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quinta-feira, agosto 01, 2013
sábado, julho 07, 2012
Hollywood Buzz #172
O que se diz lá fora sobre SAVAGES, de Oliver Stone:

«A return to form for Stone's dark side, SAVAGES generates ruthless energy and some, but not too much, humor.»
Roger Ebert, Chicago Sun-Times.
«SAVAGES never quite captures the novel's diamond-hard sarcasm, it offers other satisfactions in its visceral immediacy, its overriding sense of danger and a clutch of performances that, whatever one's reservations about the characters, can't help but court the viewer's emotional investment.»
Justin Chang, Variety.
«SAVAGES is a daylight noir, a western, a stoner buddy movie and a love story, which is to say that it is a bit of a mess. But also a lot of fun, especially as its pulp elements rub up against some gritty geopolitical and economic themes.»
A.O. Scott, The New York Times.
«SAVAGES represents at least a partial resurrection of the director's more hallucinatory, violent, sexual and, in a word, savage side.»
Todd McCarthy, The Hollywood Reporter.
«SAVAGES is Oliver Stone doing what he should have done a long time ago: making a tricky, amoral, down-and-dirty crime thriller that's blessedly free of any social, topical, or political relevance.»
Owen Gleiberman, Entertainment Weekly.

«A return to form for Stone's dark side, SAVAGES generates ruthless energy and some, but not too much, humor.»
Roger Ebert, Chicago Sun-Times.
«SAVAGES never quite captures the novel's diamond-hard sarcasm, it offers other satisfactions in its visceral immediacy, its overriding sense of danger and a clutch of performances that, whatever one's reservations about the characters, can't help but court the viewer's emotional investment.»
Justin Chang, Variety.
«SAVAGES is a daylight noir, a western, a stoner buddy movie and a love story, which is to say that it is a bit of a mess. But also a lot of fun, especially as its pulp elements rub up against some gritty geopolitical and economic themes.»
A.O. Scott, The New York Times.
«SAVAGES represents at least a partial resurrection of the director's more hallucinatory, violent, sexual and, in a word, savage side.»
Todd McCarthy, The Hollywood Reporter.
«SAVAGES is Oliver Stone doing what he should have done a long time ago: making a tricky, amoral, down-and-dirty crime thriller that's blessedly free of any social, topical, or political relevance.»
Owen Gleiberman, Entertainment Weekly.
quinta-feira, abril 05, 2012
Antestreia da Semana

Pot growers Ben and Chon face off against the Mexican drug cartel who kidnapped their shared girlfriend.
À primeira vista, não parece indiciar o regresso de Oliver Stone enquanto cineasta, temática e visualmente, provocador e mordaz. Contudo, e pelas primeiras imagens desta adaptação do romance homónimo de Don Winslow, SAVAGES descortina uma atmosfera de filme de acção dos anos 90 e um conjunto de personagens over-the-top (sobretudo, as de John Travolta e Salma Hayek) suficiente interessantes para mantermos o filme sob o nosso "radar" durante os próximos meses.
No elenco, contam-se também os nomes de Blake Lively, Taylor Kitsch, Emile Hirsch, Uma Thurman, Benicio Del Toro e Aaron Johnson.
Estreia prevista, em Portugal, para 04 de Outubro de 2012.
sábado, fevereiro 04, 2012
5 Momentos Memoráveis
#16: Deleted Scenes

São raras as expressões artísticas que detêm um carácter tão "plástico" como o Cinema. Enquanto existir material filmado, previamente descartado na sala de montagem mas disponível para visualização, será sempre possível observar as diferentes nuances de uma sequência sobejamente conhecida, descobrir momentos cinematográficos que se tornariam inesquecíveis ou absorver significados totalmente diferentes nos filmes que amamos.
A revitalização de sequências cortadas ganhou impulso com os director's cut (prática popularizada por Ridley Scott no seu BLADE RUNNER — PERIGO IMINENTE) de vários títulos, transformando a sua visualização em algo de emocionante para qualquer cinéfilo. Os momentos memoráveis também são feitos de sequências que, durante algum tempo, estiveram afastadas do olhar do grande público. Assim, aqui ficam cinco exemplos, acompanhados da habitual menção honrosa, de como "filme acabado" pode ser termo bastante enganador...
MENÇÃO HONROSA: ALIEN — O 8º PASSAGEIRO (1979), de Ridley Scott

Um dos aspectos mais brilhantes de ALIEN — O 8º PASSAGEIRO é a sua sonoplastia, que desde o genérico coloca o espectador em permanente sentido de alerta, muito antes da revelação dos horrores que se abatem sobre a tripulação da Nostromo (e convém recordar que tal só sucede a partir da hora de filme...).
Resignados, por intermédio do computador de bordo, a investigar um sinal acústico de origem desconhecida, cedo se procede à sua descodificação. E caso esta sequência estivesse incluída na montagem final, a natureza agressiva do som assumir-se-ia como um dos primeiros grandes "sustos" do filme.
5. MAGNOLIA (1999), de Paul Thomas Anderson

A semântica e grandiloquência das palestras de "auto-motivação masculina", promovidas por Frank 'TJ' Mackey (Tom Cruise), constituem um dos momentos altos do impressionante filme-mosaico que é MAGNOLIA. Contudo, observar o próprio Mackey a colocar em prática os seus "ensinamentos" oferece toda uma nova dimensão, não só à própria personagem, como também ao contexto dramático em que se insere.
Continuo a achar que Tom Cruise deveria ter sido o recipiente do Óscar de Melhor Actor Secundário daquele ano. Para além da convicção com que proferiu frases como "Respect the cock!" ou "Fucking Denise! Denise the Piece!", eis aqui mais alguns argumentos para apoiar esta opinião...
4. THIS IS SPINAL TAP (1984), de Rob Reiner

Neste que é, para mim, o "rei" de todos os mockumentaries, o processo de montagem foi tudo menos nobre. Embora os motivos que justificaram o corte de sequências como esta, ou desta também, permaneçam em mistério, há que agradecer aos deuses da preservação cinematográfica pelo quarto lugar da presente lista.
Bruno Kirby, no papel do motorista dos Spinal Tap, descobre, da forma mais hilariante possível, os surpreendentes efeitos de substâncias psicotrópicas — e somos brindados com uma preciosa amostra do talento de Kirby, actor a quem falta prestar devido reconhecimento mediático.
3. NIXON (1995), de Oliver Stone

