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sexta-feira, março 01, 2013

O Cinema dos Anos 2000: Uma Introdução



A "morte do Cinema tal como o conhecemos" transformou-se, ao longo das últimas duas décadas, na frase determinante em torno de uma franja considerável da análise cultural e económica da Sétima Arte. Desde os debates promovidos por Susan Sontag sobre o assunto, passando pela crescente diminuição de espectadores nas salas de cinema até à afirmação da produção Hollywoodesca como responsável (ou não) pela deterioração da qualidade cinematográfica contemporânea, os argumentos prendem-se, maioritariamente, em dois aspectos: narrativa e progresso tecnológico.

No que diz respeito à narrativa, e numa recapitulação breve e cautelosa, é possível afirmar que nunca deixou de existir criatividade e profundidade, dentro e fora de Hollywood, nos guiões das obras geradas no período compreendido entre 2001 e 2010. A busca por novas fronteiras de storytelling, assim como da sua subversão ou de uma postura arraigada aos mecanismos clássicos do "contar uma história", estiveram constantemente presentes no grande ecrã — um sinal da existência contínua de inquietação criadora mainstream e autoral.

Tecnologicamente, a última década assinalou não só o estabelecimento da imagética concebida por computador (normalmente apelidada de CGI), como também o progressivo abandono da película — o formato no qual o Cinema foi produzido e distribuído durante o seu primeiro século de vida — por meios digitais de filmagem e projecção. E tornou-se demasiado evidente que é, de facto, este duplo "dilema digital"* que se assume como um dos pontos fulcrais de qualquer retrospectiva dedicada aos filmes dos anos 2000.

Ponto assente, a tecnologia digital alterou radicalmente os métodos de produção de Cinema, deixando de ficar cingida à sua mera utilização de efeitos especiais, concebendo novas abordagens estéticas (incluindo as assumidas por parte dos "irredutíveis" da película) e, de Godard a David Fincher, nenhum cineasta lhe foi indiferente. Além disso, o reflexo deste paradigma nas estruturas narrativas e temáticas, durante a década passada, também não se deixou de sentir, pois assistiu-se, e como em nenhum outro momento da História da Humanidade enquanto detentora da capacidade de registar imagens em movimento, ao alargamento destes novos recursos técnicos a praticamente todos os géneros cinematográficos.

Esta e outras influências estarão inevitavelmente perspassadas na presente iniciativa, O Cinema dos Anos 2000. Almejando caracterizar dez anos de variedade temática e geográfica da Sétima Arte, em todas as suas vertentes — do drama à comédia, do terror ao romance, do documentário à animação — e numa dinâmica de "um realizador, um filme" (existem inevitáveis excepções, como são os casos de Spielberg, Godard ou Gus Van Sant), resumir-se-à a década em cerca de 245 filmes.

Nos próximos meses, serão publicadas, neste espaço, as opiniões redigidas por vários bloggers convidados sobre os títulos seleccionados para caracterizar o Cinema da última década, permitindo "recriar", igualmente, a revolução que a figura do blog de cinema representou para a percepção da produção fílmica que nos chegou entre 2001 e 2010.

Esta iniciativa só ficará completa e incisiva com os vossos comentários e reacções. Contamos convosco!

* "O Dilema Digital" é, igualmente, o título de um relatório elaborado pela Cinemateca Brasileira sobre os desafios da preservação do Cinema em suportes digitais, cuja leitura recomenda-se.

segunda-feira, janeiro 07, 2013

Por uma definição justa de pirataria

A pirataria é um mal que paira sobre a Humanidade. Todas as semanas, navios de praticamente todas as nacionalidades correm grandes riscos de serem abordados por piratas somalis nos Mares Arábico e Índico. Enquanto isso é um atentado à integridade física de pessoas e um roubo de produtos físicos — e a também antiga contrafacção de artigos coloca em risco a vida ou a saúde das pessoas — os governos e entidades mais ou menos oficiais preocupam-se principalmente com um tipo de pirataria bem mais ofensivo ou perigoso: a democratização do conhecimento cultural, através da partilha de conteúdos digitais.

Os conteúdos digitais foram uma invenção da indústria. Dando variedade de formatos e portabilidade, tencionavam vender mais, mais depressa e com maior lucro. E tal como no tempo dos gravadores de VHS, os consumidores contornaram as regras. Se há vinte anos as revistas apoiavam o consumidor fornecendo capas e códigos para gravar à hora certa, agora são os próprios fornecedores de serviços televisivos a permitir a gravação e visionamento posterior com um mínimo de esforço. E isso é legal porque, apesar de os fabricantes de conteúdo não gostarem, como são empresas que o fazem pagam impostos, continua a ser negócio. Os consumidores agradecem o serviço prestado.

Vender DVD contrafeitos é ilegal. Porque nesse cenário não ganha quem faz o conteúdo, nem quem o vende paga impostos sobre o seu trabalho. O consumidor agradece pagar menos do que por um bilhete de cinema ou uma cópia oficial e, como os tempos estão difíceis, já sente que é justo cortar numa despesa "supérflua" como é o entretenimento. Disponibilizar conteúdos online equivale ao anterior porque, atingindo determinada escala, começa a arrecadar quantias consideráveis de dinheiro com a publicidade.

E se quem os coloca online não estiver a ter lucro, nem a roubar a ninguém? Esse era o caso do blog My One Thousand Movies.



Os três mil filmes que tinha eram clássicos que não se encontram à venda nem passam na televisão. Pretendiam dar a conhecer o património cinematográfico da humanidade. Serviam para descobrir cineastas esquecidos e obras de culto, mas com pouca resolução para que ninguém se sentisse tentado a ficar com essa versão em vez de se dedicar a procurar no mercado convencional de importação uma versão melhor. Outra vantagem é que no My One Thousand Movies todos os filmes tinham legendas em português ou numa língua mais ou menos compreensível. Na importação não.

Dia 16 foi fechado pela Google sem qualquer aviso por incentivo à pirataria. Estamos a falar de filmes quase impossíveis de encontrar no mercado, que em nada rivalizavam com a versão comprada, se existisse uma, e que tinham no máximo uma centena de downloads provenientes de todo o mundo, não apenas de Portugal.

O que o My One Thousand Movies fazia era complementar (ou substituir) a missão da deficiente televisão pública de educar cinéfilos. Muitos bloggers recorreram a este repositório para rever um título acarinhado, ou, a partir do filme e da pequena resenha que o acompanhava, fazerem publicações com as quais muitas outras centenas de pessoas ficaram com vontade de descobrir um cinema marginal e esquecido.
Isto não é pirataria, é serviço público, e é preciso (re)definir o enquadramento legal adequado.

Se alguém errou no meio disto tudo foram as distribuidoras que não viram interesse em comercializar os filmes. Ninguém o pode ver porque não compensa comprar os direitos e fabricar para pouca gente? Sugeríamos que houvesse um videoclube online no qual, por um valor simbólico, se pudesse ver o filme contribuindo para a distribuidora.

A distribuidora não teria encargos com a manufactura de cópias físicas que ficariam a ocupar espaço em armazém. Os consumidores exigentes encontrariam o que queriam imediatamente sem remexer em caixotes de promoções nas superfícies comerciais. Os retalhistas não estão interessados em ter uma cópia única de milhares de filmes que poderão nunca vir a comercializar, mas estariam interessados em vender cartões pré-pagos de acesso a esse serviço, como fazem para as consolas.

Se o preço fosse suficientemente baixo toda a gente poderia espreitar e talvez descobrir algo único.

Enquanto este tipo de serviço não existir, estaremos sempre dependentes da boa vontade, dedicação e cultura de pessoas como o autor do My One Thousand Movies. Mesmo que achem que isso vai contra a lei. De todos nós, obrigado.

