(1941, Citizen Kane, Orson Welles)



Tecnicamente perfeito, não desperdiçando um segundo sequer de película, exuberante na forma profunda como narra o passado de Charles Foster Kane, que ensina uma valiosíssima lição sobre a vida: nós só sobrevivemos nas memórias dos outros, não no que outrora possuímos ou fizemos. Seremos imortais porque assim nos tornámos no imaginário das pessoas. Charles Kane era um simples homem — mas na mente dos outros, tornou-se mais do que isso. A história extraordinária de um homem tão singular e único, CITIZEN KANE funciona como uma revelação, como um épico que de épico nada tem e que fica para sempre nos anais da história como um dos maiores filmes que o cinema alguma vez produziu.

7. ANA E SUAS IRMÃS
(1986, Hannah and Her Sisters, Woody Allen)



O filme mais maduro do enorme contador de histórias, narrador de neuroses suburbanas e de relacionamentos periclitantes que é Woody Allen, HANNAH AND HER SISTERS convence por ser genuíno, por ter um coração tão grande quanto a profundidade comédica do seu argumento, por aliar tão bem o intelectual com o enérgico, por retratar de forma tão curiosa e tão autêntica as complexas relações entre três irmãs e as várias pessoas que giram e se interconectam nas suas vidas. Apaixonante, igualmente divertido e sério, sobretudo sincero e honesto, este é o Woody mais completo que eu já vi.

8. NASHVILLE
(1975, Nashville, Robert Altman)



Nunca vi um filme como este e nunca mais, suspeito eu, irei ver. Robert Altman é único e este NASHVILLE é a sua obra-prima mais Altmanesca. Um elenco sublime e todos com participações gloriosas, num entrelaçar de várias histórias compilado que ajuda e muito na construção da atmosfera colorida, envolvente e tão peculiar pela qual a grande cidade do Tennessee, capital mundial da música country (que também tem um grande papel no filme), é universalmente conhecida e que o filme tão bem retrata. Influente, inspirador, desafiador de convenções, NASHVILLE é um dos clássicos modernos mais importantes do nosso tempo.

9. A MÁSCARA
(1966, Persona, Ingmar Bergman)



Hipnótico, complexo, absorvente, profundo, perfeito, PERSONA é a maior obra-prima do gigante do cinema universal que é Ingmar Bergman. Filmado experimentalmente a preto e branco, um exercício artístico assumido desde logo por parte do auteur, PERSONA impressiona e marca tanto pela sua simplicidade de conteúdo como pela complexidade das suas personagens e da relação estabelecida entre elas. Profundamente emocional, é uma experiência que dificilmente irei esquecer.

10. MADAME DE...
(1953, Madame de..., Max Ophüls)



Uma rica composição, excelente a conferir atmosfera e exímio na forma como explora a amplitude de movimentos da câmara, impressionante em termos visuais, esta obra-prima inesquecível de Ophüls, notável connaisseur do espaço e da emoção, capaz de criar o mais incrível dos dramas a partir da mais singela e vulgar ideia, hábil realizador consumido pela sua curiosidade e fixação pelos seus sujeitos, eternamente conhecido como o virtuoso cineasta do romance, é uma belíssima e arrebatadora experiência catártica.

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Obrigado, Jorge, pela tua participação!

segunda-feira, junho 06, 2011

#13



... segundo as palavras do Pedro Ponte, do blog Ante-Cinema:

1. JULES E JIM
(1962, Jules et Jim, François Truffaut)



O epítome da Nouvelle Vague e de tudo o que Truffaut fez ao longo de três décadas. Um filme provocante, absurdamente romântico, idealista e trágico.

2. 8½
(1963, , Federico Fellini)



Uma obra absolutamente essencial para compreender não apenas o cinema mas também o processo criativo em si, incida ele sobre que forma de arte incidir.