Neste tour de force cuja duração excede os 190 minutos, excisar-lhe uma sequência de dez minutos que encena uma reunião pouco amistosa entre Richard Nixon e Richard Helms, naquela altura director da CIA, afigurou-se como decisão lógica e nada prejudicial para a compreensão integral deste magnífico e subvalorizado biopic.
Embora se limite a reforçar temas sobre a vida de Nixon que o filme já explora em vários momentos-chave — as memórias traumáticas da sua infância, o passado político obscuro, os caminhos sinuosos que a sua Administração percorreu, etc. —, merece destaque nesta lista por provar que é possível haver dinâmica num "simples" confronto de palavras e ideias, enriquecida pelo (saudoso) estilo de montagem histórico-intelectual de Oliver Stone e ainda nos proporciona uma fabulosa declamação do poema The Second Coming, de W.B. Yeats. Electrizante.
2. O TUBARÃO (1975), de Steven Spielberg

Só com o argumento de que "abrandaria o ritmo" do filme se pode explicar a omissão desta hilariante sequência. Reveladora do lado mais bipolar e diabólico de Sam Quint (Robert Shaw) que só testemunhamos na última meia hora de filme, vemo-lo aqui entretido a atormentar os esforços de um jovem clarinetista durante uma interpretação da Nona Sinfonia de Beethoven.
Sendo tarefa quase impossível determinar o seu contexto no filme de Spielberg, atesta que Quint será, muito provavelmente, a primeira personagem da história do Cinema a merecer um filme só seu — fosse ele prequela ou spin-off...
1. QUASE FAMOSOS (2000), de Cameron Crowe

Cameron Crowe afirmou que, caso soubesse que lhe seria vedada permissão para incluir esta sequência na montagem final, muito provavelmente nunca faria QUASE FAMOSOS. À última da hora, a produção não conseguiu assegurar os direitos de «Stairway to Heaven», dos Led Zeppelin, e observando a cena, percebe-se como não faria qualquer sentido utilizar outro tema que não esse para o jovem protagonista (Patrick Fugit) demonstrar à sua mãe (Frances McDormand), reticente em deixar o filho adolescente acompanhar uma tournée de um grupo musical, o poder do rock'n'roll.
Dez fabulosos minutos de Cinema, recheados de elementos visuais e sonoros que nenhum cinéfilo se deveria privar de assistir.

São raras as expressões artísticas que detêm um carácter tão "plástico" como o Cinema. Enquanto existir material filmado, previamente descartado na sala de montagem mas disponível para visualização, será sempre possível observar as diferentes nuances de uma sequência sobejamente conhecida, descobrir momentos cinematográficos que se tornariam inesquecíveis ou absorver significados totalmente diferentes nos filmes que amamos.
A revitalização de sequências cortadas ganhou impulso com os director's cut (prática popularizada por Ridley Scott no seu BLADE RUNNER — PERIGO IMINENTE) de vários títulos, transformando a sua visualização em algo de emocionante para qualquer cinéfilo. Os momentos memoráveis também são feitos de sequências que, durante algum tempo, estiveram afastadas do olhar do grande público. Assim, aqui ficam cinco exemplos, acompanhados da habitual menção honrosa, de como "filme acabado" pode ser termo bastante enganador...
MENÇÃO HONROSA: ALIEN — O 8º PASSAGEIRO (1979), de Ridley Scott

Um dos aspectos mais brilhantes de ALIEN — O 8º PASSAGEIRO é a sua sonoplastia, que desde o genérico coloca o espectador em permanente sentido de alerta, muito antes da revelação dos horrores que se abatem sobre a tripulação da Nostromo (e convém recordar que tal só sucede a partir da hora de filme...).
Resignados, por intermédio do computador de bordo, a investigar um sinal acústico de origem desconhecida, cedo se procede à sua descodificação. E caso esta sequência estivesse incluída na montagem final, a natureza agressiva do som assumir-se-ia como um dos primeiros grandes "sustos" do filme.
5. MAGNOLIA (1999), de Paul Thomas Anderson

A semântica e grandiloquência das palestras de "auto-motivação masculina", promovidas por Frank 'TJ' Mackey (Tom Cruise), constituem um dos momentos altos do impressionante filme-mosaico que é MAGNOLIA. Contudo, observar o próprio Mackey a colocar em prática os seus "ensinamentos" oferece toda uma nova dimensão, não só à própria personagem, como também ao contexto dramático em que se insere.
Continuo a achar que Tom Cruise deveria ter sido o recipiente do Óscar de Melhor Actor Secundário daquele ano. Para além da convicção com que proferiu frases como "Respect the cock!" ou "Fucking Denise! Denise the Piece!", eis aqui mais alguns argumentos para apoiar esta opinião...
4. THIS IS SPINAL TAP (1984), de Rob Reiner

Neste que é, para mim, o "rei" de todos os mockumentaries, o processo de montagem foi tudo menos nobre. Embora os motivos que justificaram o corte de sequências como esta, ou desta também, permaneçam em mistério, há que agradecer aos deuses da preservação cinematográfica pelo quarto lugar da presente lista.
Bruno Kirby, no papel do motorista dos Spinal Tap, descobre, da forma mais hilariante possível, os surpreendentes efeitos de substâncias psicotrópicas — e somos brindados com uma preciosa amostra do talento de Kirby, actor a quem falta prestar devido reconhecimento mediático.
3. NIXON (1995), de Oliver Stone

Neste tour de force cuja duração excede os 190 minutos, excisar-lhe uma sequência de dez minutos que encena uma reunião pouco amistosa entre Richard Nixon e Richard Helms, naquela altura director da CIA, afigurou-se como decisão lógica e nada prejudicial para a compreensão integral deste magnífico e subvalorizado biopic.
Embora se limite a reforçar temas sobre a vida de Nixon que o filme já explora em vários momentos-chave — as memórias traumáticas da sua infância, o passado político obscuro, os caminhos sinuosos que a sua Administração percorreu, etc. —, merece destaque nesta lista por provar que é possível haver dinâmica num "simples" confronto de palavras e ideias, enriquecida pelo (saudoso) estilo de montagem histórico-intelectual de Oliver Stone e ainda nos proporciona uma fabulosa declamação do poema The Second Coming, de W.B. Yeats. Electrizante.
2. O TUBARÃO (1975), de Steven Spielberg