Signatários:
Ana Sofia Santos Cine31 / Girl on Film
André Marques Blockusters
António Tavares de Figueiredo Matinée Portuense
David Martins Cine31
Francisco Rocha My Two Thousand Movies
Gabriel Martins Alternative Prison
Inês Moreira Santos Hoje Vi(vi) um filme / Espalha-Factos
Jorge Rodrigues Dial P for Popcorn
Jorge Teixeira Caminho Largo
Luís Mendonça CINEdrio
Manuel Reis Cenas Aleatórias / TV Dependente
Miguel Reis Cinema Notebook
Nuno Reis Antestreia
Pedro Afonso Laxante Cultural
Rita Santos Not a Film Critic
Samuel Andrade Keyzer Soze's Place / O Síndroma do Vinagre
Victor Afonso O Homem que Sabia Demasiado

terça-feira, julho 24, 2012

Iniciativas Conjuntas #12

Sem hesitação nem pretensiosismo, afirmo que a comunidade blogger cinéfila é uma das mais dinâmicas em Portugal. Segue um exemplo.

A convite do blog Not A Film Critic, fui desafiado a escrever, "sem medos ou censura", sobre o meu guilty pleasure de eleição. Como resposta, ficou esta reflexão:

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Dos títulos cujos percursos ficaram imediatamente afectados pelos atentados do 11 de Setembro de 2001, OPERAÇÃO SWORDFISH foi o que mais "danos colaterais" registou. A seu favor, tinha produção de Joel Silver, "mago" das super-produções de Hollywood, um elenco de alto calibre (John Travolta, Hugh Jackman, Don Cheadle e, sobretudo, Halle Berry a ocupar a vaga de femme fatale com pouca ou nenhuma roupa), diálogos que podiam muito bem ter sido dactilografados por Quentin Tarantino e sequências de acção quase "orgiásticas" nos seus índices de devastação urbana.

Com todos estes ingredientes, o que poderia falhar? Obviamente, o contexto político-temporal da sua estreia não foi o mais favorável à sugestão de planos ultra-secretos para derrubar estados que acolhem terroristas como refugiados políticos ou visões de prédios a explodir com contornos demasiado semelhantes aos observados nas Torres Gémeas em 2001 — como resultado, OPERAÇÃO SWORDFISH "desapareceu" rapidamente de circulação.

Deste modo, privou-se uma franja considerável de espectadores de um dos actioners que mais empreendeu na difícil tarefa de aliar um argumento coerente com a pura adrenalina ilógica das suas sequências de acção.

Mas o rotundo falhanço desse esforço consciente de seriedade, no seio de uma produção desta natureza, preenche o filme de uma constante atmosfera de exagero e peculiar "supra-realismo" aliada a uma fabulosa auto-paródia ao próprio cinema em que OPERAÇÃO SWORDFISH se insere.

Os contornos deste curioso monológo da personagem de John Travolta, logo nos minutos iniciais e a queixar-se da ausência de realismo que caracteriza a maioria do mainstream norte-americano, só são devidamente apreendidos no final do filme — pois assiste-se, ipsis verbis durante o seu visionamento, a tudo aquilo que aqui é criticado:



OPERAÇÃO SWORDFISH torna-se ainda mais "delicioso" pela análise individual das sequências do que através da soma das suas partes.

Há uma década, sem YouTube nem massificação de torrents e afins, um momento como este apresentava-se genuinamente emocionante:



E depois há a averiguação de competências informáticas com sexo oral à mistura, reviravoltas atrás de reviravoltas atrás de reviravoltas que submete qualquer espectador a rever o filme, teorias de conspiração capazes de deixar Oliver Stone verde de raiva e um terceiro acto que oblitera, por completo, a definição de realismo que podemos encontrar no dicionário.

«Realism; not a pervasive element in today's modern American cinematic vision», como afirma Gabriel (Travolta) no segmento introdutório do filme acima mencionado. Realmente, ele não exubera também OPERAÇÃO SWORDFISH, que caiu — de forma extremamente célere — em esquecimento. Contudo, alimento a secreta teoria de que fez "escola" no cinema de acção moderno: há muito do filme de Dominic Sena nos "preceitos" dos recentes Transformers, Vingadores ou Batalhas Navais.

Só não restou a ironia e a auto-paródia de OPERAÇÃO SWORDFISH, o guilty pleasure da minha vida e com o qual aceitei o convite, do Not a Film Critic, para esta rubrica.

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Obrigado, FilmPuff, pelo convite!

terça-feira, junho 19, 2012

Iniciativas Conjuntas #11

Sem hesitação nem pretensiosismo, afirmo que a comunidade blogger cinéfila é uma das mais dinâmicas em Portugal. Segue um exemplo.

A convite do Cine31, fui desafiado a elaborar uma lista de "ódios de estimação" muito especial, realçando filmes comummente considerados como bons mas que eu não aprecio. Como resposta, ficou esta reflexão:

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. CASABLANCA (1942, Michael Curtiz)

Fama: rating de 8.7 no IMDB; 97% de apreciação crítica no Rotten Tomatoes; três Óscares da Academia (incluíndo Melhor Filme); considerado como obra de relevância cultural e histórica; detentor de um fascínio cinéfilo indescritível, infinito e intergeracional.

Ódio: gerado por três aspectos que, normalmente, estão associados a filmes rotulados de menores: pejado de artificialidade emocional, a rigidez unidimensional das personagens (autênticos arquétipos, para não dizer estereótipos, de previsibilidade) e não é mais do que um esforçado apelo propagandístico à intervenção dos EUA na II Guerra Mundial.

. O NOVO MUNDO (2005, Terrence Malick)

Fama: rating de 6.8 no IMDB; 61% de apreciação crítica no Rotten Tomatoes; pertence à curta mas qualitativamente robusta carreira de um dos cineastas a quem o adjectivo "visionário" parece assentar que nem uma luva; galardoado por diversas associações de críticos norte-americanos.

Ódio: a direcção de fotografia é, de facto, muito bonita, mas assistimos ao típico exemplo de "feitiço virado contra o feiticeiro": a habitual poesia narrativa de Malick nunca consegue despontar, afigurando-se sempre mecânica e desordenada; com a excepção de Christian Bale num papel secundário, o filme é um caso sério de miscastings.

. MÚSICA NO CORAÇÃO (1965, Robert Wise)

Fama: rating de 7.9 no IMDB; 84% de apreciação crítica no Rotten Tomatoes; quatro Óscares da Academia (incluíndo Melhor Filme); omnipresente nas listas, efectuadas por diversas publicações, de melhores filmes de todos os tempos, sobretudo no género dos musicais; todos sabem traulitar, no mínimo, o refrão do seu tema principal.

Ódio: não há, para mim, pior decisão artística do que impor ao espectador, e ao pormenor, quando este deve rir, chorar e enternecer-se, ou qual o destino de férias que terá de escolher para as próximas férias de Natal (o filme fez maravilhas pelo turismo da Áustria...); o pormenor da paixão entre uma jovem religiosa e um capitão da marinha nazi daria, só por si, pano para mangas junto de quem aprecia o politicamente correcto...

. O NOME DA ROSA (1986, Jean-Jacques Annaud)

Fama: rating de 7.8 no IMDB; 76% de apreciação crítica no Rotten Tomatoes; alguns prémios europeus, nomeadamente um BAFTA de Melhor Actor para Sean Connery; impulsionado pelo romance de Umberto Eco em que se inspira, a impressão geral é de que se trata de "um bom filme".

Ódio: ao "despir" o argumento dos elementos narrativos do romance para apostar na história de mistério num convento medieval, acaba por ser uma manta de retalhos cinematográfica de personagens mal definidas, suspeitas que nunca chegam ao estatuto de red herrings e acontecimentos mal sugeridos e/ou resolvidos; Umberto Eco não é "infilmável", apenas requereria mais "tacto" na sua adaptação.

. MOULIN ROUGE (2001, Baz Luhrmann)

Fama: rating de 7.6 no IMDB; 76% de apreciação crítica no Rotten Tomatoes; vencedor de três Globos de Ouro (incluíndo Melhor Filme — Musical ou Comédia) e dois Óscares da Academia; desde a sua estreia, é presença assídua nas listas de melhores musicais de todos os tempos.

