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terça-feira, abril 23, 2013

O Cinema dos Anos 2000: Embriagado de Amor, de Paul Thomas Anderson




Depois de elevar a fasquia com os notáveis BOOGIE NIGHTS — JOGOS DE PRAZER (1997) e MAGNOLIA (1999), e tornar-se numa espécie de wunderkind do cinema norte-americano, Paul Thomas Anderson, num argumento brilhantemente escrito pelo próprio, torna uma das mais criativas histórias de amor da última década numa imaculada fábula contemporânea.

Deliciosamente excêntrico, PUNCH-DRUNK LOVE — EMBRIAGADO DE AMOR é, como qualquer outra obra do cineasta, um cerebral retrato de uma vida em mudança, uma desconstrução de maneirismos e neuroses, sejam eles expressados através do hábil trabalho de câmara ou via diálogos tão imprevisíveis quanto politicamente sarcásticos. Paul Thomas Anderson faz do seu mundo, todo ele um caos controlado no limiar da ebulição, um peculiar cubo de Rubik cujas peças vão ganhando forma e cor a cada novo comportamento. E quando estas dinâmicas são pautadas por uma inquietante composição de Jon Brion e uma narrativa em constante morfose, um ideal de realismo vai-se desvanecendo numa enternecedora nostalgia. O cineasta, também um tremendo escolar, usa, em todo o seu arrojo e latitude, as ferramentas cinemáticas que lhe estão disponíveis para oferecer às suas audiências uma experiência sensorial única. Auxiliando a sua visão, Adam Sandler dá vida, num registo impressionante, a um Barry Egan no limiar da insanidade, tornando-se, a par do incontornável Philip Seymour Hoffman, na força motriz da narrativa.

EMBRIAGADO DE AMOR é talvez a película menos explosiva da filmografia de Paul Thomas Anderson, mas certamente a mais intimista, um filme como poucos fazem, uma história que se preocupa menos com adornos visuais (não tirando mérito a um trabalho imaculado de Robert Elswitt), e mais com a especificidade do humanismo. Numa década infestada pela incessante estrutura formulaica no espectro da dita "comédia-romântica", são filmes como este que redefinem uma era e separam o artesão do emulador.

por Filipe Coutinho (Cinema is my Life).

Elenco
. Adam Sandler (Barry Egan), Emily Watson (Lena Leonard), Philip Seymour Hoffman (Dean Trumbell), Mary Lynn Rajskub (Elizabeth), Luis Guzmán (Lance), Robert Smigel (Walter)


Palmarés
. Festival de Cannes: Melhor Realizador (Paul Thomas Anderson)
. Festival Internacional de Gijón: Melhor Actor (Adam Sandler), Melhor Argumento (Paul Thomas Anderson)


Sobre Paul Thomas Anderson

Destemido, inovador e artisticamente comprometido, PTA consegue, simultaneamente, quebrar as convenções e homenagear o cinema clássico norte-americano em cada filme seu. Considerado como um dos melhores realizadores da sua geração, a sua filmografia já abordou a indústria do cinema pornográfico (BOOGIE NIGHTS — JOGOS DE PRAZER, 1997), o drama mosaico (MAGNOLIA, 1999), a ganância económica (HAVERÁ SANGUE, 2007) e o épico histórico filmado em 70mm (O MENTOR, 2012).



sábado, fevereiro 23, 2013

Em contagem decrescente para os Oscars...



...a um dia da cerimónia e antes das apostas finais, é altura de invocar os filmes e os nomes que (na opinião do Keyzer Soze) a Academia "esqueceu" nas nomeações da sua 85ª edição.