Só com o argumento de que "abrandaria o ritmo" do filme se pode explicar a omissão desta hilariante sequência. Reveladora do lado mais bipolar e diabólico de Sam Quint (Robert Shaw) que só testemunhamos na última meia hora de filme, vemo-lo aqui entretido a atormentar os esforços de um jovem clarinetista durante uma interpretação da Nona Sinfonia de Beethoven.
Sendo tarefa quase impossível determinar o seu contexto no filme de Spielberg, atesta que Quint será, muito provavelmente, a primeira personagem da história do Cinema a merecer um filme só seu — fosse ele prequela ou spin-off...
1. QUASE FAMOSOS (2000), de Cameron Crowe

Cameron Crowe afirmou que, caso soubesse que lhe seria vedada permissão para incluir esta sequência na montagem final, muito provavelmente nunca faria QUASE FAMOSOS. À última da hora, a produção não conseguiu assegurar os direitos de «Stairway to Heaven», dos Led Zeppelin, e observando a cena, percebe-se como não faria qualquer sentido utilizar outro tema que não esse para o jovem protagonista (Patrick Fugit) demonstrar à sua mãe (Frances McDormand), reticente em deixar o filho adolescente acompanhar uma tournée de um grupo musical, o poder do rock'n'roll.
Dez fabulosos minutos de Cinema, recheados de elementos visuais e sonoros que nenhum cinéfilo se deveria privar de assistir.
domingo, maio 08, 2011
Críticas da Semana
Breve resumo dos principais filmes visualizados esta semana.
A CIDADE DOS MORTOS (2009), de Sérgio Tréfaut

A Cidade dos Mortos, no Cairo, é a maior necrópole do mundo. Um milhão de pessoas vivem dentro de um cemitério que se estende por mais de dez quilómetros ao longo de uma auto-estrada. Contudo, não deixa de ser uma aldeia, com mães à caça de um bom partido para as filhas, rapazes a correr atrás das raparigas, disputas entre vizinhos.
Não é difícil apelidar o registo filmado do quotidiano de uma "cidade" que se formou no interior de uma necrópole do Cairo como irresistível. O realizador não esconde o seu fascínio por este microcosmos, mas permanece a impressão de existir ainda muito por contar e descobrir acerca desta peculiar localidade numa metragem (60 minutos) que se revela muito breve. Apesar do seu défice de contextualização e detalhe, encoraja-se visualização.
COMANDANTE (2003), de Oliver Stone

Documentário político em que o realizador norte-americano entrevista Fidel Castro sobre uma gama variada de temas: memórias históricas, geopolítica, a intimidade do estadista e o próprio sentido da vida.
Stone faz um excelente trabalho na desmistificação de Castro, contudo revela-se facilmente ludibriado pelo entrevistado quando os diálogos abordam os temas mais sensíveis (direitos humanos, repressão policial e política, etc.) da Revolução Cubana. Política e História à parte, o contraste entre as palavras do líder e imagens de arquivo retoma a pujança da montagem dinâmica e intelectualmente provocadora que o cineasta exibira em JFK (1991) e da qual, na minha opinião, nunca se deveria ter afastado.
FREAKONOMICS (2010), de Seth Gordon

Baseado no best-seller de Steven Levitt e Stephen Dubner, este documentário é composto por uma série de vinhetas, assinadas por diferentes realizadores (incluindo Morgan Spurlock e Alex Gibney), que ilustram capítulos do livro sobre temas tão diversos como a influência que o primeiro nome exerce no sucesso ou fracasso de um indivíduo ou se é possível subornar um estudante de forma a que este atinja desempenho escolar positivo.
Se a decisão de filmar os segmentos mais interessantes do livro revela-se acertada, o facto de as curtas afastarem-se do campo da Economia — que é, sem dúvida, o cerne das investigações levadas a cabo por Levitt e Dubner — para "introspecções" sobre (i)moralidade social afastam o espectador de importantes reflexões, tais como ausência de informação ou tácticas agressivas de manipulação que conduzem ao consumo irracional contemporâneo. Desta feita, e contrariamente ao que advogo, recomendo a obra literária e depois o filme... caso não exista algo melhor "à mão" para ver.
O MÁGICO (2010), de Sylvain Chomet

Quando a arte do ilusionismo dava os últimos passos, um mágico entertainer, afastado dos palcos da cidade, vê-se obrigado a apresentar o seu espectáculo num pub da costa ocidental escocesa, onde encontra Alice, uma jovem inocente, que mudará para sempre a sua vida.
Ao adaptar um argumento nunca produzido de Jacques Tati, Chomet recupera a (apropriada) magia que só a animação tradicional, assente mais em gestos e situações do que em diálogos, consegue proporcionar. Pleno de mensagens de amor paternal, surpreendentemente realista e melancólico como a vida, apresenta um interessante subplot dedicado às amarguras de quem procura na arte e entretenimento incondicionais um meio de subsistência. Mesmo que se tenha em mente a pequena controvérsia em torno da reinvenção da história escrita por Tati, é complicado ficar de coração empedernido quando O MÁGICO termina.
SERBIS (2008), de Brillante Mendoza

Uma família filipina, residente num velho cinema de província que passa filmes pornográficos, lida com os seus dilemas pessoais. Entretanto, o público que frequenta a sala encontra na penumbra de um cinema a atmosfera ideal para uma variedade de "serviços" sexuais entre prostitutos e clientes.
O cinema de Mendoza não é, definitivamente, para "meninos": rude, obsceno, raramente gentil e de intenções pouco transparentes, a história é simplesmente apresentada e não narrada por mecanismos narrativos consensuais. Para o cineasta, aquele cinema pornográfico parece funcionar como metáfora para um mundo em ruínas, onde prazeres mundanos e crenças particulares não camuflam as misérias e descontentamentos da existência humana. Filme tão incomodativo como de qualidade.
A CIDADE DOS MORTOS (2009), de Sérgio Tréfaut

A Cidade dos Mortos, no Cairo, é a maior necrópole do mundo. Um milhão de pessoas vivem dentro de um cemitério que se estende por mais de dez quilómetros ao longo de uma auto-estrada. Contudo, não deixa de ser uma aldeia, com mães à caça de um bom partido para as filhas, rapazes a correr atrás das raparigas, disputas entre vizinhos.
Não é difícil apelidar o registo filmado do quotidiano de uma "cidade" que se formou no interior de uma necrópole do Cairo como irresistível. O realizador não esconde o seu fascínio por este microcosmos, mas permanece a impressão de existir ainda muito por contar e descobrir acerca desta peculiar localidade numa metragem (60 minutos) que se revela muito breve. Apesar do seu défice de contextualização e detalhe, encoraja-se visualização.
COMANDANTE (2003), de Oliver Stone