Ódio: muito movimento, muita cor, muito efeito sonoro mas nenhuma alma; o frenesim, criado sobretudo na sala de montagem, tenta compensar a total ausência de originalidade do filme: a banda sonora é uma colectânea de covers, a temática romântica plagia descaradamente Shakespeare e as interpretações não merecem sequer o adjectivo overacting (Nicole Kidman incluída); tudo isto e ainda a dor de cabeça, proveniente dos cortes incessantes entre planos de meio segundo, que a sua visualização me proporciona.

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Obrigado, David, Sofia e Bruno pelo convite!

terça-feira, junho 12, 2012

Iniciativas Conjuntas #10

Sem hesitação nem pretensiosismo, afirmo que a comunidade blogger cinéfila é uma das mais dinâmicas em Portugal. Segue um exemplo.

A convite do Nuno Reis, pelo Antestreia, e a propósito do recente anúncio governamental de se implementar um Plano Nacional de Cinema nas escolas portuguesas, fui desafiado a apresentar uma lista daqueles filmes que todos deviam ver ao longo do seu percurso educacional. As regras eram simples: considerar a idade das crianças e, de preferência, que pudessem ser enquadradas no currículo disciplinar. Como resposta, sugeri estas propostas:

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Para quem não está habituado a encarar um filme de acordo com as suas qualidades pedagógicas, elaborar um conjunto de obras, com o intuito de serem exibidas em contexto escolar, não se afigurou tarefa fácil.

Contudo, abracei o desafio tendo em conta, para além da sua óbvia classificação etária, cinco critérios para a escolha dos títulos a figurarem no anunciado Plano Nacional de Cinema, como também para a definição do enquandramento, aos estudantes, da iniciativa:

. filmes com duração até 90 minutos, para a sua visualização, na íntegra, em apenas um bloco horário;
. relevância histórica e/ou estética;
. intemporalidade em termos de linguagem cinematográfica e/ou temáticas abordadas;
. potenciadores de cativação para a forma artística;
. e, sobretudo, esclarecedores do poder do Cinema enquanto veículo e forma artística privilegiada de aprendizagem, consciencialização e inspiração.

Por ordem cronológica:

MENORES de 10 anos
Primórdios técnicos, emocionais e narrativos do Cinema, das formas elementares até às mais originais; protagonistas de imediata e espontânea empatia; exposição singular, mas formalmente adequada a esta faixa etária, da realidade.

. VIAGEM À LUA (Le voyage dans la lune, 1902, Georges Méliès)
. ONE WEEK (One Week, 1920, Edward F. Cline e Buster Keaton)
. O GAROTO DE CHARLOT (The Kid, 1921, Charles Chaplin)
. O HOMEM DA CÂMARA DE FILMAR (Man with a Movie Camera, 1929, Dziga Vertov)
. SILLY SYMPHONIES: FLOWERS AND TREES (Silly Symphonies: Flowers and Trees, 1932, Burt Gillett)
. ANIKI-BÓBÓ (Aniki-Bóbó, 1942, Manoel de Oliveira)
. BAMBI (Bambi, 1942, David Hand)
. O BALÃO VERMELHO (Le ballon rouge, 1956, Albert Lamorisse)
. CHRONOS (Chronos, 1985, Ron Fricke)
. MICROCOSMOS: O POVO DA ERVA (Microcosmos, 1996, Claude Nuridsany e Marie Pérennou)

MENORES de 15 anos
Percepção de temáticas e simbolismo em Cinema, através da compreensão de regras estéticas e, quando aplicável, da sua própria subversão; a abordagem cinematográfica a eventos históricos como forma de observar o presente.

. O GABINETE DO DR. CALIGARI (Das Cabinet des Dr. Caligari, 1920, Robert Wiene)
. NANUK, O ESQUIMÓ (Nanook of the North, 1922, Robert J. Flaherty)
. O COURAÇADO POTEMKINE (Bronenosets Potyomkin, 1925, Serguei Eisenstein)
. PAMPLINAS MAQUINISTA (The General, 1926, Clyde Bruckman)
. A PAIXÃO DE JOANA D'ARC (La passion de Jeanne d’Arc, 1928, Carl Theodor Dreyer)
. TEMPOS MODERNOS (Modern Times, 1936, Charles Chaplin)
. O CARTEIRISTA (Pickpocket, 1959, Robert Bresson)
. AS ARMAS E O POVO (As Armas e o Povo, 1975, Colectivo de Trabalhadores da Actividade Cinematográfica)
. COMBOIO DE SOMBRAS (Tren de Sombras, 1997, José Luis Guerin)
. O GIGANTE DE FERRO (The Iron Giant, 1999, Brad Bird)

MENORES de 18 anos
Exposição de conflitos morais, sociais, filosóficos e/ou humanos para a compreensão das sociedades contemporâneas, com o propósito de incutir e debater valores éticos (o bem e o mal, liberdade e tolerância, paz e guerra); observação de opções estéticas singulares, desde a origem da Sétima Arte até ao Cinema mais recente.

. FINIS TERRAE (Finis Terræ, 1929, Jean Epstein)
. L'ÂGE D'OR (L’âge d’or, 1930, Luis Buñuel)
. RASHOMON — ÀS PORTAS DO INFERNO (Rashômon, 1950, Akira Kurosawa)
. NUIT ET BROUILLARD (Nuit et Brouillard, 1955, Alain Resnais)
. HORIZONTES DE GLÓRIA (Paths of Glory, 1957, Stanley Kubrick)
. MORANGOS SILVESTRES (Smultronstället, 1957, Ingmar Bergman)
. O ACOSSADO (À bout de souffle, 1960, Jean-Luc Godard)
. UMA ABELHA NA CHUVA (Uma Abelha na Chuva, 1971, Fernando Lopes)
. OS TEMPOS DE HARVEY MILK (The Times of Harvey Milk, 1984, Rob Epstein)
. BLACKBOARDS (Takhté siah, 2000, Samira Makhmalbaf)

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Obrigado, Nuno, pelo convite!

quarta-feira, maio 30, 2012

Iniciativas Conjuntas #9

Sem hesitação nem pretensiosismo, afirmo que a comunidade blogger cinéfila é uma das mais dinâmicas em Portugal. Segue um exemplo.

A convite do António Guerra, pelo Imagens Projectadas, e como perfazem dez anos desde o derradeiro episódio de FICHEIROS SECRETOS, fui desafiado a escrever não só sobre o impacto da série criada por Chris Carter, como também o que mudou na televisão durante esse período. Como resposta, ficou esta reflexão:

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Uma Mera Questão de Horário

Eu ainda sou do tempo em que as boas séries de televisão eram emitidas durante o horário nobre dos canais generalistas nacionais. Foi graças a essa "janela temporal" que travei conhecimento com pérolas incontornáveis do pequeno ecrã.

São exemplos TWIN PEAKS (1989-1990) — se bem que esta, pelo seu conteúdo capaz de deixar um puto de nove anos com os nervos em frenesim, só foi devidamente assimilada mais tarde e em DVD — ou FICHEIROS SECRETOS (1993-2002), o motivo que me levou a aceitar o agradável convite do Imagens Projectadas para reflectir sobre o panorama da ficção televisiva na última década e desde o término da melhor série alguma vez produzida em torno de teorias de conspiração e vida inteligente extraterrestre.

E, nessa reflexão, é-me impossível não realçar a questão dos horários de transmissão praticados em Portugal para séries de televisão — definitivamente, e para pior, uma das mudanças mais significativas ocorrida durante o consumar destes dez anos.

Sendo inegável que, no seio da criação televisiva, se assistiu ao feliz incremento de qualidade e quantidade (diversidade de géneros, aproximação a métodos de produção dignos de Hollywood, renovação de públicos, um impacto cada vez maior no imaginário da cultura popular), a forma de distribuição da mesma no nosso país é que já possui contornos de pouco recomendável.

O paradigma actual extravasa, até, a "velha polémica" da transmissão durante a semana e em horários menos próprios para consumo facultada pelos canais em sinal aberto, numa realidade completamente desfasada de qualquer e hipotética guerra de audiências (a única excepção a este cenário provém de um dos dois canais públicos que poderá conhecer cessação em breve).