Eis mais um ano com muitas e notáveis omissões para a cerimónia do próximo Domingo. Portanto, não custa muito listar os especiais casos de:

O MENTOR, para Melhor Filme



Profunda e desencantada metáfora à História dos Estados Unidos, O MENTOR é, igualmente, uma das obras esteticamente mais interessantes das últimas décadas à qual a Academia não foi capaz de proporcionar atenção pública com, no mínimo, uma nomeação para o Oscar mais sonante da próxima noite dos Oscars. Rodado em fulgurante 70mm, desenvolvendo o seu argumento e temática através da imagem, banda sonora e atmosfera, o facto de Paul Thomas Anderson (Melhor Realizador), Mihai Malaimare, Jr. (Melhor Fotografia) e Jonny Greenwood (Melhor Banda Sonora) não estarem nomeados constitui um irónico decréscimo à qualidade do lote de candidatos a um Oscar este ano.



Quentin Tarantino, por DJANGO LIBERTADO, para Melhor Realizador



A narrativa de DJANGO LIBERTADO é como Quentin Tarantino: respira Cinema em cada centímetro de película. Homenagem a diversos géneros secundários (o Western Spaghetti, o blaxpoitation, o Hollywood Classical Style, etc.) da Sétima Arte, revela-se entretenimento e polémico em doses generosas e susceptível de múltiplas análises morais que, talvez, nunca foram pretendidas pelo cineasta. A Academia não se "seduziu" pelo virtuosismo de Tarantino.

Kathryn Bigelow, por 00:30 A HORA NEGRA, para Melhor Realizador



A estética do cinema de acção em função da vincada postura autoral de Kathryn Bigelow já não surpreende quem acompanha a sua carreira. A narrativa, emocionalmente seca e moralmente ambígua, converteu 00:30 A HORA NEGRA num dos filmes do ano, ornada por uma meia hora final de intensa proficiência técnica. Contudo, nenhum desses atributos convenceu os votantes da Academia, impedindo Bigelow de repetir o sucesso de 2009 (por ESTADO DE GUERRA).

John Hawkes, por SEIS SESSÕES, para Melhor Actor Principal



Não é surpresa que os Oscars têm demonstrado, em anos recentes, uma progressiva alteração de tendências e gostos. A prová-lo, temos a ausência de John Hawkes e a sua interpretação de um ser humano extremamente limitado fisicamente — ou o género de papéis que, noutros tempos, figurava quase obrigatoriamente entre os nomeados e (basta recordar o exemplo de Daniel Day-Lewis por O MEU PÉ ESQUERDO) vencedores. Neste caso, o cumprimento dessa "quota" justificava-se inteiramente, ainda para mais quando comparadas com a mediania nomeada de Denzel Washington (FLIGHT — DECISÃO DE RISCO) e Bradley Cooper (GUIA PARA UM FINAL FELIZ).



Jean-Louis Trintignant, por AMOR, para Melhor Actor Principal



O "renascido" Jean-Louis Trintignant demonstrou, no filme de Michael Haneke, argumentos de peso para que registássemos a sua presença na cerimónia do próximo Domingo. Repentino e enigmático retrato, quase extremo, de dedicação matrimonial, bateu forças com uma das interpretações femininas mais arrebatadoras de 2012 (Emmanuelle Riva, uma das favoritas ao Oscar de Melhor Actriz) e desempenhou alguns dos momentos humanos (ou humanistas, dependendo da perspectiva) mais inesquecíveis do Cinema Europeu recente.



Samuel L. Jackson, por DJANGO LIBERTADO, para Melhor Actor Secundário



Enquanto Stephen, o «negro mais racista da História do Cinema» (as palavras são do próprio Jackson), o actor quase desaparece nas nuances psicológicas — definitivamente, um dos principais pontos de discórdia no frenesim mediático em torno da suposta imoralidade racial do filme —, transformação física e frases icónicas do personagem. Depois de lhe ter negado o Oscar por PULP FICTION, a Academia volta a impedir a consagração de Samuel L. Jackson.



A CASA NA FLORESTA, para Melhor Argumento Original



As hipóteses de nomeação do argumento assinado por Joss Whedon e Drew Goddard seriam, indiscutivelmente, um "tiro no escuro". No entanto, há que realçar o poder de subversão para o género do cinema de terror (cada vez mais previsível e a atravessar um longo período de défice qualitativo) de A CASA NA FLORESTA, representando um excelente motivo para a Academia reconhecê-lo como um dos filmes mais criativos, delirantes e "metaficcionais" de 2012.