Documentário político em que o realizador norte-americano entrevista Fidel Castro sobre uma gama variada de temas: memórias históricas, geopolítica, a intimidade do estadista e o próprio sentido da vida.
Stone faz um excelente trabalho na desmistificação de Castro, contudo revela-se facilmente ludibriado pelo entrevistado quando os diálogos abordam os temas mais sensíveis (direitos humanos, repressão policial e política, etc.) da Revolução Cubana. Política e História à parte, o contraste entre as palavras do líder e imagens de arquivo retoma a pujança da montagem dinâmica e intelectualmente provocadora que o cineasta exibira em JFK (1991) e da qual, na minha opinião, nunca se deveria ter afastado.
FREAKONOMICS (2010), de Seth Gordon

Baseado no best-seller de Steven Levitt e Stephen Dubner, este documentário é composto por uma série de vinhetas, assinadas por diferentes realizadores (incluindo Morgan Spurlock e Alex Gibney), que ilustram capítulos do livro sobre temas tão diversos como a influência que o primeiro nome exerce no sucesso ou fracasso de um indivíduo ou se é possível subornar um estudante de forma a que este atinja desempenho escolar positivo.
Se a decisão de filmar os segmentos mais interessantes do livro revela-se acertada, o facto de as curtas afastarem-se do campo da Economia — que é, sem dúvida, o cerne das investigações levadas a cabo por Levitt e Dubner — para "introspecções" sobre (i)moralidade social afastam o espectador de importantes reflexões, tais como ausência de informação ou tácticas agressivas de manipulação que conduzem ao consumo irracional contemporâneo. Desta feita, e contrariamente ao que advogo, recomendo a obra literária e depois o filme... caso não exista algo melhor "à mão" para ver.
O MÁGICO (2010), de Sylvain Chomet

Quando a arte do ilusionismo dava os últimos passos, um mágico entertainer, afastado dos palcos da cidade, vê-se obrigado a apresentar o seu espectáculo num pub da costa ocidental escocesa, onde encontra Alice, uma jovem inocente, que mudará para sempre a sua vida.
Ao adaptar um argumento nunca produzido de Jacques Tati, Chomet recupera a (apropriada) magia que só a animação tradicional, assente mais em gestos e situações do que em diálogos, consegue proporcionar. Pleno de mensagens de amor paternal, surpreendentemente realista e melancólico como a vida, apresenta um interessante subplot dedicado às amarguras de quem procura na arte e entretenimento incondicionais um meio de subsistência. Mesmo que se tenha em mente a pequena controvérsia em torno da reinvenção da história escrita por Tati, é complicado ficar de coração empedernido quando O MÁGICO termina.
SERBIS (2008), de Brillante Mendoza

Uma família filipina, residente num velho cinema de província que passa filmes pornográficos, lida com os seus dilemas pessoais. Entretanto, o público que frequenta a sala encontra na penumbra de um cinema a atmosfera ideal para uma variedade de "serviços" sexuais entre prostitutos e clientes.
O cinema de Mendoza não é, definitivamente, para "meninos": rude, obsceno, raramente gentil e de intenções pouco transparentes, a história é simplesmente apresentada e não narrada por mecanismos narrativos consensuais. Para o cineasta, aquele cinema pornográfico parece funcionar como metáfora para um mundo em ruínas, onde prazeres mundanos e crenças particulares não camuflam as misérias e descontentamentos da existência humana. Filme tão incomodativo como de qualidade.
segunda-feira, outubro 18, 2010
WALL STREET: O DINHEIRO NUNCA DORME (2010), de Oliver Stone

Num filme em que as teses de dinheiro ganho, dinheiro a ganhar e (muito) dinheiro a perder representam pontos de partida, é de estranhar que WALL STREET: O DINHEIRO NUNCA DORME se centre mais na "ganância" pelo reatamento de relações familiares e amorosas do que com os jogos de poder e fortuna que transformaram WALL STREET (1987) numa obra tremendamente interessante sobre um assunto tão técnico como é o do mercado bolsista.
Afinal de contas, a actualidade noticiosa parece resumir-se ao conturbado ambiente financeiro provocado pelos "seres" que povoavam esse primeiro filme, agora venerado pelo seu estatuto de saga moral e relato nostálgico de uma época em que o capitalismo parecia ser o caminho para a remissão dessa «empresa disfuncional chamada Estados Unidos da América», do que pelos seus méritos fílmicos. Quando a produção desta muito esperada sequela foi anunciada, não era complicado prever que a crise do sub-prime de 2008, e que ainda hoje patenteia toda a sua pujança, dominasse o argumento e aprofundasse os avisos que Oliver Stone enunciou em 1987. Para surpresa geral (incluindo a minha), é-nos apresentado um melodrama morno e por vezes pouco envolvente, onde abunda a quebra e reconciliação afectiva em detrimento do detalhado apontar de dedos a quem criou, exacerbou e revelou o terramoto financeiro contemporâneo.

Após cumprir longa pena de prisão por insider trading e fraude de investimentos, Gordon Gekko (Michael Douglas) regressa a Nova Iorque, demonstrando aura de pecador redimido e autor de um livro — «A Ganância Será Boa?» — que destaca a especulação desregulada como a razão fulcral para o fracasso do neo-liberalismo dos anos 80. No meio deste regresso à "arena" mediática, encontra Jacob (Shia LaBeouf), um jovem ambicioso e idealista que procura erguer-se da bancarrota do banco onde trabalha — assim como do suicídio do seu mentor e presidente daquela instituição (Frank Langella, numa pequena mas cativante participação) — e, coincidentemente, noivo da filha de Gekko, Winnie (Carey Mulligan), que rompeu o contacto com o pai após a sua condenação.
Para Jacob, a aproximação a Gekko representa uma oportunidade para aprender mais acerca das regras do "jogo" e, assim, ripostar contra o responsável pela sua ruína financeiro-pessoal; para Gordon, trata-se de um privilegiado caminho para se reaproximar da filha. No meio deste cenário, surge Bretton James (Josh Brolin), um CEO bancário de viperino requinte que enriqueceu à custa da aquisição de empresas em processo de insolvência. Através da mercadoria mais preciosa no mundo da alta finança, ou seja, a manipulação de informação, Gekko e Jacob concluem que Bretton é o alvo a abater...