Paradoxalmente, a multiplicação da oferta televisiva denominada por cabo — que deveria constituir-se como resposta à prosperidade criativa do meio acima referida —, a meu ver, também não parece contribuir para o usufruto ideal da produção televisiva norte-americana, seja ela contemporânea ou transacta. Observa-se aqui, igualmente, a disparidades de dias e horas de transmissão e ao desrespeito na continuidade e, por vezes, repetição de episódios.

Em suma, muitas e óptimas séries de TV para ver mas reduzida estratégia no modo como nos são apresentadas.

Num dos episódios de FICHEIROS SECRETOS, Dana Scully, a personagem interpretada por Gillian Anderson, afirma que «it seems to me that the best relationships, the ones that last, are frequently the ones that are rooted in friendship. You know, one day you look at the person and you see something more than you did the night before. Like a switch has been flicked somewhere». É uma frase profunda e pouco distante da realidade, proferida num momento de fortalecimento da sua relação pessoal e profissional com o caprichoso agente Fox Mulder (David Duchovny).

E por que razão esta frase ficou-me indelevelmente registada na memória? Pelo simples facto de que, há uns anos, tinha a certeza que, todas as (na altura) quartas-feiras e em horário nobre, era emitido novo episódio de FICHEIROS SECRETOS. Esta frase é uma forma quase "poética" de ilustrar como a fidelidade do público era potenciada por esta espécie de amizade de programação televisiva.

Hoje em dia, é-me virtualmente impossível fixar e/ou citar uma linha de diálogo de uma série de TV. Aparentemente, estão a escapar-me fantásticos produtos televisivos: são-me aconselhados, com frequência, DOWNTON ABBEY, HOMELAND, MODERN FAMILY, PARKS AND RECREATION ou THE GOOD WIFE, mas ainda mal as "espreitei". E já nem me esforço por saber o que e quando é transmitido algo em Portugal, recorrendo ao DVD ou à Internet para a visualização do reduzido número de propostas a que me cingo neste momento (a saber, MAD MEN, TRUE BLOOD, THE KILLING e BREAKING BAD).

Apetece mesmo recuar dez anos, colocar-me numa situação fantástica e digna de um episódio de FICHEIROS SECRETOS e desfrutar da relativamente acertada política de exibição daquela época. De quando as séries de TV eram encaradas como material de horário nobre. De como a amizade para com uma série — e FICHEIROS SECRETOS foi um óptimo modelo disso — advinha não só da sua qualidade intrínseca, mas também de como nos era garantida, por uma mera questão de hora certa, a possibilidade de a testemunhar.

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Obrigado, António, pelo convite!

quinta-feira, abril 12, 2012

Iniciativas Conjuntas #8

Sem hesitação nem pretensiosismo, afirmo que a comunidade blogger cinéfila é uma das mais dinâmicas em Portugal. Segue um exemplo.

A convite do André Marques, pelo Blockbusters, fui desafiado a partilhar as 10 melhores adaptações de banda desenhada ao grande ecrã, estreadas entre 2000 e 2011. A minha reflexão saldou-se nesta escolha:

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1º American Splendor (2003, Shari Springer Berman e Robert Pulcini)

O génio de Harvey Pekar, original autor de graphic novels, ilustrado num filme biográfico que extravasa a mera ordenação de eventos e demonstra como a criatividade pode surgir e manifestar-se das formas mais surpreendentes.

2º Sin City — A Cidade do Pecado (2005, Robert Rodriguez)

Absolutamente fiel à imaginação de Frank Miller, como poucas adaptações conseguiram forjar, e com um dos melhores elencos da última década, revela-se obrigatório tanto para cinéfilos como amantes de BD.

3º V de Vingança (2005, James McTeigue)

Com doses ajustadas de filosofia política e acção magnética, transpõe eficazmente para o grande ecrã o universo congeminado por Alan Moore. E possui uma das melhores intepretações por um actor (Hugo Weaving) que nunca exibe a própria cara.

4º Ghost World — Mundo Fantasma (2001, Terry Zwigoff)

Original, mordaz e subtil, o “mundo fantasma” é o nosso mundo. Mas visto pelo prisma de Daniel Clowes, aparenta pertencer a um surreal e alternativo universo, onde somos estranhos mas do qual não podemos esconder fascínio.

5º The Dark Knight — O Cavaleiro das Trevas (2008, Christopher Nolan)

Apresentando a versão cinematográfica mais pessimista de Batman (impaciente e torturado) e uma personificação de terrorismo injustificado no Joker intepretado pelo malogrado Heath Ledger, é um dos blockbusters da década.

6º 300 (2006, Zack Snyder)

Definindo os moldes dos épicos históricos de grande espectáculo produzidos nos últimos anos (viscerais, directos e, em algumas instâncias, emocionais), é um filme feito para se ver, apenas e sempre, no grande ecrã.

7º Scott Pilgrim vs O Mundo (2010, Edgar Wright)

Inundado do espírito jovial e pop de Bryan Lee O’Malley, com adequadas doses de dinamismo e humor contagiosos, é entretenimento cinematográfico de alto calibre. E capaz de agradar espectadores dos oito aos oitenta anos de idade.

8º Persepolis (2007, Vincent Paronnaud e Marjane Satrapi)

Pura poesia em animação a preto e branco. Um comovente conto sobre o poder dos sonhos, da preserverança e do necessário sentido de humor mesmo perante as circunstâncias mais negativas.

9º Hellboy (2004, Guillermo del Toro)

Um clássico instantâneo do cinema inspirado no universo BD, Del Toro preenche o ecrã com a sua característica sensibilidade para a imagética admirável, acção vertiginosa e surpreendente emocionalidade.

10º Kick-Ass — O Novo Super-Herói (2010, Matthew Vaughn)

Reunindo quase todas as tendências contemporâneas do cinema de acção, mantém-se coerente mesmo perante a irreverência, impiedade, mau gosto e políticamente incorrecto da sua atmosfera. O saldo é um filme de puro e irresistível entretenimento.

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Obrigado, André, pelo convite!

segunda-feira, março 12, 2012

Iniciativas Conjuntas #7

A convite do TVDependente, fui desafiado a deixar temporariamente de lado os meus textos sobre Cinema e revelar uma das minhas "predilecções televisivas". No caso, esta fantástica preciosidade britânica intitulada THE THICK OF IT:

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Numa época em que o vulgar cidadão interroga-se sobre a competência e fiabilidade dos Governos que comandam os destinos políticos da Europa e do Mundo, manda o senso comum escolher das duas, uma: ou adoptam-se formas pró-activas de luta ou expressa-se insatisfação, revolta e outros sentimentos negativos similares numa urna de voto. Pois bem, aproveito o convite de colaboração, que me foi proposto pelo TVDependente, para apresentar uma terceira e mais "descontraída" opção: ver as três temporadas de THE THICK OF IT, uma das paródias políticas televisivas mais cáusticas, transparentes, hilariantes e indecorosas alguma vez produzidas em terras de Sua Majestade.

Mesmo que não nutram qualquer simpatia por actividades governamentais, protagonistas políticos ou actualidades noticiosas, THE THICK OF IT é o género de série em que o interesse cresce de forma proporcional ao número de episódios a que se assiste (ninguém se arrependerá de lhe dar uma hipótese...), nomeadamente por "despir" a Política do seu lado mais institucional, privilegiando a abordagem jocosa, perspicaz e assustadoramente credível do que acontece nos bastidores de ministérios e gabinetes políticos, da relação entre poder executivo e meios de comunicação social, de assessores de comunicação decididamente mais conscientes da realidade que os titulares dos cargos públicos, de spin doctors com estranhos sentidos e métodos de ideologia política e das nuances que a "negação da negação" de uma notícia lesiva pode conter.

Descendente directo de SIM, SR. MINISTRO e THE OFFICE no formato (exibição de inaptidão política filmada em estilo mockumentary) e num prisma totalmente oposto ao de OS HOMENS DO PRESIDENTE na temática (um retrato de idealistas realmente comprometidos em servir os interesses dos eleitores), muito do seu sucesso deve-se a dois intervenientes: Armando Ianucci, o criador da série, que soube convocar aqueles que são, muito provavelmente, os argumentistas mais sagazes e inventivos da actualidade, sobretudo na forja dos insultos mais desarmantes, infames e ordinários de que há memória em produto de ficção para TV...