3. DR. ESTRANHO AMOR
(1964, Dr. Strangelove or: How I Learned to Stop Worrying and Love the Bomb, Stanley Kubrick)



O primeiro filme que me vem à cabeça quando penso em Kubrick não é 2001 ou LARANJA MECÂNICA, mas sim o mais atípico da sua carreira. Uma das coisas mais brilhantes já filmadas; uma criação nascida de um idealismo profundamente anti-guerra mas também de um humor do mais negro concebível.

4. A MULHER QUE VIVEU DUAS VEZES
(1958, Vertigo, Alfred Hitchcock)



A essência do cinema de Hitchcock. Um filme fabuloso, que nunca deixará de desafiar, intrigar e perturbar — tudo o que Hitch adorava fazer.

5. VELUDO AZUL
(1986, Blue Velvet, David Lynch)



Um dos primeiros filmes a despertar em mim coisas que não fazia ideia sequer que existiam. Capaz de chocar, frustrar e maravilhar, é em muitos sentidos o filme mais 'Lynchiano' já feito: surreal em imagens e ao mesmo tempo realista na forma como aborda temas como a sexualidade e a natureza boa vs. má do Homem.

6. ANNIE HALL
(1977, Annie Hall, Woody Allen)



Tudo aquilo a que Woody Allen se dedicou estudar (por detrás do humor, das neuroses, do intelectualismo) está presente neste maravilhoso filme: um olhar memorável e hilariante sobre as relações contemporâneas. Dos poucos filmes que posso — e poderei — rever todos os anos durante toda a minha vida.

7. PULP FICTION
(1994, Pulp Fiction, Quentin Tarantino)



Muito mais que um simples ícone da cultura popular ou um marco dos anos 90. Ironicamente moralista, tendo em conta o quão violento, sádico e profano consegue ser e pela forma como Tarantino se diverte genuinamente a "brincar" com a facilidade do Homem em escolher a violência e o crime, mantém-se até hoje como um dos filmes mais solenemente realizados e escritos de sempre.

8. DISPONÍVEL PARA AMAR
(2000, In the Mood for Love, Wong Kar-wai)



Descobri Wong Kar-wai tarde, mas talvez seja quem me ensinou que é possível captar a essência da beleza em filme. Eventualmente o filme mais belo que vi até hoje.

9. O FABULOSO DESTINO DE AMÉLIE
(2001, Le Fabuleux Destin d'Amélie Poulain, Jean-Pierre Jeunet)



Anti-cinismo puro, deliciosamente romântico e encantador. Uma autêntica dose de encanto e pura inocência, cada vez mais raros nos dias de hoje.

10. O REI LEÃO
(1994, The Lion King, Roger Allers e Rob Minkoff)



Para terminar (mas sem dar demasiada relevância à ordem), o filme que mais me terá marcado até hoje, por ter sido a primeira experiência dentro de uma sala de cinema e, como tal, inesquecível. Expoente máximo (a par de A BELA E O MONSTRO) da segunda vaga da Disney, continua a ser exactamente o mesmo filme que foi no longínquo inverno
de 94: mágico, encantador, possuidor de valores familiares muitas vezes esquecidos, relevante para o crescimento de qualquer pessoa e para relembrar os que já cresceram de coisas importantes, muitas vezes esquecidas pelo caminho.


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Obrigado, Pedro, pela tua participação!

sexta-feira, abril 17, 2009

5 Momentos Memoráveis

#4: "IT'S ALL IN YOUR HEAD..."

Representar onirismo num filme será, para muitos realizadores, uma tentação irresistível. É um desafio, uma tarefa exigente do ponto de vista técnico e plenamente satisfatória (para criadores e espectadores) quando o produto final salda-se numa sublime experiência cinematográfica.

Aqui ficam cinco sequências, acompanhas de uma merecida citação honrosa, que exploram os estados mais surrealistas da nossa mente. Umas mais perturbadoras, outras jocosas, todas inesquecíveis.