É impossível não descrever WALL STREET: O DINHEIRO NUNCA DORME como um drama quase inteiramente centrado em relações de índole emocional, já que estas ocupam mais tempo de ecrã do que vislumbres da azáfama comum no New York Stock Exchange, revelando um Oliver Stone "macio" — a confrangedora sequência que acompanha os créditos finais são disso sintoma. Conhecendo o seu percurso, filmar a crise financeira mundial seria um pretexto impecável para o cineasta regressar ao estilo frenético que saiu da sala de montagem de títulos como JFK (1991), NIXON (1995) ou até o curioso W (2008), ziguezagueando entre a abordagem documental e o reinventar de factos históricos. Caro Oliver, nem sequer o ensaio de uma "teoriazinha" de conspiração?
Em última análise, e no que será o primeiro drama inteiramente focado na actual crise económica, o filme revela-se como entretenimento ligeiro, mas onde é possível observar momentos de acutilante simbolismo (vejam-se as mordazes comparações do mercado bolsista à solidez de uma bolha de sabão), a magnífica direcção de fotografia (assinada por Rodrigo Prieto) que nos mostra uma Nova Iorque ironicamente resplandecente e lampejos de fulgor interpretativo dos actores mais velhos (o já referido Langella e Eli Wallach, no papel de um sinistro patriarca de Wall Street). Douglas não vacila na reencarnação da sua figura mais icónica e está bem acompanhado pelos jovens protagonistas, Shia LaBeouf e, sobretudo, Carey Mulligan, a exceder-se na pele de uma personagem unidimensional. O seu impacto não perdurará muito tempo na nossa memória futura mas, inevitavelmente, até os realizadores mais criativos atravessam períodos de crise...
P.S.: O que não parece mesmo atravessar tempos conturbados é esse "monumento" ao capitalismo do fast-food que dá pelo nome de pipocas. A minha paciência e ouvidos foram severamente testados, durante todo o filme e como há muito não me sucedia, pelo ruminar de milho estourado do casal que se encontrava sentado ao meu lado. Quando é que o equivalente à CMVM das salas de cinema portuguesas cria "mecanismos legais" para minimizar este fenómeno?
sábado, maio 15, 2010
Festival de Cannes 2010 — Dia 3

O grande destaque deste terceiro dia de Festival vai para a ante-estreia mundial de WALL STREET: MONEY NEVER SLEEPS, ou o regresso do apologista da ganância Gordon Gekko (Michael Douglas) ao mundo da alta finança e do puro insider trading:

Na conferência de imprensa, Oliver Stone confessou ter-se apercebido da coincidência entre a estreia do filme e o incremento da convulsão económica europeia das últimas horas, ao mesmo tempo que partilhou a sua visão acerca do capitalismo. «Não sei se funciona. Em 1987, quando fiz o primeiro WALL STREET, pensei que as coisas iriam melhorar, mas vinte anos depois provou-se o contrário. Hoje, os únicos que realmente enriquecem são os directores das grandes empresas».


Mas a jornada ficou, indelevelmente, marcada pelo cinema asiático: em competição pela Palma de Ouro, Im Sangsoo apresentou THE HOUSEMAID, conto moral sobre o eterno choque de gerações e uma obra dedicada à análise da sociedade sul-coreana dos últimos cinquenta anos.

Hideo Nakata, nome proeminente da nova geração de cineastas nipónicos, prossegue a sua experimentação do terror enquanto género com CHATROOM (presente na secção «Un Certain Regard»); uma história sobre cinco adolescentes que conhecem o lado negro da Internet do modo mais impressionante. Por causa desta tecnologia, sentimos «ansiedade, medo, desejo, ódio e raiva. Algumas pessoas até são compelidas a cometer suicídio ou a assassinar inocentes», conforme partilhou o realizador durante a conferência de imprensa.

O realce final de hoje vai para a nova obra do romeno Cristi Puiu. AURORA (secção «Un Certain Regard»), a semi-sequela de A MORTE DO SR. LAZARESCU (premiado no Festival de Cannes de 2005) num conjunto de filmes que o cineasta denomina como «uma ambiciosa saga dedicada a Bucareste».

quinta-feira, abril 15, 2010
Festival de Cannes 2010

Foram apresentados hoje de manhã, em conferência de imprensa, os títulos que marcarão a 63ª edição do Festival de Cannes.
O Keyzer Soze's Place partilha a sua selecção (numa programação ainda incompleta) dos filmes mais sonantes. Primeira nota: num ano em que, muito provavelmente, apenas um filme norte-americano concorrerá à Palma de Ouro, é grande a expectativa quanto à revelação dos vencedores, que decorrerá no dia 23 de Maio. Até lá, temos a certeza de que qualidade não estará ausente do certame.
. HORS LA LOI, de Rachid Bouchareb

Sequela "não-oficial" de INDIGÈNES (2006), também assinado por Bouchareb, é uma retrospectiva sobre a luta pela independência da Argélia durante os anos 40 e 50, vista pelos olhos de três irmãos que participam na revolta contra o exército do colonizador francês. Destaque para o protagonismo de Jamel Debbouze (O FABULOSO DESTINO DE AMÉLIE e ANGEL-A).
. BIUTIFUL, de Alejandro González Iñarritu

Um homem (Javier Bardem), envolvido no transporte ilegal de emigrantes, é perseguido pelo seu melhor amigo de infância, que agora é agente da polícia. Co-produzido por Guillermo del Toro e Alfonso Cuaron, e ostentando uma equipa técnica de luxo (Rodrigo Prieto na direcção de fotografia, Stephen Mirrione na montagem e banda sonora composta pelo oscarizado Gustavo Santaolalla), assinala o regresso de Iñarritu a um filme totalmente falado em espanhol desde a sua estreia em AMOR CÃO (2000).
. COPIE CONFORME, de Abbas Kiarostami

Durante uma viagem a Itália para promover o seu último romance, um escritor inglês de meia-idade trava conhecimento com uma negociante de arte francesa, a qual propõe-lhe um estranho divertimento: fingir que é o marido dela. Um jogo onde realidade e fantasia misturam-se de forma perigosa. O novo filme do cineasta iraniano mais aclamado da actualidade, protagonizado por Juliette Binoche (a "cara" do 63º Festival de Cannes).
. AUTOREIJI / OUTRAGE, de Takeshi Kitano

Tóquio está em chamas devido a uma luta mortal entre gangs Yakuza rivais, na qual se distingue Otomo, um operacional a quem é pedido que faça a maior parte do trabalho sujo nesta guerra urbana. O regresso do "multitasked" Takeshi Kitano às narrativas centradas na máfia japonesa desde o aclamado BROTHER (2000).
. ANOTHER YEAR, de Mike Leigh