SAMSARA, para Melhor Fotografia



Raramente um documentário conseguiu obter indicação para Melhor Fotografia (NAVAJO, o último filme documental a ser nomeado nesta categoria, data de 1952). Contudo, a profundidade e dimensão da realidade captada (em 70mm) pelas objectivas de SAMSARA tornam-no num dos grandes feitos visuais do ano transacto e inteiramente merecedor de concorrer à estatueta.



THE IMPOSTER, para Melhor Documentário



Dizer "a realidade é mais estranha do que a ficção" parece adequar-se perfeitamente a THE IMPOSTER. Substancialmente mais sinistro e intrigante que muito do cinema de suspense produzido anualmente, a sua nomeação contribuiria para a acepção do Oscar para Melhor Documentário enquanto prémio realmente determinado em assumir, cinematograficamente, a diversidade e surrealismo existentes no mundo em que vivemos. Uma ausência tão surpreendente quanto os factos apresentados pelo filme.



PIETÀ, para Melhor Filme Estrangeiro



O vencedor do Leão de Ouro no último Festival de Veneza é, igualmente, a obra mais comercial de toda a filmografia do sul-coreano Kim Ki-duk e que, na sua estrutura narrativa básica (história de um reencontro mãe-filho, com o protagonista a encontrar uma espécie de redenção pessoal no fim), poderia ajudar PIETÀ a arrecadar votos suficientes para uma nomeação. Sonegado pela Academia, é uma lembrança da total ausência, este ano, do cinema asiático no Oscar de Melhor Filme Estrangeiro.



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E as vossas opiniões? São, como sempre, muito bem-vindas.

quarta-feira, fevereiro 06, 2013

O MENTOR (2012), de Paul Thomas Anderson



Nos anos 50, um intelectual carismático (Philip Seymour Hoffman) lança uma nova organização religiosa — A Causa. Conhecido como "O Mestre", transforma um jovem vagabundo (Joaquin Phoenix) no seu braço direito. Mas à medida que a igreja começa a ganhar seguidores e peso nos EUA, o jovem começa a questionar a crença que abraçou e a duvidar do seu mentor. — filmspot.pt



Pelo assombro da sua imagética, qualquer análise a O MENTOR deve transcender a mera crítica fenomenológica e sublinhar, no argumento e estética aqui aplicados por Paul Thomas Anderson, a profunda metáfora histórica dos Estados Unidos da América, a subversiva versão da Alegoria da Caverna que patenteia e, num plano não necessariamente secundário, o tomar de pulso à indústria cinematográfica contemporânea.

Ao longo desta história em torno da educação e "esclarecimento" do "animal humano" encarnado (de forma brilhante, diga-se de passagem) por Joaquin Phoenix, sobressai como Anderson descreve uma América pré e pós-Segunda Guerra Mundial em pormenores, os quais são ditados não apenas pelo design de produção de época nem pela recriação de um determinado momento histórico (ou seja, A Causa, supostamente inspirada na fundação da Cientologia), mas pelas subtilezas físicas e psicológicas conferidas às personagens. Nesse processo, toda a ideologia subjacente à década retratada, da mais pacífica à mais imaterial, acaba por ser reflectida na expressiva e tecnicamente surpreendente direcção de fotografia de Mihai Malaimare, Jr. ou na aparente desordem musical da banda sonora de Jonny Greenwood (a quem lhes foi, de modo absurdo, negada as nomeações ao Oscars das suas categorias).







Da América social e oculta, que, por exemplo, o desempenho de Philip Seymour Hoffman simboliza com destreza e fulgor, passamos ao elogio de um cinema norte-americano que há muito cessou de existir. Tal como é feito ao protagonista, Anderson abre-nos a visão aos ambientes do stress pós-traumático de LET THERE BE LIGHT (1946, John Huston), aos grandiosos desertos filmados em 70mm de LAWRENCE DA ARÁBIA (1962, David Lean), à privativa demonstração de poder em O MUNDO A SEUS PÉS (1941, Orson Welles) e aos ambíguos heróis dos filmes pessimistas dos anos 50.