Menção Honrosa: QUERES SER JOHN MALKOVICH? (1999), de Spike Jonze



Para além da sua fabulosa originalidade, este filme destaca-se pela coragem de John Malkovich, um dos meus actores favoritos e possuidor de versatilidade parcamente vista nos dias que correm, em alinhar nesta auto-paródia da sua figura pessoal e profissional.
O momento em que Malkovich apercebe-se da existência de um "portal" que dá acesso à sua própria mente, proporciona um momento bizarro e prodigioso como poucas vezes o Cinema nos permitiu conhecer.



5. REPULSA (1965), de Roman Polanski



Uma alegoria de horror sobre os medos da sociedade e repressão sexual, Polanski recorreu, nesta obra, a uma miríade de técnicas em que sonhos, imaginação e realidade quotidiana surgem na mesma "dimensão".
Aqui, observamos a vertiginosa ruína psicológica de Carol (Catherine Deneuve), onde tudo e todos são vistos como ameaça. Até as paredes do seu apartamento conseguem ganhar vida...



4. JULIETA DOS ESPÍRITOS (1965), de Federico Fellini



Também recorrendo a um tema mundano - neste caso, a frustração matrimonial - para um eficaz "show" de alucinações em grande ecrã, Fellini utiliza a cor (JULIETA DOS ESPÍRITOS assinala a primeira experiência do cineasta com o Technicolor) e uma extravagante banda sonora de Nino Rota, para compor as visões da protagonista em luta com a sua educação religiosa opressiva e a liberdade que tanto busca.
Fellini admitiu, anos mais tarde, o consumo de LSD durante a preparação das cenas abaixo reproduzidas. Ou a prova de que, por vezes, o brilhantismo surge pelos caminhos mais "suspeitos"...







3. VIAGENS ALUCINANTES (1980), de Ken Russell



As drogas são mesmo uma coisa tramada. E William Hurt, no primeiro filme da sua carreira, sentiu na pele (e, claro, na consciência) os efeitos de uma "trip" mal digerida.
Ken Russell sempre foi um realizador interessado na exploração de estados mentais fora do comum (THE DEVILS ou TOMMY atestam-no), mas em VIAGENS ALUCINANTES essa preferência foi levada ao máximo numa sequência de (permitam-me um apropriado adjectivo relativo a estupefacientes) viciante observação.



2. A QUIMERA DO OURO (1925), de Charles Chaplin



Poucos foram os cineastas, em 100 anos de Cinema, que almejaram bom gosto na concepção de humor acerca dos dramas humanos. Charles Chaplin demonstrou a total posse desta capacidade neste filme, ao "satirizar", sem ofender, as precárias condições de muitos prospectores durante a corrida ao ouro do Alasca, em 1898. A fome (e, no seu panorama mais extremo, o canibalismo) foi um dos aspectos mais dramáticos daquela era.
Quando o Vagabundo é obrigado a partilhar uma cabana, isolada pela neve, com o possante e ameaçador prospector Big Jim, e sem uma grama de comida à vista, tudo pode acontecer: desde o singelo "banquete" de uma bota até às mais estranhas visões de "animais" comestíveis nas montanhas rochosas do Alasca...



1. O FESTIM NU (1991), de David Cronenberg



O complexo livro de William S. Burroughs é, sem dúvida, material feito à medida da visão iconoclasta do mundo de David Cronenberg. Esta união, apelidada por muitos como «made in heaven», saldou-se num filme fascinante, repugnante q.b. e totalmente alucinante.
A Interzone, para onde William Lee (um alter ego do próprio Burroughs) é enviado com a tarefa de compor "relatórios", é um local onde pulula todo o género de criaturas - até uma peculiar máquina de escrever dita as frases mais apropriadas para o trabalho do protagonista. Esta será, provavelmente, a cena mais perturbante entre as que destaco, mas não é um facto que Cronenberg nunca foi um realizador de filmes "confortáveis"?



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