Não obstante a pouca informação existente sobre este projecto, é garantido que se assistirá ao estilo de improvisação e realismo social que bem caracteriza a filmografia de Leigh, tal como ficou provado em NU (1993), SEGREDOS E MENTIRAS (1996, Palma de Ouro no Festival daquele ano) e VERA DRAKE (2004).
. FAIR GAME, de Doug Liman

A única presença norte-americana entre os filmes elegíveis à Palma de Ouro, debruça-se sobre a ex-agente da CIA Valerie Plame, cuja actividade no seio dos Serviços de Inteligência norte-americanos foi publicamente revelada em consequência de um crítico artigo no New York Times, sobre as opções políticas de George W. Bush no Iraque, publicado pelo seu próprio marido. O elenco é liderado por Naomi Watts e Sean Penn, naquele que será o título de teor mais mainstream em "concurso".
. UTOMLYONNYE SOLNTSEM 2, de Nikita Mikhalkov

Dezasseis anos após o sucesso de O SOL ENGANADOR, Mikhalkov reencarna a personagem Sergei Kotov, desta vez a liderar o seu exército na frente russa durante a Segunda Guerra Mundial. De assinalar o radical afastamento do drama íntimo patenteado no primeiro filme, visto trata-se de um épico bélico avaliado em 55 milhões de dólares — o mais caro de sempre na história do cinema russo.
. LA PRINCESSE DE MONTPENSIER, de Bertrand Tavernier

Depois da "aventura" americana que IN THE ELECTRIC MIST representou, Tavernier regressa ao seu país natal para filmar o conto publicado em 1662 por Madame de La Fayette, sobre o romance entre o Duque de Guise e a Mademoiselle Mézières, forçada a um casamento de conveniência com o Príncipe de Montpensier. Destaque para o elenco, onde figuram Mélanie Thierry, Gaspard Ulliel e Lambert Wilson.
. UNCLE BOONMEE WHO CAN RECALL HIS PAST LIVES, de Apichatpong Weerasethakul

Nas suas últimas horas de vida, Boonmee recebe a visita dos fantasmas de parentes há muito desaparecidos, que o obrigam a revisitar os episódios mais marcantes da sua juventude. Uma original abordagem às temáticas da efemeridade humana, o cineasta tailandês mais conceituado internacionalmente regressa a Cannes, após ter arrecadado o Grande Prémio do Júri, em 2004, com TROPICAL MALADY.
. O ESTRANHO CASO DE ANGÉLICA, de Manoel de Oliveira

Situado nos anos 50, narra a história de um fotógrafo hospedado num pequeno hotel e que é subitamente acordado durante a noite pelos proprietários, para que vá tirar uma foto à filha acabada de falecer. Aos 101 anos, Manoel de Oliveira estreia novo filme em Cannes, que há muito se rendeu ao mais decano dos cineastas internacionais.
. FILM SOCIALISME, de Jean-Luc Godard

Um cruzeiro atravessa o Mediterrâneo. A bordo, seguem um criminoso de guerra com a sua neta, um francês, um oficial russo, a embaixadora da Palestina, Alain Badiou e Patti Smith. A interacção entre estes "personagens" originará uma série de diálogos em diferentes idiomas e sobre diferentes temas. Assinado por vários cineastas, sob a supervisão de Godard, é um dos projectos cinematográficos mais aguardados de 2010.
. CHATROOM, de Hideo Nakata

Quando quatro adolescentes conhecem William numa sala de chat, são imediatamente atraídos pelo seu "cibernético carisma". Mas William não é o que aparenta: manipulador e calculista, enceta um aterrorizante jogo de perseguição que, em breve, sairá do mundo virtual para se converter numa ameaça bem real. Nakata, um dos "fundadores" do J-Horror, investe novamente no terror a partir de tecnologia quotidiana.
. AURORA, de Cristi Puiu

Um dos principais nomes da "nova vaga" de cineastas romenos regressa a Cannes depois de A MORTE DO SR. LAZARESCU (2005) ter arrecadado o prémio da Secção Un Certain Regard. O próprio Puiu protagoniza este drama sobre um homem com dois filhos, divorciado e que se demite do emprego para embarcar na mais radical mudança de vida.
. ROBIN HOOD, de Ridley Scott

Nova incursão cinematográfica dedicada ao lendário herói das florestas de Nottingham, protagonizado por Russell Crowe e Cate Blanchett, tem honras de abertura do 63º Festival de Cannes.
. YOU WILL MEET A TALL DARK STRANGER, de Woody Allen

Romance, sexo, traição e também algumas gargalhadas. As vidas de um grupo de pessoas cujas paixões, ambições e ansiedades forçam-nas a enfrentar todo o género de problemas, que vão do burlesco ao ameaçador. A sinopse não engana: estamos perante puro Woody Allen...
. TAMARA DREWE, de Stephen Frears

Drewe é uma jovem e sexy jornalista que retorna à sua terra natal para impedir a venda da casa onde nasceu. Entre os locais, a sua chegada incitará novas e velhas paixões duvidosas. Adaptado da excêntrica banda desenhada de Posy Simmonds, a expectativa em torno deste filme tem sido enorme, sobretudo por ser realizado pelo veterano Frears (LIGAÇÕES PERIGOSAS, A RAINHA) e protagonizado por Gemma Arterton, a nova sex-symbol britânica.
. WALL STREET — MONEY NEVER SLEEPS, de Oliver Stone

Enquanto a economia mundial está à beira do abismo, um jovem corretor de Wall Street (Shia LaBeouf) une-se com o "ressuscitado" Gordon Gekko (Michael Douglas) para uma dupla missão: descobrir quem assassinou o mentor do jovem executivo e possibilitar que Gekko reconquiste a confiança da sua filha (Carey Mulligan). Oliver Stone volta a explorar os meandros do insider trading, numa obra que não poderia ser mais actual.
N.B.: A lista detalhada dos filmes a exibir em Cannes pode ser consultada aqui.
sexta-feira, novembro 06, 2009
5 Momentos Memoráveis
#6: JOGOS DE LUZ E COR