…o que nos leva ao segundo interveniente e o protagonista de THE THICK OF IT: uma "criatura" baptizada de Malcolm Tucker (Peter Capaldi no papel que o tornará, definitivamente, imortal), o vulcânico, manipulador, ameaçador e omnisciente director de comunicações do PM Britânico, hábil em colocar uma desvantagem a funcionar em seu favor e sempre em aparente risco de sofrer uma apoplexia de cada vez que um membro do Governo obriga-o a um desagradável damage control:



THE THICK OF IT (por enquanto?) não conhece exibição, tanto em canal aberto como de cabo, em Portugal, mas as três temporadas da série são facilmente adquiridas on-line. E se este texto de alguma utilidade for, que pelo menos incite o vosso espírito de aventura no que a séries de televisão diz respeito.

Conheçam ministros com menor capacidade de diálogo que Maria de Lurdes Rodrigues. Observem directores de comunicação capazes de espumar de raiva caso tivessem de lidar com as repercussões de uma certa "amena cavaqueira" entre Vítor Gaspar e um ministro das Finanças alemão. Entendam que, com um humor britânico inspirado, nenhuma cor partidária ou líder político estarão a salvo...

[Agradecimento especial ao Vítor Rodrigues pelo convite.]

terça-feira, dezembro 27, 2011

#34



... segundo as palavras do derradeiro participante desta iniciativa — a saber, o ArmPauloFer, do blog Ecos Imprevistos:

Fazer uma escolha dos 10 filmes da minha vida não é uma tarefa assim tão simples quanto parecia. Perante tal dilema, decidi que os 10 filmes teriam de representar a evolução de quem sou e com isso serem escolhas irrevogáveis. Escolhas que, apesar de subjectivas, não mudem nem hoje nem daqui a 40 anos e por isso intensamente profundas para mim.

. SUPER-HOMEM
(1978, Superman, Richard Donner)



Ser criança, ler comics, ter o Super no top dos preferidos, tentar fazer desenhos dele... e um dia ver em imagem real que este homem realmente voa, segura um helicóptero com uma mão e faz de linha férrea para impedir o descarrilar dum comboio (e muito mais no mesmo decorrer de filme), com tudo tão bem feito, com uma icónica banda-sonora tão imponente que ainda hoje me arrepia (verídico)... foi memorável até hoje. Exibido numa Quarta-feira, na "Lotação Esgotada" da RTP1, fez com que na primária não se falasse de mais nada nos dias seguintes (o mesmo sucedeu com o Rambo...).

Em casa, andei muitas vezes com uma toalha pelas costas a fazer de capa, a desenhar montes de Superman e especialmente o "S" com obsessão. Ainda hoje o faço...
O verdadeiro primeiro filme da minha vida, pelo impacto que teve (as repercussões chegam até à minha profissão — artes gráficas) e um que relembro constantemente ao longo dos anos.

Ao lado deste e com igual impacto, o primeiro BATMAN de Tim Burton... ambos são inabaláveis.


. REGRESSO AO FUTURO
(1985, Back to the Future, Robert Zemeckis)



Este filme representa a primeira vez que fui ao cinema e a sair da sala totalmente maravilhado. Já tinha ido antes mas eu queria era mais maravilhamento, coisa que o MÚSICA NO CORAÇÃO não foi suficiente.

O Michael J.Fox no skate, a canção do Huey Lewis, as portas do carro que abriam para cima, que na verdade é uma máquina do tempo que deixa trilhos de fogo quando parte, um cientista maluco espectacular, paradoxos temporais e existenciais, diversas linhas temporais, uma grande aventura... isto era magia pura!!!

Era um puto de 10 anos em êxtase e o título do filme até serviu de razão para o professor de inglês, na preparatória, evidenciar as diferenças do inglês americano para o de Londres. A utilidade pedagógica do cinema...


. A LISTA DE SCHINDLER
(1993, Schindler's List, Steven Spielberg)



Com este filme Spielberg reúne tudo o que de melhor sabe e para mim ergue talvez mesmo a sua obra-prima de sempre. Não só é um belíssimo tributo a Schindler e ao legado deixado, como serve de visao personalizada da guerra, do holocausto nazi, da recessão, da fome, etc... como também por nos colocar junto das vitimas desafortunadas e sobretudo da tremenda luta que Schindler travou pelos "seus" judeus.

A "magia" visual de Spielberg também foi aplicada nesta obra ao preto-e-branco, pois o quanto nos marca e intriga os vislumbres da criança a cores...

Avassalador!


. PULP FICTION
(1994, Pulp Fiction, Quentin Tarantino)



Tinha ficado impressionado com o CÃES DANADOS numa exibição no Fantasporto e lá fui ver este, que até despertava curiosidade em ver como se safava a portuguesa Maria de Medeiros num filme americano. Quando saí da sala de cinema (o extinto Lumiere -Porto), estava de sorriso largo. Encheu-me as medidas este tremendo filme puzzle sem perder de vista a "pop culture" e mais que isso, que inesquecível banda-sonora!

Não foi à toa que foi o primeiro CD de uma OST que adquiri e também o meu primeiro DVD (nem leitor tinha sequer).

É para mim a obra-prima absoluta de Quentin Tarantino. Incontornável!


. TOY STORY: OS RIVAIS
(1995, Toy Story, John Lasseter)



Quando saiu fui ver e... naquele momento percebi claramente que esta animação era especial sob qualquer perspectiva. Um filme singular e sem igual, acima de tudo pela novidade de ser gerado inteiramente por computador e, apesar de todo o artificio técnico, sabia contar uma história com sub-textos de interpretação e sem esquecer o encantamento duma boa fantasia muito bem pensada. Revolucionário inquestionável!

Depois deste filme o nome Pixar ficou logo assimilado.


. ADEUS, PAI
(1996, Adeus, Pai, Luís Filipe Rocha)



Não foi o primeiro filme português que me levou ao cinema mas foi aquele que mais me impressionou e marcou. Um filme onde o termo "E se?" perdurou sempre na minha mente. No fundo, é uma criança que quer mais do seu pai... e o seu pai o atende mas tem um "adeus" no horizonte. Enternecedor, muito bom o exercício, magico e marcante. E surpreende com um final onde é o espectador que leva consigo a missão de aprender algo com esta história. Grande cinema moderno português!

. A MULHER QUE VIVEU DUAS VEZES
(1958, Vertigo, Alfred Hitchcock)



A semente cinéfila desenvolveu-se imenso nesta fase, desde as conversas com outros estudantes. Foi sobretudo, quando o grande cinefilo-critico Bénard da Costa, conduzia os seus programas cinéfilos na RTP2, gradualmente apresentando obras para a descoberta acontecer no espectador com entusiasmo.

Naquela altura, aqueles programas foram autênticas aulas de cinema, funcionavam por ciclos semanais e passando por diversos nomes importantes por semana, do Orson Welles a todos os outros, mas o desfile Hitchcock foi tão forte que parava ali quieto para nada perder, sendo o culminar a forma apaixonada como Bénard da Costa apresentou VERTIGO, onde primeiro contextualizou o que iríamos ver e depois de exibido regressaria para o debater, dando ênfase aos pontos chaves desta magnifico filme de Hitchcock. Gigantes: filme, realizador e o critico-didáctico.


. O QUARTO MANDAMENTO
(1942, The Magnificent Ambersons, Orson Welles)



nesquecível. Este é o filme de Welles que mais me impressionou, especialmente pela narrativa. Tenho a impressão que ficou sempre na sombra do CITIZEN KANE mas deixou-me encantado totalmente. Welles trata esta obra sobre a ascensão e queda de uma família, como um verdadeiro épico, que atravessa os tempos pontuado pela voz-off do realizador. Considero-o uma obra-prima!