Esta acepção releva para a imediata e obrigatória compreensão de O MENTOR como a obra fílmica norte-americana esteticamente mais fulgurante e desafiadora dos últimos anos: as ideias são sugeridas em vez de frontalmente apresentadas, cuja descodificação é um exercício no qual o espectador engrena rapidamente; e o fascínio das imagens — impossível não destacar a profundidade e dimensão alcançadas, inclusive nas sequências de interiores — causa prazer sensorial, um autêntico convite à interpretação dos temas (identidade social, realização pessoal, libertinagem versus repressão sexual, conservadorismo político, fama controversa e pujança económica) encerrados no argumento.

Narrativamente, O MENTOR até poderá apresentar-se deficitário. Todavia, tal acontece sobretudo por o poder da imagem "agigantar-se" (e não só pelo mencionado recurso ao formato do 70mm) ao da palavra. Porque se, para muitos, Paul Thomas Anderson é o cineasta contemporâneo que melhor herda o legado de Stanley Kubrick em Hollywood, então O MENTOR demonstra ser enfático para a confirmação desse estatuto.

Um filme de culto instantâneo e de qualidade inegável.

sexta-feira, setembro 14, 2012

Hollywood Buzz #182

O que se diz lá fora sobre THE MASTER, de Paul Thomas Anderson:



«The writer-director's typically eccentric sixth feature is a sustained immersion in a series of hypnotic moods and longueurs, an imposing picture that thrillingly and sometimes maddeningly refuses to conform to expectations.»
Justin Chang, Variety.

«It is a movie about the lure and folly of greatness that comes as close as anything I've seen recently to being a great movie. There will be skeptics, but the cult is already forming. Count me in.»
A.O. Scott, The New York Times.

«Two things stand out: the extraordinary command of cinematic technique, which alone is nearly enough to keep a connoisseur on the edge of his seat the entire time, and the tremendous portrayals by Joaquin Phoenix and Philip Seymour Hoffman of two entirely antithetical men.»
Todd McCarthy, The Hollywood Reporter.

«The themes may be contentious, but the handling is perfect. If there were ever a movie to cause the lame to walk and the blind to see, THE MASTER may just be it.»
Xan Brooks, The Guardian.

«Even amongst its most wrenching scenes of unfettered anger and broken loyalty, a volatile sensuality nonetheless invades every frame of Paul Thomas Anderson's arresting THE MASTER.»
Charlie Schmidilin, indieWIRE.

sábado, setembro 08, 2012

Festival de Veneza 2012 — Os Vencedores



Ao décimo primeiro e último dia de Festival, num atribulado anúncio marcado pela confusão na entrega de alguns dos prémios, o júri presidido por Michael Mann atribuiu o Leão de Ouro da 69ª edição do Festival de Veneza a PIETÀ, de Kim Ki-Duk.



Outro grande vencedor do certame é THE MASTER, com Paul Thomas Anderson a arrecadar o Leão de Prata (Melhor Realizador), enquanto Joaquin Phoenix e Philip Seymour Hoffman receberam, ex-aequo, a Coppa Volpi de Melhor Actor.



O prémio de Melhor Actriz foi para Hadas Yaron por LEMALE ET HA’CHALAL (de Rama Bursthein).





Os restantes prémios ficaram assim distribuídos:

Prémio Especial do Júri: PARADIES: GLAUBE, de Ulrich Seidl.

Prémio Marcello Mastroianni (Melhor Actor/Actriz Jovem): Fabrizio Falco, por LA BELLA ADDORMENTATA (Marco Bellocchio) e È STATO IL FIGLIO (Daniele Ciprí).

Melhor Argumento: Olivier Assayas, por APRÈS MAI.

Prémio Melhor Contributo Técnico (Fotografia): È STATO IL FIGLIO, de Daniele Ciprì.

Prémio 'Luigi de Laurentiis' para Melhor Filme de Estreia: KÜF, de Ali Aydin.

O palmarés completo pode ser consultado aqui.