Uma imagem de Orson Welles compondo uma cena de CITIZEN KANE — O MUNDO A SEUS PÉS através de um viewfinder "baptiza" este post dedicado aos directores de fotografia, cujo trabalho passa, muitas vezes, despercebido ao espectador. Afinal de contas, são os responsáveis pelo visual de um filme, escolhendo os tipos de película, lentes e iluminação que elevam a Sétima Arte para qualquer coisa de única e especial.
Nas cinco escolhas abaixo enumeradas, juntamente com a menção honrosa do costume, não me alonguei na descrição de aspectos técnicos (embora muito houvesse a falar sobre este item) nem privilegiei a era do preto e branco (não obstante apreciar imenso o estilo do Expressionismo Alemão ou os surreais contrastes que Federico Fellini e Roberto Rossellini empregaram). Os filmes destacados sobressaem pelo refinado trabalho de luz e cor que ostentam, a destreza técnica que exigiram e, nessa contemporaneidade, uma demonstração da homenagem que o Cinema presta ao seu próprio passado.
Sem mais delongas, partilho convosco seis bons exemplos de magnífica direcção de fotografia.
Menção Honrosa: LONGE DO PARAÍSO (2002), de Todd Haynes

É, nos últimos anos, o exemplo supremo da homenagem a um estilo, mais concretamente ao de Douglas Sirk, um dos principais autores de melodramas dos anos 50 (O QUE O CÉU PERMITE ou ESCRITO NO VENTO).
O realizador Todd Haynes recria a paleta de cores utilizada por Sirk nos seus filmes (que "personificavam" os locais e estados de espírito subjacentes ao ambiente da cena), assim como os ângulos de câmara e planos característicos da época. Também se recorreu aos mesmos equipamentos de iluminação e filtros oculares que estavam em voga na década de 50. Tudo em prol da primorosa fotografia de LONGE DO PARAÍSO que o trailer, abaixo apresentado, demonstra.
5. JFK (1991), de Oliver Stone

No que bem se poderia apelidar de "filme-tese", Oliver Stone explorou, ao máximo, todas as possibilidades ao seu dispor para explanar a sua visão do assassinato de John F. Kennedy, sobretudo através da direcção de fotografia, orquestrada por um dos principais nomes do ramo, Robert Richardson (um habitual colaborador de Quentin Tarantino).
Nesta longa sequência, em que o Promotor Público Jim Garrison (Kevin Costner) especula desenfreadamente sobre o que realmente aconteceu em Dallas a 22 de Novembro de 1963, somos brindados com todo o género de técnica e equipamento cinematográfico existente: sequências filmadas de ângulos diferentes, alternância entre o sépia das cenas no tribunal com o rígido preto e branco de flashbacks encenados, constantes zooms in e out... Em suma, uma miríade de recursos fílmicos que "assaltam" os sentidos (e poder de julgamento) do espectador.
4. O ASSASSÍNIO DE JESSE JAMES PELO COBARDE ROBERT FORD (2007), de Andrew Dominik

Roger Deakins foi injustamente privado do Óscar de Melhor Fotografia por O ASSASSÍNIO DE JESSE JAMES PELO COBARDE ROBERT FORD, uma das concepções visuais mais estonteantes e revolucionárias da presente década. E a sua cena mais memorável será, sem dúvida, esta recriação do assalto nocturno a um comboio perpetrado pelo bando do infame Jesse James.
Filmar uma cena com pouca iluminação é das tarefas mais complexas em termos de cinematografia, e Deakins consegue imprimir uma atmosfera opressiva e surreal recorrendo, apenas, à luz de lanternas de óleo e do ténue farol do comboio. Na memória cinéfila colectiva, ficam as inesquecíveis imagens de um grupo de bandidos, escondido entre os bosques, que se assemelham a fantasmas e a confiança de Jesse James/Brad Pitt a caminhar por entre o vapor da locomotiva.
3. O CONFORMISTA (1970), de Bernardo Bertolucci

Bertolucci e o seu director de fotografia Vittorio Storaro (que demonstrou "faculdades" em títulos como APOCALYPSE NOW, O ÚLTIMO IMPERADOR ou DICK TRACY) engendraram uma obra-prima visual em O CONFORMISTA, com um dos melhores usos de luz e sombra registados em Cinema. Parafraseando alguns autores, a sua fotografia é poderosa, vistosa e ressonante, servindo ideais ou propósitos específicos, reflectindo as acções da história e das personagens.
A sequência que abaixo publico, com as personagens envoltas pelo movimento da luz que atravessa as persianas da casa, tem sido abundantemente copiada e homenageada, extravasando culturas e géneros cinematográficos (eis um ou outro exemplo disso) e tornou-se, implicitamente, num ícone visual do Século XX.
2. DIAS DO PARAÍSO (1978), de Terrence Malick

Terrence Malick sempre insistiu em querer contar histórias através das imagens do filme. Toda a sua (escassa) carreira foi dominada por esse intuito, na qual se destacam A BARREIRA INVISÍVEL e O NOVO MUNDO, dois títulos que exibem um inusitado cuidado em termos de mise-en-scène.
E essa filosofia foi levada ao extremo em DIAS DO PARAÍSO. Rodado na sua quase totalidade durante a (nas palavras de Nestor Almendros, o seu director de fotografia) "hora mágica", isto é, ao nascer do sol ou no crepúsculo do dia, o "hipnotismo" das suas imagens torna-se ainda mais surpreendente pelo facto de que, à altura, Almendros estava a perder acuidade visual. Impressiona, assim, que apesar da sua enfermidade o espanhol era capaz de transmitir romantismo e beleza ao quotidiano de uma comunidade agrícola norte-americana em 1916.
1. BARRY LYNDON (1975), de Stanley Kubrick

Reconhecido unanimemente como um dos filmes mais belos alguma vez concebidos, BARRY LYNDON é um autêntico opus à arte da cinematografia, merecendo, por isso, o primeiro lugar desta lista. Na sua obsessiva busca pela perfeição a todos os níveis, Kubrick narra a ascensão e queda de Redmond Barry Lyndon recriando os ambientes nocturnos do Séc. XVIII, iluminando quase todas as suas cenas sem iluminação artificial e, numa particular sequência do excerto destacado, recorrendo apenas à luz das velas.
Para alcançar este complexo efeito — note-se que, à época, a utilização de película obrigava a abundante claridade de sets para fixar imagens —, Kubrick não se coibiu em modificar a fisionomia das câmaras de filmar e acoplar-lhes lentes usadas pela NASA para a captação de imagens no espaço. O resultado deste arrojo técnico está perfeitamente à vista...