. MATRIX
(1999, The Matrix, Andy e Larry Wachowski)



"What is the matrix?" era esta a pergunta que nos entregava o marketing, que de uma assentada só colocava o cerne da intriga na mente do ansioso espectador. E eu era um desses ansiosos em 1999. Digo, da minha apreciação que me significou imenso, maravilhou-me a todos os níveis a pontos de ser um pessoal standard cinéfilo de entretenimento de acção que atravessa tantos outros géneros com brilhantismo, tudo isto numa narrativa muito elaborada e com imensos sub-textos dignos de reflexão.

. DISPONÍVEL PARA AMAR
(2000, Fa yeung nin wa, Wong Kar Wai)



Tenho um fascínio tremendo por esta obra. A dolência da imagem, o apuro visual, a precisão da banda-sonora, o design de produção, o vestuário e toda a classe que emana num historia marcante onde a honra e princípios sociais retiram o poder de entrega física a duas pessoas que sabem terem sido traídas pelos cônjuges e acabam ambos descobrindo um verdadeiro amor mútuo... mas impedem-se de consumar tão forte amor. Magnífico!

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Obrigado, Armindo, pela tua participação!

terça-feira, dezembro 13, 2011

#33



... segundo as palavras do Gonçalo Trindade, duplamente nomeado nos TCN Blog Awards 2011 para Melhor Iniciativa (entrevista a John Carpenter) e Melhor Crítica (A Árvore da Vida), do Ante-Cinema:

Sem ordem específica. Hoje, são estes. Amanhã, provavelmente seriam outros.

. OLDBOY — VELHO AMIGO
(2003, Oldboy, Chan-wook Park)



Marcante. É um filme que vi inúmeras vezes, e de longe um dos meus filmes favoritos. É daqueles filmes que me parece audiovisualmente perfeito, em que o realizador tem controlo completo sobre cada aspecto, da fotografia à banda-sonora, das interpretações ao argumento. Tem cenas que me estão marcadas a fogo na memória. Ainda me lembro muito bem do impacto que teve na altura. Demorei dias até conseguir colocar o queixo no sítio certo.

. CINEMA PARAÍSO
(1988, Nuovo Cinema Paradiso, Giuseppe Tornatore)



O primeiro filme que alguma vez me fez chorar. Sou profundamente susceptível ao sentimento de nostalgia, e sendo este filme o que é, era inevitável que me tivesse marcado como marcou. Um filme sobre o amor pelo cinema, visto por mim numa idade em que esse amor começava a despertar verdadeiramente. Mesmo hoje em dia, comove-me profundamente.

. SAGA A GUERRA DAS ESTRELAS
(1977, Star Wars, George Lucas, 1980, Star Wars: Episode V - The Empire Strikes Back, Irvin Kershner, 1983, Star Wars: Episode VI - Return of the Jedi, Richard Marquand)



Tinha de aqui estar, claro. A saga da minha infância, que cresci a ver com o meu pai, e que ainda hoje povoa por completo a minha imaginação. Para mim, talvez a grande saga de aventuras do cinema. Ainda sorrio como uma criança de sete anos quando o Darth Vader atira o Imperador para o abismo, e ainda fico entusiasmado quando o Luke destrói a Estrela da Morte. São filmes que ficarão comigo para o resto da vida. Apesar de o Lucas não estar muito a favor disso, mas isso já é outra história.

. OS SETE SAMURAIS
(1954, Shichinin no samurai, Akira Kurosawa)



O meu filme de acção predilecto. Vê-lo no cinema, na primeira vez que fui à Cinemateca, foi uma experiência que nunca hei-de esquecer. É daqueles que estaria sempre nesta lista, em qualquer dia da semana.

. AURORA
(1927, Sunrise: A Song of Two Humans, F.W. Murnau)



Oh Deus, onde é que eu começo com este? Mais uma vez, é um filme perfeito, sem falhas, tão honesto e simples quanto revelador de uma mestria exemplar por parte do Murnau, como contador de histórias. Passei anos a querer vê-lo, e só o fiz há cerca de três anos, quando um grande amigo meu me deu o DVD. Fiquei num misto de encanto e lágrimas, e creio que tem verdadeiramente alguns dos momentos mais memoráveis que alguma vez verei num filme. Demasiado belo.

. OS QUATROCENTOS GOLPES
(1959, Les Quatre Cents Coups, François Truffaut)



Repito o que disse em relação ao SUNRISE: demasiado belo. É tão simples quanto isso.

. ANNIE HALL
(1977, Annie Hall, Woody Allen)



Melhor argumento de sempre? O meu favorito do Allen, e um filme que me parece rigorosamente genial desde o primeiro ao último segundo. Literalmente, do primeiro ao último. Ainda o revejo imensas vezes.

. A VIAGEM DE CHIHIRO
(2001, Sen to Chihiro no kamikakushi, Hayao Miyazaki)



Era entre este e o CASTLE IN THE SKY... e este ganhou, porque foi o primeiro. Foi este o filme que me fez apaixonar pelo seu cinema, e que teve o impacto imediato de começar a idolatrar o homem. Ainda hoje em dia fico com lágrimas nos olhos quando o vejo, e descubro facilmente novos pormenores que fazem com que adore o filme ainda mais.

. THE FOUNTAIN — O ÚLTIMO CAPÍTULO
(2006, The Fountain, Darren Aronofsky)



Tinha de aqui estar. Perfeição audiovisual, que tem no seu cerne um coração do tamanho do mundo. Isto é, afinal, uma história de amor. Um dos poucos filmes que me arrebataram verdadeiramente, em todos os aspectos. Põe-me lágrimas nos olhos enquanto me deslumbra os sentidos.

. O MUNDO A SEUS PÉS
(1941, Citizen Kane, Orson Welles)



O meu filme favorito, ponto. Tenho um fascínio absoluto por cada plano, cada linha de diálogo, e acima de tudo pelo homem que é Charles Foster Kane. A personagem bigger than life por excelência, para mim a representação perfeita do quão impossível é, e sempre será, compreender verdadeiramente alguém. Fascina-me verdadeiramente.

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Obrigado, Gonçalo, pela tua participação!

segunda-feira, dezembro 05, 2011

#32



... segundo as palavras da Inês Moreira Santos, colaboradora do Espalha-Factos:

Aqui ficam os 10 filmes da minha vida, sem qualquer ordem de preferência. A estes poderiam juntar-se tantos outros, mas tendo eu que (hoje) escolher apenas 10, são estas as minhas escolhas.

. ANNIE HALL
(1977, Annie Hall, Woody Allen)



Woody Allen no seu melhor. ANNIE HALL não podia deixar de entrar na minha lista por tudo o que é. Um dos meus filmes favoritos.

. O FABULOSO DESTINO DE AMÉLIE
(2001, Le fabuleux destin d'Amélie Poulain, Jean-Pierre Jeunet)



Há tanto para dizer sobre este filme, mas "mágico" assenta-lhe bem e já diz muito. A vida da Amélie faz-nos sonhar.

. CINEMA PARAÍSO
(1988, Nuovo Cinema Paradiso, Giuseppe Tornatore)



O retrato do amor pelo cinema (e não só). É daquelas escolhas onde não tive qualquer dúvida.

. O GABINETE DO DR. CALIGARI
(1920, Das Cabinet des Dr. Caligari, Robert Wiene)



O início do cinema de horror, o Expressionismo Alemão, um marco na história do cinema. Até de inspiração para Tim Burton criar EDWARD SCISSORHANDS ele serviu. Tudo boas razões para gostar tanto deste excelente filme mudo.

. PULP FICTION
(1994, Pulp Fiction, Quentin Tarantino)



Tudo neste filme é genial, as histórias, toda a linha que as liga, o elenco, o humor negro que caracteriza o realizador... Provavelmente o melhor filme de Tarantino.

. BLUE VALENTINE — SÓ TU E EU
(2010, Blue Valentine, Derek Cianfrance)



Pode ser uma das escolhas mais controversas desta lista, mas este é, definitivamente, um dos filmes da minha vida. Tão real e, por vezes, duro. Gosto mais dele a cada visualização, por muito blue que possa ser.

. JANELA INDISCRETA
(1954, Rear Window, Alfred Hitchcock)



Aqui poderia estar qualquer outro filme de Hitchcock. Escolhi este em especial por ter sido o primeiro que vi do mestre.