[Imagens: AFP e Getty Images.]
[Vídeo: canal do YouTube do Festival.]

sábado, setembro 01, 2012

Festival de Veneza 2012 — Dia 4



Antes do quarto dia de Festival, em que THE MASTER, novo e antecipadíssimo filme de Paul Thomas Anderson, foi "rei e senhor" das atenções, outro mestre foi homenageado: Francesco Rosi, recipiente do Leão de Ouro de Carreira e com a oportunidade de ver o seu filme IL CASO MATTEI (1972) em edição restaurada:



. THE MASTER, de Paul Thomas Anderson (Selecção Oficial)

Joaquin Phoenix, os produtores Daniel Lupi e JoAnne Sellar, Philip Seymour Hoffman e Paul Thomas Anderson

«Perhaps the element of the film that’s lingered the most for us, even above the fantastic performances, is the rhythm of the film. Languid and dreamlike, it’s as hypnotic as the ‘processing’ that’s central to the Cause, until you’re released blinking and dazed into the daylight once the credits roll.»
Oliver Lyttelton, in indieWIRE.

«The themes may be contentious, but the handling is perfect. If there were ever a movie to cause the lame to walk and the blind to see, THE MASTER may just be it.»
Xan Brooks, in The Guardian.



. È STATO IL FIGLIO, de Daniele Ciprì (Selecção Oficial)

Daniele Ciprì, siciliano de naturalidade e atenção artística

«Although the film’s faintly surreal depiction of the Mediterranean island’s freaks and foibles is entertaining enough, it fails to gel into a satisfying story.»
Lee Marshall, in ScreenDaily.

. LULLABY TO MY FATHER, de Amos Gitai (Fora de Competição)

O realizador Amos Gitai saúda os fotógrafos



. CHERCHEZ HORTENSE, de Pascal Bonitzer (Fora de Competição)

Bonitzer ladeado pelas actrizes Kristin Scott Thomas e Isabelle Carré

«Generally, the film is less about story points than about the characters' relationships and the world they live in, a contempo society that's clearly multicultural but doesn't grant the same value to all cultures.»
Boyd van Hoeij, in Variety.

--//--

[Fotos: CBS News, La Tercera, AFP e Cineblog.it]
[Vídeos: canal do YouTube do Festival]

domingo, agosto 26, 2012

Festival de Veneza 2012 — Antevisão



Veneza prepara-se para acolher, a partir do próximo dia 29 e até 8 de Setembro, a 69ª edição de um dos principais festivais de cinema mundiais.

2012 assinala o primeiro ano de Alberto Barbera enquanto director artístico do Festival, e a mudança já se fez sentir — uma selecção oficial mais reduzida em comparação com as edições anteriores mas enorme em qualidade dos nomes reunidos e consequente expectativa gerada.

O júri internacional, presidido este ano pelo realizador Michael Mann, irá avaliar cerca de vinte obras para decidir qual será o galardoado com o Leão de Ouro para Melhor Filme, de uma selecção que o Keyzer Soze apresenta, de seguida, os seus destaques:

  • Em Competição

  • . THE MASTER, de Paul Thomas Anderson



    Um veterano da Marinha (Joaquin Phoenix) regressa a casa depois da Guerra perturbado e incerto relativamente ao seu futuro — até ao momento em que é aliciado para A Causa e pelo seu carismático líder (Philip Seymour Hoffman).

    . APRÈS MAI, de Olivier Assayas



    Paris, início dos anos 70. Gilles (Clement Metayer) é um estudante secundário completamente embrenhado na efervescência política e criativa do seu tempo, oscilando, tal como os seus colegas, entre o compromisso radical e as aspirações pessoais. Das primeiras experiências sexuais até às revelações artísticas durante uma viagem que termina em Londres, Gilles e os seus amigos terão de fazer escolhas cruciais de forma a encontrarem o seu rumo.

    . BELLA ADDORMENTATA, de Marco Bellocchio



    A história dos últimos seis dias de Eluana Englaro (cujo falecimento nunca ficou totalmente esclarecido) e a sua interacção com uma série de personagens fictícias de diferentes credos e ideologias.