Uma imagem de Orson Welles compondo uma cena de CITIZEN KANE — O MUNDO A SEUS PÉS através de um viewfinder "baptiza" este post dedicado aos directores de fotografia, cujo trabalho passa, muitas vezes, despercebido ao espectador. Afinal de contas, são os responsáveis pelo visual de um filme, escolhendo os tipos de película, lentes e iluminação que elevam a Sétima Arte para qualquer coisa de única e especial.
Nas cinco escolhas abaixo enumeradas, juntamente com a menção honrosa do costume, não me alonguei na descrição de aspectos técnicos (embora muito houvesse a falar sobre este item) nem privilegiei a era do preto e branco (não obstante apreciar imenso o estilo do Expressionismo Alemão ou os surreais contrastes que Federico Fellini e Roberto Rossellini empregaram). Os filmes destacados sobressaem pelo refinado trabalho de luz e cor que ostentam, a destreza técnica que exigiram e, nessa contemporaneidade, uma demonstração da homenagem que o Cinema presta ao seu próprio passado.
Sem mais delongas, partilho convosco seis bons exemplos de magnífica direcção de fotografia.
Menção Honrosa: LONGE DO PARAÍSO (2002), de Todd Haynes

É, nos últimos anos, o exemplo supremo da homenagem a um estilo, mais concretamente ao de Douglas Sirk, um dos principais autores de melodramas dos anos 50 (O QUE O CÉU PERMITE ou ESCRITO NO VENTO).
O realizador Todd Haynes recria a paleta de cores utilizada por Sirk nos seus filmes (que "personificavam" os locais e estados de espírito subjacentes ao ambiente da cena), assim como os ângulos de câmara e planos característicos da época. Também se recorreu aos mesmos equipamentos de iluminação e filtros oculares que estavam em voga na década de 50. Tudo em prol da primorosa fotografia de LONGE DO PARAÍSO que o trailer, abaixo apresentado, demonstra.
5. JFK (1991), de Oliver Stone

No que bem se poderia apelidar de "filme-tese", Oliver Stone explorou, ao máximo, todas as possibilidades ao seu dispor para explanar a sua visão do assassinato de John F. Kennedy, sobretudo através da direcção de fotografia, orquestrada por um dos principais nomes do ramo, Robert Richardson (um habitual colaborador de Quentin Tarantino).
Nesta longa sequência, em que o Promotor Público Jim Garrison (Kevin Costner) especula desenfreadamente sobre o que realmente aconteceu em Dallas a 22 de Novembro de 1963, somos brindados com todo o género de técnica e equipamento cinematográfico existente: sequências filmadas de ângulos diferentes, alternância entre o sépia das cenas no tribunal com o rígido preto e branco de flashbacks encenados, constantes zooms in e out... Em suma, uma miríade de recursos fílmicos que "assaltam" os sentidos (e poder de julgamento) do espectador.
4. O ASSASSÍNIO DE JESSE JAMES PELO COBARDE ROBERT FORD (2007), de Andrew Dominik

Roger Deakins foi injustamente privado do Óscar de Melhor Fotografia por O ASSASSÍNIO DE JESSE JAMES PELO COBARDE ROBERT FORD, uma das concepções visuais mais estonteantes e revolucionárias da presente década. E a sua cena mais memorável será, sem dúvida, esta recriação do assalto nocturno a um comboio perpetrado pelo bando do infame Jesse James.
Filmar uma cena com pouca iluminação é das tarefas mais complexas em termos de cinematografia, e Deakins consegue imprimir uma atmosfera opressiva e surreal recorrendo, apenas, à luz de lanternas de óleo e do ténue farol do comboio. Na memória cinéfila colectiva, ficam as inesquecíveis imagens de um grupo de bandidos, escondido entre os bosques, que se assemelham a fantasmas e a confiança de Jesse James/Brad Pitt a caminhar por entre o vapor da locomotiva.
3. O CONFORMISTA (1970), de Bernardo Bertolucci

Bertolucci e o seu director de fotografia Vittorio Storaro (que demonstrou "faculdades" em títulos como APOCALYPSE NOW, O ÚLTIMO IMPERADOR ou DICK TRACY) engendraram uma obra-prima visual em O CONFORMISTA, com um dos melhores usos de luz e sombra registados em Cinema. Parafraseando alguns autores, a sua fotografia é poderosa, vistosa e ressonante, servindo ideais ou propósitos específicos, reflectindo as acções da história e das personagens.
A sequência que abaixo publico, com as personagens envoltas pelo movimento da luz que atravessa as persianas da casa, tem sido abundantemente copiada e homenageada, extravasando culturas e géneros cinematográficos (eis um ou outro exemplo disso) e tornou-se, implicitamente, num ícone visual do Século XX.
2. DIAS DO PARAÍSO (1978), de Terrence Malick

Terrence Malick sempre insistiu em querer contar histórias através das imagens do filme. Toda a sua (escassa) carreira foi dominada por esse intuito, na qual se destacam A BARREIRA INVISÍVEL e O NOVO MUNDO, dois títulos que exibem um inusitado cuidado em termos de mise-en-scène.
E essa filosofia foi levada ao extremo em DIAS DO PARAÍSO. Rodado na sua quase totalidade durante a (nas palavras de Nestor Almendros, o seu director de fotografia) "hora mágica", isto é, ao nascer do sol ou no crepúsculo do dia, o "hipnotismo" das suas imagens torna-se ainda mais surpreendente pelo facto de que, à altura, Almendros estava a perder acuidade visual. Impressiona, assim, que apesar da sua enfermidade o espanhol era capaz de transmitir romantismo e beleza ao quotidiano de uma comunidade agrícola norte-americana em 1916.
1. BARRY LYNDON (1975), de Stanley Kubrick

Reconhecido unanimemente como um dos filmes mais belos alguma vez concebidos, BARRY LYNDON é um autêntico opus à arte da cinematografia, merecendo, por isso, o primeiro lugar desta lista. Na sua obsessiva busca pela perfeição a todos os níveis, Kubrick narra a ascensão e queda de Redmond Barry Lyndon recriando os ambientes nocturnos do Séc. XVIII, iluminando quase todas as suas cenas sem iluminação artificial e, numa particular sequência do excerto destacado, recorrendo apenas à luz das velas.
Para alcançar este complexo efeito — note-se que, à época, a utilização de película obrigava a abundante claridade de sets para fixar imagens —, Kubrick não se coibiu em modificar a fisionomia das câmaras de filmar e acoplar-lhes lentes usadas pela NASA para a captação de imagens no espaço. O resultado deste arrojo técnico está perfeitamente à vista...
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