. LARANJA MECÂNICA
(1971, A Clockwork Orange, Stanley Kubrick)



Como estou sempre a dizer que gosto de loucos, nunca poderia de deixar de adorar este filme. E como também gosto de génios, Kubrick não poderia deixar de figurar aqui. Um dos meus favoritos de sempre.

. OS DIAS DA RÁDIO
(1987, Radio Days, Woody Allen)



E Woody Allen, mais uma vez. Recorrendo a MIDNIGHT IN PARIS, gostava de passar uns dias na era da rádio que sempre me fascinou. E RADIO DAYS transporta-nos tão bem para essa realidade.

. O GRANDE PEIXE
(2003, Big Fish, Tim Burton)



Mais uma vez a fantasia marca presença na minha lista. BIG FISH está cheio de beleza e magia, e é inevitável que nos deixemos encantar pelas histórias do protagonista.

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Obrigado, Inês, pela tua participação!

quinta-feira, dezembro 01, 2011

#31



... segundo as palavras do Pedro Afonso, do blog Laxante Cultural:

Uma pequena introdução para explicar o critério de selecção destes filmes. Para mim, a criação de uma lista deste tipo serve apenas para definir o autor da escolha. Não são necessariamente os melhores filmes que eu já vi, mas são aqueles que mais me marcaram, por uma razão ou outra, no meu crescimento enquanto amante de cinema e posteriormente cinéfilo. Provavelmente estão aqui estes apenas porque os vi na altura certa, mas isso não invalida o facto de ser uma lista que acaba por definir a minha identidade enquanto cinéfilo, e, porque não, enquanto ser humano. Todos (excepto o último, já vão perceber porquê) são filmes a que volto de vez em quando, quanto mais não seja para reviver os momentos de descoberta de aspectos do cinema que todos eles me proporcionaram. Eis a lista...

1. REBECCA
(1940, Rebecca, Alfred Hitchcock)



Este filme (a par com CASSANDRA CROSSING de George P. Cosmatos, 1976) é a memória mais antiga que eu tenho de um momento em que um filme foi para mim a coisa mais importante do mundo. Saber como acabava, era tão urgente para mim como o ar que respirava, devorando cada cena do filme como uma pista, sentado na ponta da cadeira e deixando-me aprisionar pelo suspense. Deveria ter entre os 7 e os 9 anos quando os vi, nas sessões de cinema da RTP Açores, e nunca mais me esqueci das sensações que me despertaram. Está aqui este, porque dos dois é aquele que revi muitas vezes ao longo dos anos, descobrindo sempre novos pormenores que fundamentavam aquelas sensações. Quanto ao outro, hei-de voltar a ele um dia.

2. VEIO DO OUTRO MUNDO
(1982, The Thing, John Carpenter)



Foi o filme que (a par com AN AMERICAN WEREWOLF IN LONDON de John Landis, 1981) complementou aquelas sensações com outra ainda mais profunda: o medo. Foram ambos vistos poucos anos mais tarde nas mesmas circunstâncias, mas recordo como se fosse hoje o desafio de não querer perder nenhum segundo, lutando contra mim próprio para não desviar os olhos da televisão. Esse desafio, de me testar a ver cinema, é uma das bases da minha paixão por esta arte. Com o passar dos anos, o filme do Carpenter foi ganhando mais importância (principalmente com o aparecimento da versão de coleccionador em DVD, cujo making of é um dos melhores de sempre) por me aprofundar o interesse pelos aspectos técnicos por trás de um filme.

3. CASABLANCA
(1942, Casablanca, Michael Curtiz)



Não me lembro exactamente de quando o vi, mas este é um filme a que volto inúmeras vezes e que não perdeu a frescura da primeira. É um dos filmes que me definiu como um romântico, e cujo desfecho me despertou para o sacrifício que o amor implica. Além disso, é um filme perfeito em todos os aspectos, o que me dá um prazer enorme quando a ele volto.

4. A MOSCA
(1986, The Fly, David Cronenberg)



Foi o filme que me abriu os olhos para o conceito de autor. Vi-o no cinema com 13 ou 14 anos (nesta altura os filmes demoravam algum tempo a chegar a Angra do Heroísmo), e fez-me muita confusão ver um filme de terror que, mais do que me assustar, me inquietou. Querer perceber porque é que este era um filme de terror diferente de todos os que já tinha visto, foi o ponto de partida para uma viagem de descoberta que só acabará quando morrer. Além disso é uma estória de amor bizarra, em que o amor dá lugar à loucura. É sem dúvida o mais importante dos filmes desta lista para mim, e constará certamente de todas as listas que eu possa vir a fazer.

5. ASSALTO AO ARRANHA-CÉUS
(1988, Die Hard, John McTierman)



Só quem viu este filme no cinema, na altura da sua estreia, pode perceber a sua importância. Sendo um profundo conhecedor do cinema de acção da altura (de todos os Rambos e Comandos e afins), não estava preparado para a pedrada no charco que foi o ASSALTO AO ARRANHA-CÉUS. A cena da morte do Takagi abalou todos aqueles que procuravam divertimento num filme de acção e fez com que, no género, deixasse de haver personagens a salvo. Mais do que isso, este filme é perfeito em todos os aspectos, do argumento à realização, passando pelas interpretações ou pelos efeitos especiais. É um prazer absoluto e é um dos poucos filmes que comprei em todos os formatos (Vhs, DVD e Blu-ray) de cinema em casa por que já passou a minha vida de cinéfilo.

6. PSICO
(1960, Psycho, Alfred Hitchcock)



Outro filme que tenho em todos os formatos (em Vhs cheguei a comprar três edições diferentes). É, para mim, o mais perfeito dos filmes. Desde a concepção e as histórias de bastidores, às opções tomadas por Hitchcock no sentido de provocar reacções no espectador e que, passados mais 50 anos, continuam a resultar em cheio. É o poder da manipulação através da arte no seu estado mais puro, sem facilitismos e com enorme personalidade. Tudo no filme resulta e é brilhantemente executado, desde os facilmente reconhecíveis acordes musicais às imagens icónicas inesquecíveis.

7. MORRER EM LAS VEGAS
(1995, Leaving Las Vegas, Mike Figgis)



A par com LES NUITS FAUVRES (Cyril Collard, 1992), são histórias de amor reais e trágicas que têm como pano de fundo o desejo de auto destruição de uma das personagens principais. Mas se no filme de Collard esse desejo apenas precipitava uma inevitabilidade, no de Figgis nunca nos é dada uma razão válida que nos permita aceitá-lo. É a outra face da moeda para o sacrifício final de CASABLANCA, e um segundo despertar para a fatalidade que o amor encerra. Além disso, estes dois filmes são muito carnais e, talvez por isso, vertiginosos nas emoções.

8. SETE PECADOS MORTAIS
(1995, Se7en, David Fincher)



Um dos filmes mais maquiavélicos alguma vez escritos. O argumento de Andrew Kevin Walker, apesar de ser um dos mais inteligentes thrillers já filmados, não poupa ninguém. Todo o desenrolar da narrativa não nos prepara para um desfecho que, de tão horrendo, dificilmente esquecemos. O ritmo imposto por Fincher é milimetricamente perfeito (como sempre) e não há uma única falha a apontar na sua concepção e execução. É um daqueles filmes que me faz sentir muito pequenino enquanto artista em potência, e a que volto muitas vezes a ver se aprendo alguma coisa.

9. SACANAS SEM LEI
(2009, Inglorious Basterds, Quentin Tarantino)



Além de ser outro filme que eu considero perfeito, há um factor que faz com que apareça nesta lista: a irreverência e atrevimento com que, mesmo que apenas através da arte, seja colocada alguma justiça na história. Tarantino é provavelmente o meu realizador vivo predilecto, mas aqui excedeu todas as expectativas. Além do mais, apesar de ser um filme mosaico (muito ao seu estilo), no sentido de reunião de referências e de conciliação de diferentes estórias, nunca perde o seu objectivo e atrai-nos para um clímax que nunca suspeitámos ser possível. No fundo, naquele momento, numa sala de cinema, somos abruptamente atirados da realidade para a ficção enquanto Tarantino nos diz que quem manda aqui é ele. É preciso ter tomates.