    . PASSION, de Brian De Palma



    Christine (Rachel McAdams) retira prazer do controlo que exerce sobre a jovem e ingénua Isabelle (Noomi Rapace), conduzindo-a cada vez mais longe num jogo de manipulação e sedução, domínio e humilhação. Mas quando Isabelle dorme com um dos amantes de Christine, a guerra instala-se. Na noite do homicídio, Isabelle foi assistir a um bailado, enquanto Christine recebe um convite sedutor. De quem? Ela adora surpresas e dirige-se nua para o quarto onde o amante misterioso a aguarda...

    . PIETA, de Kim Ki-duk



    Contratado por prestamistas, um homem (Jo Min-soo) vive da tarefa, ameaçadora e brutal, de cobrar dívidas a várias pessoas. Sem família nem nada a perder, leva a cabo o seu trabalho independentemente da dor que causa a uma série de famílias. Até ao dia em que uma mulher (Lee Jung-jin) afirma ser a sua mãe. Rejeitando-a friamente à primeira, o homem aceita-a, gradualmente, na sua vida.

    . OUTRAGE BEYOND, de Takeshi Kitano



    A família criminosa Sanno subiu ao estatuto de enorme organização, expandindo o seu poder junto das esferas políticas e das grandes empresas legítimas. Os altos quadros da família Sanno são agora ocupados por jovem executivos, relegando os membros mais velhos para um patamar secundário. Essa fragilidade na hierarquia dos Sanno é exactamente o que detective Kataoka procurava, num momento em que a polícia se prepara para levar a cabo uma rusga a larga escala.

    . SPRING BREAKERS, de Harmony Korine



    Durante uma operação stop, quatro universitárias são detidas pela polícia por posse de estupefacientes. Durante a sua audição em tribunal, a fiança das raparigas é inesperadamente paga por Alien (James Franco), um infame bandido local de coração doce, que lhes proporcionará uma louca viagem de férias.

    . TO THE WONDER, de Terrence Malick



    Após visitarem o Mont Saint-Michel — em tempos denominado pelos franceses como "A Maravilha" (the Wonder) — no auge da sua paixão, Marina (Olga Kurylenko) e Neil (Ben Affleck) mudam-se para o Oklahoma, onde os problemas não tardam em surgir. Marina faz amizade com um padre (Javier Bardem) a atravessar uma crise de fé, e Neil renova os laços com uma amiga de infância, Jane (Rachel McAdams).

    . SINAPUPUNAN, de Brillante Mendoza



    Após sofrer o seu terceiro aborto espontâneo, Shaleha agoniza por não conseguir conceber uma criança. Sentindo que o seu marido Bangas An deseja ser pai, ela decide arranjar-lhe uma companheira mais nova. Dia e noite, Shaleha e o marido procuram nas comunidades vizinhas por uma mulher fértil para Bangas An.

    . LINHAS DE WELLINGTON, de Valeria Sarmiento



    Depois das tentativas comandadas por Junot (1807) e Soult (1809), Napoleão Bonaparte envia um novo e poderoso exército, comandando pelo Marechal Massena, para invadir Portugal em 1810. Os franceses alcançam, facilmente, o centro do país, mas o exército Anglo-Português, liderado pelo General Wellington (John Malkovich), aguarda-os...

    . PARADIES: GLAUBE, de Ulrich Seidl



    Para Annamaria, uma técnica de raios-x, o paraíso reside em dedicar as férias a trabalho missionário. Na sua peregrinação diária em Viena, ela vai de porta em porta transportando uma estátua da Virgem Maria. Um dia, depois de vários anos sem dar notícias, o seu marido, um muçulmano egípcio confinado a uma cadeira de rodas, regressa a casa. Os cânticos e as orações de Annamaria confundem-se com quezílias.

  • Fora de Competição

  • . ENZO AVITABILE MUSIC LIFE, de Jonathan Demme



    Filme sobre Enzo Avitabile, a sua música e Nápoles, que surge da estima recíproca entre dois artistas — Jonatham Demme é, há muito, fã do trabalho de Enzo, conhecido no mundo musical como um apaixonado pela pesquisa e experimentação artística.

    . LULLABY TO MY FATHER, de Amos Gitai



    Amos Gitai narra a história do seu pai, Munio Weinraub, estudante na escola de design e arquitectura Bauhaus, na cidade de Dessau, até ao seu encerramento por Hitler em 1933. Em Maio do mesmo ano, Weinraub é acusado de "traição contra o povo alemão", aprisionado e expulso da Alemanha.

    . BAD 25, de Spike Lee



    Documentário comemorativo do 25º aniversário do álbum 'Bad' de Michael Jackson.

    . THE RELUCTANT FUNDAMENTALIST, de Mira Nair



    Demonstrações estudantis grassam por Lahore, enquanto o jovem professor paquistanês Changez Khan (Riz Ahmed) revela ao jornalista Bobby Lincoln (Liev Schreiber) o seu passado como brilhante analista financeiro em Wall Street, o futuro promissor que tinha à sua frente e de como o iria partilhar com a sofisticada Erica (Kate Hudson). Mas o 11 de Setembro alterou todos os seus planos.

    . O GEBO E A SOMBRA, de Manoel de Oliveira



    Apesar da idade e do cansaço, Gebo (Michael Lonsdale) persegue a sua actividade de contabilista para sustentar a família. Vive com a mulher, Doroteia (Claudia Cardinale), e a nora, Sofia (Leonor Silveira), mas é a ausência do filho, João (Ricardo Trêpa), que os preocupa. Gebo parece esconder algo em relação a isso, em particular a Doroteia, que vive na espera ansiosa de rever o seu filho. Sofia, do seu lado, espera também o regresso do marido, ao mesmo tempo que o teme. Subitamente, João aparece e tudo muda.

    . THE COMPANY YOU KEEP, de Robert Redford



    Jim Grant (Robert Redford) é um advogado dos direitos civis e pai solteiro que educa a filha nos tranquilos subúrbios de Albany. A sua vida muda completamente quando um jovem jornalista, Ben Shepard (Shia LaBeouf), expõe a verdadeira identidade de Grant: um fugitivo radical e anti-guerra que, nos anos 70, foi procurado por homicídio.

    O programa completo, incluindo as secções secundárias, pode ser consultado no site oficial do Festival.

    [Fotos: Cine.gr, CINeol, Movieplayer e Screenweek.]

    sábado, fevereiro 04, 2012

    5 Momentos Memoráveis

    #16: Deleted Scenes



    São raras as expressões artísticas que detêm um carácter tão "plástico" como o Cinema. Enquanto existir material filmado, previamente descartado na sala de montagem mas disponível para visualização, será sempre possível observar as diferentes nuances de uma sequência sobejamente conhecida, descobrir momentos cinematográficos que se tornariam inesquecíveis ou absorver significados totalmente diferentes nos filmes que amamos.

    A revitalização de sequências cortadas ganhou impulso com os director's cut (prática popularizada por Ridley Scott no seu BLADE RUNNER — PERIGO IMINENTE) de vários títulos, transformando a sua visualização em algo de emocionante para qualquer cinéfilo. Os momentos memoráveis também são feitos de sequências que, durante algum tempo, estiveram afastadas do olhar do grande público. Assim, aqui ficam cinco exemplos, acompanhados da habitual menção honrosa, de como "filme acabado" pode ser termo bastante enganador...

    MENÇÃO HONROSA: ALIEN — O 8º PASSAGEIRO (1979), de Ridley Scott



    Um dos aspectos mais brilhantes de ALIEN — O 8º PASSAGEIRO é a sua sonoplastia, que desde o genérico coloca o espectador em permanente sentido de alerta, muito antes da revelação dos horrores que se abatem sobre a tripulação da Nostromo (e convém recordar que tal só sucede a partir da hora de filme...).