10. CINEMA PARAÍSO
(1988, Nuovo Cinema Paradiso, Giuseppe Tornatore)



Este é um filme que entra na lista dos 10 filmes da minha vida de uma forma peculiar. Não é um dos filmes que mais gosto (pelo menos para estar nos 10 primeiros), nem um dos que me influenciou enquanto cinéfilo. NUOVO CINEMA PARADISO está aqui porque é esta a minha história, sem tirar nem pôr. Toda a minha infância, juventude e adolescência foi passada num cinema, o Fanfarra Operária Gago Coutinho e Sacadura Cabral em Angra do Heroísmo, que o meu pai geria. Foi ele o meu Alfredo e o grande responsável pela minha paixão pelo cinema. Conheci todos aqueles personagens, com outros nomes e rostos, mas com as mesmas atitudes e comportamentos. Também eu recolhia e guardava pedaços de película espalhados pelo chão da sala de montagem. Também eu fugia para a sala de projecção tentando perceber como toda aquela magia funcionava. A dada altura, até por lá passou um projeccionista chamado Salvador, como na fase adolescente do protagonista. E tal como no filme, tudo isto teve um final pouco feliz. Há pouco mais de um ano, também eu voltei a Angra para o funeral do meu Alfredo, e também fui espreitar a Fanfarra. Aquela sala, da qual guardo as mais gratas e inesquecíveis memórias, está hoje a céu aberto depois de um incêndio que a consumiu há alguns anos. Resta a parte da frente do edifício e a parte traseira, do palco. Aquela sala à moda antiga, com plateia e balcão e imenso ar para respirar, onde me formei como cinéfilo e ser humano, existe apenas nas minhas gratas memórias. A paixão, essa ficou. E já de cá não sai.

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Obrigado, Pedro, pela tua participação!

terça-feira, novembro 22, 2011

#30



... segundo as palavras da Andreia Mandim, blogger nomeada aos TCN Blog Awards pelo seu Cinema's Challenge:

. SANTA SANGRE
(1989, Santa sangre, Alejandro Jodorowsky)



Seria difícil não incluir este filme na minha lista. Quando o vi, pela primeira vez, não sabia absolutamente nada do mesmo. Resolvi vê-lo apenas porque não tinha mais nenhum filme na altura. Sem muito ânimo, confesso. Mas no fim do filme, considerei que foi uma das melhores 'surpresas' que poderia ter. Deparei-me com uma obra surrealista, embora absolutamente rica culturalmente e cinematograficamente. Algo que raramente se vê actualmente, mesmo que o filme seja do final dos anos 80 — 1989, mais concretamente, é necessário o frisar. Mas penso que a história, personagens, ambiente e toque do realizador foram os elementos-chave que tornaram possível que o incluísse como um dos meus preferidos. Há qualquer coisa de esotérico que passa o ecrã e entra em nós ao vê-lo.

. SLEEPERS — SENTIMENTO DE REVOLTA
(1996, Sleepers, Barry Levinson)



Lembro-me de o ver quando ainda era criança. A minha irmã consumia tudo o que tinha "o menino bonito de hollywood", na altura, Brad Pitt, e eu acabava também por assistir ao filmes. Mas o que conta para aqui para o caso é que foi um filme que me marcou. Na altura era ainda ingénua e gostei de perceber que realmente existem situações, pequenos momentos, em que podemos fazer a coisa errada, na hora errada e decidir parte importante do rumo da nossa vida. Pode parecer um pouco dramático e até absurdo, para alguns, mas é um filme que me diz muito e que ultrapassa o thriller dramático que hoje se vê para aí a pontapés. Não esquecendo o excelente cast que reúne grandes nomes — Brad Pitt, Robert De Niro, Kevin Bacon, etc...

. MYSTERIOUS SKIN
(2004, Mysterious Skin, Gregg Araki)



Revi-o há pouco tempo.É um filme com uma abordagem extremamente inteligente. É a mistura de dois assuntos completamente díspares: ficção científica e abusos sexuais. Num ambiente indie, com um actor que tem dado sinais da sua eficiência (Joseph Gordon-Levitt) e com um argumento fabuloso. Acho difícil não incluir como uma das melhores coisas que vi, pelo menos dentro do seu género.

. MANHATTAN
(1979, Manhattan, Woody Allen)



Respondo como se fosse o próprio: Life doesn't imitate art, it imitates bad television, por isso preciso da minha dose de arte e optei por ver algo de Woody. Podem o chamar pretensioso ou qualquer outra coisa, mas basicamente há sempre deixas brilhantes nos seus filmes e em MANHATTAN temos bastantes exemplos. Podia inventar mil explicações do porquê de ser um dos que mais gosto do Woody Allen, mas penso que talvez goste de vários, porém é o que tenho mais vivo com sinal verde na minha mente.

. SHINING
(1980, The Shining, Stanley Kubrick)



Se Kubrick não fosse realizador, provavelmente seria Deus. Vi uma vez esta piada em algum lugar que já não me recordo, mas acredito mesmo que esteja próximo, pelo menos nas suas capacidades/poderes que tinha para fazer cinema. Vi o SHINING umas 4 vezes na mesma semana, fiquei maravilhada com o filme. Tudo tinha um grau tão assustadoramente elevado de tensão e um certo terror que nunca chega a ser terror que foi impossível não cair de amores pelo filme.

. BOOGIE NIGHTS — JOGOS DE PRAZER
(1997, Boogie Nights, Paul Thomas Anderson)



Outro recente amor. Gostei de tudo neste filme. Actores, abordagem, argumento. E o realizador é talvez dos mais prendados da sua época. Sou sincera, não tinha noção disso. Até começar a ver o seu historial, percebi que já tinha visto muitos filmes que adorei e lhe pertenciam. Quanto ao BOOGIE NIGHTS penso que é um dos filmes mais marcantes para um amante de cinema, e mais não digo.

. CLUBE DE COMBATE
(1999, Fight Club, David Fincher)



É o filme que provavelmente mais vezes vi. Chamem comercial, digam o que quiserem, mas acho que não há uma única pessoa que não tenha gostado da película de Fincher. É tudo tão delicioso. Montagem, personagens, actores. Desenvolvi uma empatia com este filme, talvez por ter nascido na época que ele retrata, neste mundo consumista e com regras sociais que ninguém acredita, num mundo que já acabou antes de ter começado.

. VOANDO SOBRE UM NINHO DE CUCOS
(1975, One Flew Over the Cuckoo's Nest, Milos Forman)



É majestoso. Jack Nicholson faz, mais uma vez, um papel que é absolutamente brilhante. O filme em si tem uma trama que prende o espectador. E a ideia de ver um filme passado num manicómio é sempre tentadora. Afinal de médico e de louco todos temos um pouco — já dizia o outro.

. UMA QUESTÃO DE CONFIANÇA
(1990, Trust, Hal Hartley)



É uma obra quase clássica. Bastante calma, mas que conta muita coisa. Ficamos embebecidos com as personagens que vivem histórias dispares, porém é a confiança que os salva. Acho que foi mais uma surpresa quando o vi, não estava à espera de algo assim tão bom e recomendo vivamente.

. O HOMEM ELEFANTE
(1980, The Elephant Man, David Lynch)



É difícil não ficarmos sensibilizados quando vemos este filme. Entre o surrealismo quase extremo de Lynh, com o preto e branco e personagens inconcebíveis no mundo real, encontramos também um mundo onde os sentimentos são impulsionados, são quase provocados, mesmo que através de histórias pouco prováveis de acontecer no mundo real, pelo menos com um homem elefante. Mas que acontece com outro tipo de pessoas que têm diferenças, mas que têm algo mais para além do aspecto, tal como o Elephant Man.

Estes filmes escolhidos são apenas uma parcela dos que considero os filmes da minha vida. É uma lista diferente das que fiz para outros blogues, propositadamente. É uma forma de mostrar todos aqueles filmes que me foram marcando e ainda marcam, mas que não totalizam tudo o que vi e gostei de ver até hoje.

--//--

Obrigado, Andreia, pela tua participação!

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