    Resignados, por intermédio do computador de bordo, a investigar um sinal acústico de origem desconhecida, cedo se procede à sua descodificação. E caso esta sequência estivesse incluída na montagem final, a natureza agressiva do som assumir-se-ia como um dos primeiros grandes "sustos" do filme.



    5. MAGNOLIA (1999), de Paul Thomas Anderson



    A semântica e grandiloquência das palestras de "auto-motivação masculina", promovidas por Frank 'TJ' Mackey (Tom Cruise), constituem um dos momentos altos do impressionante filme-mosaico que é MAGNOLIA. Contudo, observar o próprio Mackey a colocar em prática os seus "ensinamentos" oferece toda uma nova dimensão, não só à própria personagem, como também ao contexto dramático em que se insere.

    Continuo a achar que Tom Cruise deveria ter sido o recipiente do Óscar de Melhor Actor Secundário daquele ano. Para além da convicção com que proferiu frases como "Respect the cock!" ou "Fucking Denise! Denise the Piece!", eis aqui mais alguns argumentos para apoiar esta opinião...



    4. THIS IS SPINAL TAP (1984), de Rob Reiner



    Neste que é, para mim, o "rei" de todos os mockumentaries, o processo de montagem foi tudo menos nobre. Embora os motivos que justificaram o corte de sequências como esta, ou desta também, permaneçam em mistério, há que agradecer aos deuses da preservação cinematográfica pelo quarto lugar da presente lista.

    Bruno Kirby, no papel do motorista dos Spinal Tap, descobre, da forma mais hilariante possível, os surpreendentes efeitos de substâncias psicotrópicas — e somos brindados com uma preciosa amostra do talento de Kirby, actor a quem falta prestar devido reconhecimento mediático.



    3. NIXON (1995), de Oliver Stone



    Neste tour de force cuja duração excede os 190 minutos, excisar-lhe uma sequência de dez minutos que encena uma reunião pouco amistosa entre Richard Nixon e Richard Helms, naquela altura director da CIA, afigurou-se como decisão lógica e nada prejudicial para a compreensão integral deste magnífico e subvalorizado biopic.

    Embora se limite a reforçar temas sobre a vida de Nixon que o filme já explora em vários momentos-chave — as memórias traumáticas da sua infância, o passado político obscuro, os caminhos sinuosos que a sua Administração percorreu, etc. —, merece destaque nesta lista por provar que é possível haver dinâmica num "simples" confronto de palavras e ideias, enriquecida pelo (saudoso) estilo de montagem histórico-intelectual de Oliver Stone e ainda nos proporciona uma fabulosa declamação do poema The Second Coming, de W.B. Yeats. Electrizante.



    2. O TUBARÃO (1975), de Steven Spielberg



    Só com o argumento de que "abrandaria o ritmo" do filme se pode explicar a omissão desta hilariante sequência. Reveladora do lado mais bipolar e diabólico de Sam Quint (Robert Shaw) que só testemunhamos na última meia hora de filme, vemo-lo aqui entretido a atormentar os esforços de um jovem clarinetista durante uma interpretação da Nona Sinfonia de Beethoven.

    Sendo tarefa quase impossível determinar o seu contexto no filme de Spielberg, atesta que Quint será, muito provavelmente, a primeira personagem da história do Cinema a merecer um filme só seu — fosse ele prequela ou spin-off...



    1. QUASE FAMOSOS (2000), de Cameron Crowe



    Cameron Crowe afirmou que, caso soubesse que lhe seria vedada permissão para incluir esta sequência na montagem final, muito provavelmente nunca faria QUASE FAMOSOS. À última da hora, a produção não conseguiu assegurar os direitos de «Stairway to Heaven», dos Led Zeppelin, e observando a cena, percebe-se como não faria qualquer sentido utilizar outro tema que não esse para o jovem protagonista (Patrick Fugit) demonstrar à sua mãe (Frances McDormand), reticente em deixar o filho adolescente acompanhar uma tournée de um grupo musical, o poder do rock'n'roll.

    Dez fabulosos minutos de Cinema, recheados de elementos visuais e sonoros que nenhum cinéfilo se deveria privar de assistir.



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